Capítulo 11

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A festa perdera a graça para Cedar completamente. Sentia-se incomodado e confuso. Incomodado por saber que magoara tanto uma fêmea e confuso porque a beijara.
Há semanas Clara não saía de sua cabeça. Ouvia sua voz, lembrava de seu rosto... Como passara da indiferença ao desejo?
Sabia da idade dela, mas se sentia tão mais velho... Clara tinha 28 anos, mas parecia ter muito menos. De acordo com os médicos, ele  já teria mais de 40  anos, porém sua aparência não mudara desde que fora libertado. Ele, Justice e Brawn pareciam um pouco mais velhos que os outros, mas ainda assim mostravam rostos de uns trinta anos. Aquilo incomodava os humanos que acreditavam numa conspiração das Novas Espécies para dominar o mundo. Eram mais fortes, mais resistentes, mais rápidos, mais inteligentes e , descobriam agora,  pareciam não envelhecer.
Como se envolver com aquela mulher que se assemelhava a uma garota? Ela era tão animada, esperta e um pouco doidinha em se comparando com sua seriedade.
Fora um beijo vagaroso, sensual e que o excitara muito. Sua vontade era de pega-la no colo e correr para sua cabana. Ele lhe daria seu corpo e prazer.
Então quando Verity aparecera, ele fora forçado a refletir sobre o que fazia. Tinha a certeza que aquele macho ardiloso do Painting enviara a fêmea para encontrá-los.
Ele a deixara ir, contudo não ficara feliz. Nunca desejara ter um relacionamento estável, muito menos com uma humana.
De volta à festa a vira sentada no mesmo lugar, quieta, apesar de todos conversarem.
Chegara a hora de homenagear Fiber e Aruana. Ele agradecera toda a dedicação de Fiber nos últimos dois anos e comentara o sucesso das publicações de Aruana sobre as Novas Espécies. Quando convidara todos a brindar ao casal vira alguns olhos úmidos, a começar por Aruana.
Todos se aproximaram do casal. As fêmeas trocaram abraços com Aruana e os machos cumprimentaram Fiber.
Durante todo o tempo, Cedar não deixara de olhar Clara. Sentira vontade de rosnar quando vira como Painting estava próximo dela.
A música recomeçara e machos e fêmeas o procuraram para esclarecer alguma dúvida e assim uma boa hora se passara.
Agora, tentava prestar atenção ao prefeito de Santa Rosa. O homem desejava realizar um dia de visitação a Homeland III a cada quinzena. Cedar queria negar de uma vez, mas o prefeito era muito simpático às Novas Espécies e resolveu ao menos ouvir o homem.
Então viu Verity sair do salão com o filho do prefeito. Seus olhos saltaram para a mesa de Clara e viu que nem ela nem Painting estavam lá. Correu os olhos pelo salão e mordeu o lábio inferior ao não os ver. Saíram juntos?
O prefeito fez alguma pergunta e ele apenas respondeu.
— Está tudo bem.
O homem abriu um sorriso imenso.
— Será maravilhoso! Poderemos começar com as escolas.
— Ahn... Claro.
— Mandarei os detalhes por e-mail. Amanhã mesmo!
O homem fez mais comentários e ele apenas acenou com a cabeça. Depois se despediu e saiu.
Cedar caminhou até a mesa para falar com Estela. Alguém entrou na sua frente.
— Onde vai esse macho com esse olhar feroz? - perguntou Emerald, passando os braços por seu pescoço.
— Viu Painting?
—Ele estava sentado com Clara.
— E onde ela está?
— Com ele, imagino. - Cedar procurou se controlar. Ele não tinha nada a ver com a vida pessoal de Clara, apenas com sua vida profissional. — Precisa falar com ela?
— Não. É que vi a Verity saindo com um macho.
— O militar? É, eles já se encontraram antes.  - apertou seu abraço. — Mas ela está segura com Painting.
— Claro.
— Você está sempre trabalhando; parece o Justice.
— É por que há muito trabalho.
— Mas você pode relaxar um pouco comigo, não pode? - Emerald ronronou. — Faz muito tempo...
Cedar já compartilhara sexo com a fêmea algumas vezes em Homeland, mas não ali na colônia. Eles tinham uma história juntos e eram bons amigos. Achava-a muito atraente, porém naquela noite não sentia nenhum desejo.
— Obrigado, Emerald, mas estou muito cansado.
— Eu não disse? - ela o soltou. — Quem sabe outro dia?
— É, quem sabe?
Ela acariciou o seu rosto e se afastou. Cedar se perguntou se estava tão cansado assim para recusar algumas horas de prazer. Ele queria, era verdade, mas com outra fêmea.
Olhou tristemente para a mesa onde ela estivera. Tivera várias oportunidades de se aproximar dela, mas deixara passar. Àquela hora  já devia estar nos braços de Painting buscando o que ele lhe negara. A ideia de que seu amigo seria o primeiro macho na vida de Clara o enfureceu de uma maneira que o surpreendeu.
Respirou fundo e se voltou para o seu povo. Faria o que fazia de melhor, trabalhar.

