Capítulo 35

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Estar grávida para Clara era como estar num sonho. Ainda não contara para ninguém, porque estava tão assustada quanto feliz.
Cedar lhe explicara que a gravidez de um bebê Nova Espécies durava 20 semanas. Agora, quando completava quatro semanas era tempo de contar para sua família e amigos da colônia.
Cedar, se pudesse, a proibiria de trabalhar. Queria que ela ficasse em casa se alimentando e descansando. Insistia em carregá-la no colo até o trabalho e traze-la de volta; isso duas vezes por dia, fora o horário do jantar.
Ele pesquisara sobre os cuidados na gravidez e os recitava para ela diariamente.
Pedira a ele que não contasse sobre a gravidez por enquanto, porém ele parecia explodir de felicidade e queria compartilhar com todos.
Clara tomava cuidado, claro, mas não deixava de trabalhar. Naquela manhã Emerald circulava pela clínica, como se estivesse ansiosa por algo. Clara a viu chegar enquanto alimentava os animais enjaulados para se recuperarem de doenças ou ferimentos. Emerald parou ao seu lado, com o rosto muito sério.
— O que foi? - perguntou.
— Queria te falar uma coisa.
— Fale, oras.
A mulher olhou para trás.
— É o Painting.
— O que tem?
— Ele ia pedir transferência para Homeland I. -
Clara piscou rapidamente. Não precisava perguntar o motivo, ela era o motivo.
— Quando ele te contou?
— Na semana que seria o seu casamento.
— Sei.
— Só que ele desistiu. - Clara ficou em silêncio. — Não vai me perguntar o porquê?
— Acho que não devo. Não tenho nada a ver com os assuntos dele.
Emerald apertou os lábios, olhou novamente para trás e continuou.
— Quando soube do adiamento do casamento, ele     voltou a ter esperança.
— Emerald, eu não quero saber disso. Painting sabe que eu amo o Cedar.
— Mas você ia dar uma chance a ele.
— De onde você tirou isso?
Ela torceu os lábios.
— Vocês se beijaram.
— Painting te contou?
— Não. Foi a Monique.
— Olha, não foi nada demais e o Cedar sabe disso.
— E deixou o outro macho vivo?
— Primeiro, não estamos na idade média. Segundo, eu e Cedar não estávamos juntos. E, por último, Painting aceitou minha decisão.
— Aceitou mesmo?
— Sim.
— Por que ele desistiu de partir então?
— Eu não quero saber, Emerald.
A mulher se aproximou de Clara.
— Ele é o macho certo para você.
— Não. Eu amo Cedar mais do que tudo. Sou dele.
Emerald franziu a testa.
— Você acha que deve ficar com ele porque tirou sua virgindade? Ele já fez isso antes. Comigo, por exemplo.
Clara ficou muito vermelha.
— Sei que foi numa situação extrema. E vocês são bons amigos. Por isso me senti confortável para te chamar para ser minha madrinha.
— E eu fiquei muito feliz com isso.
Terminando de alimentar os animais, Clara olhou para Emerald.
— Você e Painting são amigos íntimos. Ajude-o a entender que eu já sou a companheira de Cedar.
Emerald abaixou a cabeça.
— Com Cedar, já são três Conselheiros a se casar com humanas. Fora Justice e Fury. - ergueu o rosto para Clara, que se sentiu incomodada com o seu olhar. — Até mesmo o louco do Vengeance e Darkness, que não gostava nem do irmão, se acasalou com uma humana.
— Você é contra, Emerald?
Ela piscou e recuou um passo.
— Não, claro que não. Mas é estranho se acasalarem com seres que odiavam.
— Eu não  acredito que eles odiassem todos os humanos.
— Odiavam, sim. Por isso ninguém entendeu que Cedar te reivindicou.
— É normal ficarem surpresos.
— Muitos espécies são contra esses acasalamentos. O próprio Justice foi atacado por causa disso.
— Eu não sabia.
— É um segredo para os humanos. É difícil um espécies confiar neles.
Clara nunca havia pensado que seu casamento poderia ser condenada pelo povo de Cedar. Emerald balançou a cabeça.
— Não tem medo que Cedar um dia se arrependa?
— Como assim?
— Ele é o líder da nossa colônia e você é tão frágil.
— E isso é defeito?
— Ele pode se abalar por seu acasalamento não ser aprovado por outros espécies e sentir falta do sexo com fêmeas espécies.
Clara se arrepiou até os cabelos da cabeça. Era verdade que Cedar não gostava de humanos e que ela era muito frágil, entretanto nunca pensara que aquilo poderia ser impedimento para sua união.
— Por que está me falando todas essas coisas, Emerald?
— Porque sou sua amiga e quero muito que seja feliz.
— Eu serei muito feliz com Cedar.
