Capítulo 44

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Justice observava através da tela do seu notebook o semblante sério e carregado de Cedar. Na última vez que conversaram ele estava muito feliz com a gravidez de Clara. Todo o Conselho se alegrara com ele.
Agora, porém não havia nenhuma alegria no rosto do seu amigo.
— Não entendi. Quer prorrogar sua partida?
Sim.
Mesmo passando a liderança para Sky?
Isso mesmo.
Justice viu curiosidade nos rostos dos outros Conselheiros.
Sua companheira está impossibilitada de viajar. - perguntou Brawn, da Reserva. — No início da gravidez Becca teve algumas complicações.
— Clara não pretende viajar comigo.
— Ela teme ficar longe da família? - River fez um olhar de compreensão.
Justice não fez perguntas; apenas observou Cedar.
— É um assunto complicado.
Direto de Washington, Jaded fez uma expressão de conhecimento.
— Elas ficam muito sensíveis durante a gravidez. Cecília chorava de saudades dos pais e eles tiveram que ir para Homeland antes do parto.
Brawn, Jaded e River, que tinham filhos, dispararam conselhos para Cedar. Justice os interrompeu.
— Um momento, irmãos. - olhou fixamente para o quadradinho onde aparecia o rosto de Cedar. — O que aconteceu com Clara? Ela perdeu a criança?
Cedar franziu os lábios e demorou um instante para responder.
Ela me deixou.
Justice ouviu diversas exclamações de surpresa. Cedar as recebia com o rosto impassível, mas o olhar sério.
Justice não esperava nada parecido. Cedar estivera muito feliz nos últimos meses. Antes,, não conseguia ver no amigo um macho acasalado e ficara muito surpreso com sua união com uma humana. E agora isso!
— Silêncio.- pediu com firmeza. Esperou os outros machos se acalmarem. Você quer falar sobre isso?
Então, deixando Justice e o Conselho estáticos, Cedar resumiu as duas últimas semanas. Justice notou que Jaded e Brawn mostravam estar mais desconfortáveis. Quando Cedar se calou, o silêncio atravessou as distâncias entre cada Conselheiro.
Bestial quebrou o silêncio.
Isso não existe, Cedar.
Cedar fez uma expressão de sofrimento.
Te asseguro que é verdade.
Bestial balançou a cabeça, porém não retrucou.
Veja... - Jaded começou. — Cecília também me abandonou, mas tudo ficou bem depois.
— Vocês não eram acasalados ainda, Jaded. - interviu River.
— Mas já nos amávamos.
Cedar abaixou a cabeça e Justice percebeu sua enorme tristeza.
— Eu já fiz Jessie sofrer e foi por uma estupidez minha. - Cedar não levantou o rosto. — Ela me perdoou, amigo.
Observou Cedar erguer a cabeça lentamente.
Ela disse que eu poderei ver Isaac, mas não quer ter nenhum contato comigo.
— O nome do bebê é Isaac? - perguntou Brawn. — É um nome humano, não é?
Cedar respondeu.
Clara escolheu; significa riso.
Todos os machos fizeram silêncio. Justice também não sabia como reagir. Aprendera que as fêmeas humanas eram muito sensíveis.
— Não entendo, Cedar. Você é o mais sensato entre nós. - Bestial comentou. — Todos agimos com impulsividade demais e , com certeza, temos dois ou três instáveis aqui.
— Fale por você, amigo. — cortou River.
Não foi você que imitou o Vengeance e roubou sua companheira?
River teve a humildade de corar.
— Ela só precisava ficar um pouco sozinha comigo para se decidir.
E ficou cinco dias inteiros se escondendo do Conselho?
É, foi sequestro. — completou Jaded.
Bestial bufou.
Sequestro é mais terrível do que arrancar o coração de um homem com testemunhas?
— Ele feriu minha, fêmea. Você faria o mesmo.
Justice silvou.
— Você provou o seu ponto, Bestial. Já chega. - respirou fundo. — Bestial tem razão, Cedar. Você é o mais sensato de nós.
Não fui com Clara. Desde o início. - passou a mão pelo pescoço. — Eu não deveria tê-la tomado. É mais jovem que eu, nunca havia compartilhado sexo com um macho e é pequena e frágil. Fui egoísta e ganancioso.
Ela te ama? - Brawn perguntou.
Dizia que me amava com todas as suas forças.
Então vá atrás da sua fêmea. Ela te perdoará.
O olhar de Cedar mostrava incredulidade.
— Use o tempo que precisar, Cedar. Mostre a ela que a ama tanto que temia perdê-la e é totalmente inseguro do seu amor.
Todos fizeram comentários concordando. O olhar de Cedar parecia mais tranquilo.
Eu ficarei na esperança de convencê-la, Justice.
— Acredito que o Conselho concorda com você.
De fato, todos concordaram e ainda ficaram alguns minutos motivando Cedar a recuperar sua fêmea.
Quando Justice terminou a teleconferência, ficou um longo tempo refletindo. Jaded sempre tivera razão; os espécies enlouqueciam quando amavam uma humana.
Sentindo-se muito humilde, pegou o telefone e ligou para sua companheira. Incenssantemente, ela devia ter a certeza do seu amor.

Clara lavava a ferida na pata de Pintada. Ela não sabia como aquela onça se metia em tantos problemas!
Painting preparava uma injeção de antibiótico.
Desde sua conversa, há duas semanas, ela se mostrava cordial, mas distante. Clara achava que era melhor; não queria dar qualquer tipo de esperança para ele.
Seu celular tocou, mas não tinha como atender e Confidence estava lendo do lado de fora.
— Quer que eu veja quem é? - Painting perguntou.
— Tudo bem.
O homem pegou o celular de cima de um armário,olhou o nome e atendeu. Clara franziu a testa com o gesto dele.
— Alô... Sim, sou eu... Ela está ocupada... Eu aviso.
Painting encerrou a ligação  com o semblante fechado.
— Quem era? - perguntou, incomodada.
Ele cruzou os braços.
— Cedar.
O coração de Clara acelerou.
— Por que atendeu, Painting?
— Achei que devia. - Painting franziu as sobrancelhas. — Para dizer que estava ocupada.
— Não devia ter atendido.
— Você queria falar com ele?
— Não, mas a decisão teria que ser minha.
Ele manteve o olhar sério.
— Desculpe. - pediu, porém não parecia arrependido.
Clara balançou a cabeça, chateada.
— Não gostei do que você fez.
Painting descruzou os braços.
— Pensei em você.
— Você devia ter deixado o telefone tocar.
Ele colocou o celular de volta no armário.
— Desculpe. - repetiu.
Clara respirou fundo e continuou o serviço. Painting se aproximou.
— Gostaria de conversar com você. - ela terminou de limpar a ferida e passou uma pomada antiinflamatória. — Pode me dar atenção, Clara?
— Pode falar.
— Você está tão distante. - Clara pegou a gaze e colocou sobre a ferida. — Mal nos falamos.
— Eu acho que é melhor assim. - pegou a atadura.
— Melhor para quem?
Ela enfaixou a pata de pintada.
— O antibiótico está pronto? - Painting pegou uma seringa e entregou para ela. Clara injetou a medicação na veia do animal. — Pode levar a Pintada para a jaula?
— Ela ficará de muito mau humor quando acordar. Fica transtornada na jaula.
— É o melhor para ela.
Painting pegou a onça com cuidado e saiu do consultório pela porta dos fundos. Clara inspirou com força.Gostava tanto do seu amigo, entretanto não queria voltar a falar de sentimentos; já errara uma vez. Limpou a mesa e retirou as luvas.
O que Cedar queria? Será que gostaria de notícias  sobre a gravidez? Não gostara de Painting atendendo o telefone, pois imaginou o que Cedar pensou. Ele com certeza acharia que ela e Cedar estavam íntimos. Afinal achara que eram amantes!
A tristeza tomou conta do seu coração. Ele deveria saber que ela o amava acima de tudo!
Painting voltou para o consultório, foi para a pia e lavou as mãos. Clara caminhou em direção à porta, pretendendo ir para o consultório.
— Clara. - ele chamou. Ela se virou.
— Oi?
— Podemos conversar?
— É sobre o trabalho?
— Não. É sobre nós.
— Estamos bem, Painting.
Ele secou as mãos.
— Quero falar sobre um assunto que vem me incomodando. - Clara observou o amigo. Ele parecia tenso e ela não sabia se queria ouvi-lo. — Sei que prometi que não voltaria a falar sobre isso...
— Então, não fale.
— Preciso falar. - ele se aproximou dela. — Sei que Cedar te machucou demais e eu vi você sofrendo nas últimas semanas.
— Painting...
— Eu sei que você não o quer mais. - Clara suspirou. — E sei que você merece ser feliz. - ele deu outro passo. — Por favor, me dê uma chance.
Clara ergueu as sobrancelhas.
— Amigo... Não.
— Eu disse ao Cedar que ele era o único em sua vida. E eu sei que isso é verdade.. - ela deu um passo para trás e ele estendeu as mãos. — O que te peço é poder te entregar o meu amor.
— Estou esperando um filho dele.
— E ele tem direito a estar na vida do seu filho, mas... Eu quero criar essa criança com você. Quero ser seu companheiro, seu marido. Por favor, me dê uma chance.

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