Clara  sentira dor de cabeça e depois do brinde à Aruana e Fiber decidira ir embora. Quando procurara por Verity viu-a dançando agarrada a um rapaz alto e escuro. Só podia ser o filho do prefeito!
Painting se oferecera para acompanhá-la e ela aceitara. Caminharam devagar para o dormitório feminino. Painting desenvolvera uma conversa agradável e ela o acompanhou.
— Posso te fazer uma pergunta, Clara?
— Pode.
— Cedar te propôs algo?
— Cedar? Não.
Ele a olhou atentamente.
— Eu vi vocês dois saindo do Clube.
— Cedar queria encerrar uma conversa.
— Uma conversa íntima?
Clara devolveu o olhar ao novo amigo.
— Isso é particular, Painting.
Ele ficou calado. Chegaram ao dormitório vazio e ele segurou sua mão.
— Posso entrar com você? Sei fazer uma massagem muito boa que vai te relaxar.
Clara o observou. Ele era tão bonito, com seus olhos redondos de primata. Os cachos louros formavam uma linda moldura para o seu rosto. Sabia que ele estava interessado por ela e se sentia lisonjeada. Emerald lhe contara que era tido como muito carinhoso pelas fêmeas com quem compartilhara sexo.
Não aceitava muito bem aquele costume entre as Novas Espécies, teria muitos ciúmes. Mas de Painting não sentia.
Ele a puxou para dentro do dormitório e a abraçou.
— Desejo você desde o primeiro dia que te acompanhei.
— Não foi pela curiosidade científica? - brincou.
— Foi. Por você, uma humana.
Painting ergueu a mão e acariciou seu rosto.
— Eu te acho tão bonita... - mexeu em seus cabelos. — Adoro como seus cachos balançam quando você anda. - Clara queria aceitar as palavras dele. Tinha certeza que um relacionamento com Painting seria prazeroso e divertido. — Você gosta de mim, Clara?
Ele segurou seu rosto com as mãos e ela se lembrou de outro homem segurando-a daquele jeito.
— Eu gosto de você, Painting, mas...
Ele se inclinou e a beijou. Clara foi pega de surpresa e não reagiu. Ele se encostou nela; Painting era forte e seu corpo era muito quente.  Clara abriu os lábios, deixando que a língua dele entrasse. Era rugosa e quente como a de Cedar, mas não sentiu o que sentira pelo outro homem. Cedar parecia ter se entranhado nela.
Ainda assim, deixou que o beijo continuasse. Abraçou Painting e esperou que seu corpo queimasse como mais cedo.
Ele afastou a boca um instante.
— Eu te quero muito, Clara. Me dê uma chance de te agradar.
Por que não? Ele é especial e gosta de mim ...
Pensou se teria coragem de ir em frente com ele. O que havia para impedi-la? Já era hora de viver novas experiências.
Painting roçou os lábios nos dela.
— Me leva para o seu quarto. - ele pediu, mordendo os seus lábios. - seu telefone tocou, assustando os dois. Sentiu um frio na barriga ao pensar que poderia ser Cedar. — Não atenda.
— Pode ser algo sério. - pegou o aparelho. — Emerald. Tudo bem?
Você está no dormitório?
— Estou.
Com Painting?
Clara hesitou.
— Sim.
Cedar perguntou por você.
— Perguntou?
Eu disse que você saiu com Painting. Tem problema?
Não, eu saí mesmo.
Bom, se não tem problema... Ele pareceu insatisfeito.
— É?
Como aqueles pais de filmes. - deu uma risada. — Acho que ele esqueceu que você é uma fêmea saudável com um macho forte.
— Não é bem assim, Emerald.
Mas não vou te atrapalhar mais. Aproveite!
Emerald desligou e Clara ficou olhando para o celular. Cedar perguntara por ela e achara que estava com Painting? E ele não gostara? Pensamentos giraram em sua mente e só pararam, por que Painting segurou seu rosto.
— Ei, eu ainda estou aqui.
— Ah, me desculpe.
Ele fixou o olhar no dela.
— Eu ouvi o telefonema. - Clara piscou  os olhos, sem saber o que dizer. — Está pensando no Cedar?
Ela respirou fundo.
— Tenho que ser sincera com você. Estou, sim.
Painting largou seu rosto vagarosamente.
— Ele quer você?
— Eu não sei. Acho que não.
— Mas você o quer. - Clara abaixou os olhos, sem jeito. Ele respirou fundo. — Se você o quer não irei te atrapalhar.
— Me desculpe, Painting.
Ele deu um passo atrás.
— Eu estarei por perto. - deu um sorriso que não chegou aos olhos e saiu.
Clara foi para o seu quarto. Sua vidinha na colônia acabara de ficar muito complicada.

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