A outra deu um olhar incrédulo.
— Se você pensa assim...
— Te agradeço pela preocupação, mas está tudo certo para meu casamento. E já sou acasalada com Cedar.
Com um olhar muito triste, Emerald a encarou.
— Espero que você esteja certa, minha amiga.
— Eu estou. - afirmou, mas se sentiu estranhamente em dúvida. Balançou a cabeça e tentou tirar os pensamentos ruins da cabeça. — Quer me ajudar a dar vitamina E para os pintinhos?
Emerald deu um sorriso.
— Quero.
— Então, vamos.
Clara mudou o rumo da conversa, mas não conseguiu esquecer as opiniões da amiga.

Cedar estava atarefadíssimo. Recebera o balanço da produção agrícola e da criação de animais da colônia e, de acordo com eles, estavam lucrando bastante com sua agricultura e avicultura  orgânicas vendidas para Rio Branco. Era um modo de propiciar trabalho prazeroso para alguns espécies e fazê-los se sentirem produtivos para a ONE.
Mais cedo lhe entregaram o resultado do curso de luta corpo a corpo oferecidos pelos espécies ao Exército e policias militar e federal. Toda a renda adquirida era, como os lucros obtidos dos alimentos orgânicos, direcionadas à manutenção de Homeland III.
Seu próximo empreendimento seria adquirir mais vacas leiteiras e começar a produzir laticínios. Uma equipe de Rio Branco fora trazida para ensinar as técnicas e Renovation, um primata muito interessado, se destacara e seria o responsável. Só se lamentava porque não estaria na colônia para ver a implantação da indústria.
Faltava apenas dois meses para voltar para Homeland. Sky já estava sendo treinado para assumir a liderança e estava se saindo muito bem. Tinha um sentimento agridoce pela partida. Sentiria falta da colônia que dirigira desde a sua fundação, contudo ao mesmo tempo ansiava voltar para seu antigo trabalho e para a Reserva. Seu filho nasceria ali.
Naquela última semana fora difícil se concentrar no trabalho. Tudo em que conseguia pensar era em sua companheira e filho. Ele os protegeria e cuidaria deles. Ele e Clara revezariam no cuidado com seu bebê para que ela cumprisse o seu trabalho por algumas horas. Ficava emocionado em pensar nele e Clara com um bebezinho nos braços.
Sua companheira era humana, mas ele sentia-se feliz por seu filho ser espécie. Seria mais seguro.
Há dias sugeriam um ao outro nomes para o bebê, desde Velocity, ideia dele, até Surprise, ideia dela. Riam disso enquanto ele tentava cheirar seu filho.
Uma batida na porta afastou seus pensamentos felizes .
— Entre.
Cedar ficou surpreso ao ver Mount entrando.
— Olá, Cedar.
— Olá, Mount. Posso te ajudar?
O macho o olhou tristemente.
— Pode me ajudar a ser transferido para a Noruega?
— Você teve a chance de voltar à Homeland. Por que isso agora?
Mount abaixou a cabeça.
— Eu tinha a esperança de ficar com Cristal.
— Não estão juntos?
Mount ergueu a cabeça.
— Ela quer Oak, não a mim.
— Não entendo. Ela e Oak eram exclusivos, estavam decidindo se acasalar e ela compartilhou sexo com você.
— Eu a provoquei.
— Isso não é desculpa.
— Ela me disse que se sentia sufocada por Oak, não queria se acasalar.  Eu a desafiei a me provar que não estava submissa ao macho.
— E compartilhar sexo com você foi a forma dela provar?
Mount balançou a cabeça.
— Fêmeas são estranhas, Cedar. Ontem ela me disse que sentia atração por mim, mas amava o Oak.
Cedar franziu as sobrancelhas. Aquilo era incompreensível para ele.
— A fêmea não te quer?
— Ela disse que ama o Oak, que eu fui uma loucura que cometeu.
Cedar sentiu-se muito incomodado com o que Mount dizia.
— Acha que ir para a Noruega te ajudará?
— Não sei, mas preciso me afastar de Cristal. É demais para mim.
— Certo. Eu falarei com o Conselho hoje.
— Obrigado, Cedar.
Cedar acompanhou o macho sair do escritório de cabeça baixa. Mount amava Cristal também.
Sem entender o motivo, Painting viera à sua mente. Não achava que tinha que aceitar o que aquele espécie sentia por Clara, porém imaginava como seria se ela não correspondesse ao seu amor.
Enviou uma mensagem para cada Conselheiro, solicitando uma reunião. Pelo menos aquilo podia fazer pelo macho sofredor.
Voltou ao trabalho com a sensação de que havia perdido algo do que aquela situação com Mount lhe causava.
Agradeceu ao Deus dos humanos por Clara ser dele.
Minha.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora