Capítulo 56

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Cedar despertou quando sentiu dor no rosto.
— Cedar, acorde! - a voz cavernosa parecia vir de muito longe.
Alguém segurou o seu rosto e o balançou.
— Acorde!
Uma voz feminina soou acima dele.
— Sua fêmea precisa de você. Clara precisa de você.
Clara precisava dele? O que houve com sua companheira. Se mexeu e sentiu dor no peito. Abriu os olhos, mas estavam embaçados.
— Isso, amigo.
Reconheceu a voz de Sky. Apertou os olhos com força e os abriu novamente. Enxergou um pouco melhor. Viu o rosto de Blade acima do seu.
— Está me ouvindo?
— Sim. - levou a mão até o peito. — Dói...
— Você se lembra do que aconteceu?
Cedar engoliu em seco, confuso. Sua cabeça doía muito.
Sky se colocou atrás dele e ergueu sua cabeça, apoiando-a como um travesseiro.
— Amigo, nós vamos te levar para o Centro Médico.
— O quê? - seus olhos se fecharam, cansados.
Recebeu tapinhas no rosto e os abriu novamente. Agora enxergava  bem. Viu Creek também ajoelhada do seu lado. Mexeu braços e pernas, verificando ferimentos. E então... então se lembrou porque estava naquele chão. Arregalou os olhos e agarrou a camisa de Blade.
— Onde está Clara?
Os três espécies se entreolharam.Cedar colocou a mão no ombro de Blade e tentou se erguer.  Sua cabeça girou e deitou-se novamente.
— Calma, Cedar. - Creek aconselhou.
— Painting atirou em mim.
— Eu imaginei que fosse ele. - Sky declarou.
— Ele fugiu? Como vocês chegaram aqui?
— Confidence achou Clara muito estranha.
— Clara? Quando?
Sky apoiou as mãos no peito de Cedar e Blade falou.
— Painting buscou Clara no Clube.
Cedar arregalou os olhos  e tentou se erguer.
— O quê?
— E não sabemos para onde foram.
Cedar urrou, empurrou Sky e se ergueu num salto. Seu corpo oscilou e Creek o segurou.
— Calma, macho.
Ele fechou os olhos e respirou fundo, tentando recuperar o equilíbrio. Sky o segurou pelos ombros.
— Depois que Confidence me alertou, viemos rapidamente para cá e te encontramos.
Abriu os olhos e reparou o quanto os olhos felinos de Sky estavam escuros.
— Há quanto tempo Painting sequestrou minha mulher?
— Cerca de 30 minutos. Ele estava de motocicleta. Não sabemos quanto tempo você ficou desacordado.
Cedar mordeu os lábios lembrando que ele havia dado a moto para o macho.
— Desgraçado! Irei matá-lo e ninguém me impedirá.
— Calma. - Sky apertou os seus ombros. — Demos o alarme para toda a vigilância dos nossos limites. Ele será interceptado em algum ponto.
— Vamos. - disse Cedar.
Sky segurou seu braço.
— Você ainda não está bem. O tranquilizante ainda está circulando em seu corpo.
Cedar se encaminhou para a porta do depósito e os amigos não tiveram outra alternativa a não ser segui-lo. Ele deu a volta na clínica, ainda se sentindo tonto e viu o jipe estacionado. Pulou no banco do motorista e e ligou o carro e Sky pulou ao seu lado.
— Eu dirijo.
Cedar passou pelo banco do carona, enquanto  Creek e Blade se jogaram no banco traseiro,
Sky dirigiu na direção da vila.
— Mais rápido. - exigiu Cedar.
— Preciso seguir o  limite de velocidade imposto da colônia.
— Ignore. - apertou o joelho do amigo. — Eu estou autorizando.
Sky acelerou. Era o final da tarde e havia humanos transitando, que olhavam espantados para o jipe.
Cedar sentia uma sensação que jamais sentira: medo. Os dois seres que mais amavam no mundo estavam em perigo.
Chegaram rapidamente nos escritórios. Cedar saltou do carro e foi direto para a sala da segurança.
Vários espécies, inclusive os que não estavam de serviço no dia, estavam à espera. Cedar se dirigiu a Starlight.
— Os oficiais dos limites reportaram algum movimento?
— Não, Cedar. A moto não foi avistada.
Ele sentiu um aperto no estômago.
— Provavelmente Painting quer chegar no rio em algum ponto. A vigilância nas margens é grande, então ele tentará atravessar a floresta para fora das terras da ONE. Vamos formar uma equipe. Iremos de moto.
— Teremos que passar pela Zona Selvagem. Não podemos usar as motos.
Cedar apertou os lábios. Um dos compromissos de Homeland III era não transtornar os espécies selvagens.
— Explicarei ao Lion.
Todos ao redor olhavam para Cedar, ninguém mais do que ele preservava o bem estar dos selvagens.
— Tem certeza, Cedar?
Cedar sabia que o veículo humano incomodaria os habitantes da Zona Selvagem, mas seria a forma mais fácil de tentar alcançar Painting.
— Tenho. Forme uma equipe com 8 oficiais mais nós dois.
Blade levantou as mãos.
— Eu também irei e levarei Thainá. Clara pode estar ferida.
— Certo.
Sky pôs em movimento as ordens de Cedar e foi difícil selecionar os oficiais, pois todos os machos e fêmeas presentes queriam ir na expedição.

Clara estava enjoada quando Painting parou a moto. Imaginava que já estavam atravessando a floresta há uma hora, mas poderia ser mais pela dificuldade. Ele usava trilhas que ela nunca ouvira falar.
Ele estreitou os olhos ao olhar na direção do rio; estalou a língua parecendo contrariado. Pegou o telefone celular.
— Alô. Há oficiais no ponto de encontro... Desça o rio mais 500 metros. - Painting ouviu por um tempo maior.— Não, terei que prosseguir a pé... Minha mulher está grávida, não poderei me apressar... Sim, aguarde lá.
Clara arregalou os olhos quando ele a chamou de sua mulher. Ele se virou para ela.
— Você precisa de algo, meu amor? Água?
— Eu preciso... ir ao banheiro. Vou até ali. - falou, apontando para uma árvore.
Painting torceu os lábios.
— Precisa ficar perto de mim.
Clara franziu a testa.
— Quero fazer xixi... Não farei na sua frente.
— Minha mulher não precisa sentir vergonha de mim.
— Não sou sua mulher!
Ele inspirou fundo, olhando ao redor.
— Certo. Escolha um lugar para se aliviar. - Clara lhe deu as costas e foi para trás da árvore. — Não tente fugir.
Ela se agachou e fechou os olho, aliviada. Aquela situação era surreal! Deveria ter percebido a loucura dominando seu amigo. Ele fora cruel com ela tentando fazê-la deixar de amar Cedar, porém nunca imaginou que seria capaz de cometer um crime.
Terminou de se aliviar, tirou a calcinha e se secou. Depois se ergueu e encostou-se no tronco da árvore, procurando uma estratégia para fugir. Naquela parte da floresta a vegetação era bastante densa e o sol não atravessava as altas copas das árvores, parecendo que a noite já havia caído. Se tentasse fugir, Painting certamente a alcançaria. Pensou por um instante, pegou a calcinha e a jogou sobre um galho, torcendo para alguém a encontrar.
Voltou até a moto segurando a barriga. Painting franziu a testa.
— Está sentindo dor?
— Sim. - mentiu tentando provocar um sentimento de culpa.
— Nós caminharemos daqui.- tirou um cantil da mochila. — Beba um pouco de água.
— Não quero.
— Você pode desidratar.
Clara respirou fundo.
— Painting... Pela nossa amizade, pare com essa loucura.
— Meu amor, não há volta.
— Se desistir, Cedar será justo com você.
Ele balançou a cabeça.
— Se fizer justiça, Cedar me matará.
— Não. Eu... eu ouvi falar que o Conselho da ONE julga casos das Novas Espécies. Cedar é um Conselheiro, ele pedirá um julgamento e...
— Estarei morto no momento que Cedar me alcançar.
— Não, não... Eu pedirei por você.
Painting se aproximou dela e segurou seu quadril.
— Não há volta. - Clara tentou se afastar, mas ele a conteve.,— Era para sermos um casal agora. Esta criança deveria ser minha.
— Mas não é assim.
— Nós começamos algo e depois... E depois Cedar a tomou de mim.
— Não. Eu já estava apaixonada por ele.
Painting franziu a testa.
— Mas você me beijou.
— Me perdoe. Agi errado com você desde o início.  Eu deveria ter falado do que eu sentia por Cedar.
— Deveria, sim.
— Eu não quis te magoar e não contei para o Cedar que você...
— Ainda te amava? - ele ergueu a mão e acariciou sua cabeça. — Você sente algo por mim, por isso não contou ao Cedar.
— Painting, por favor, me leve de volta.- seus olhos se encheram de lágrimas. — Por favor.
Ele puxou um cacho crespo.
— Eu serei um bom companheiro . Mais do que Cedar; ele não gosta de humanos. E eu serei um bom pai.
— Você é uma pessoa boa. Tenho certeza que te perdoarão.
— Há muitos motivos para não me perdoarem. Justice mandará me apagar por vender nossas drogas.
Clara tentava convencer Painting, mas até ela sabia que aquilo a ONE não perdoaria. As Novas Espécies foram torturados e mortas para que aquelas drogas existissem. Vendê-las para uma farmacêutica era menosprezar todo o sofrimento daquele povo.
— Me deixe aqui. Eu seguirei de volta pelo rio.
— Não.
Painting ergueu o cantil para ela.
— Beba. Andaremos muito ainda.
Clara pegou o cantil e bebeu um pouco. As lágrimas desceram por seu rosto, contudo ela decidiu que faria de tudo para conseguir escapar daquela situação. Faria por ela e por Isaac.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora