Capítulo 63

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Clara estava há dois dias de repouso. Uma obstetra viera de Rio Branco para tratá-la. Depois da ultrassonografia, a médica mudou sua medicação e recomendou repouso absoluto. Logo não havia mais sinal de sangramento e cólicas.
Naquela tarde, recebera de Sky a maravilhosa notícia de que Cedar voltaria para Homeland III. Não compreendeu totalmente, mas Sky dissera que Cedar recebera medicamentos específicos para Novas Espécies e terminaria o tratamento na colônia. Thainá, infelizmente, continuava em coma. Blade estava em Rio Branco e, junto de mais oficiais, guardava a UTI onde estava a médica. Lion passara para uma pequena cirurgia e estava revoltado por precisar se recuperar na colônia.
Clara nem mesmo se ressentia de que naquele dia seria sua segunda tentativa de casamento. O único bônus daquele acontecimento era que seus pais e irmãos estavam ali.
Seus pensamentos foram interrompidos pela chegada da enfermeira Sueli.
— Trago uma ótima notícia!
— O quê?
— O helicóptero está trazendo o senhor Cedar!
Clara sentou-se.
— Já estão chegando?
— Estão.
A alegria fez seu coração acelerar. Segurou o ventre.
— Viu, bebê? O papai está chegando!
Acariciou a barriga, desejando que Isaac pudesse sentir a sua alegria.
Quando levantou os olhos deu com a enfermeira a encarando.
— Aconteceu mais alguma coisa? - perguntou alarmada. — A doutora Thainá... ela...
Sueli negou com a cabeça.
A última notícia que recebi é que ela está estável.
— Que susto! - colocou a mão no peito. — A senhora estava com uma expressão...
— Bem, na verdade, eu estava me perguntando sobre a fascinação que as mulheres sentem pelos Novas Espécies.
Clara franziu as sobrancelhas.
— A senhora não aprova?
— Não é isso. Logo que a colônia começou seis funcionárias se casaram e duas tiveram bebês deles e agora mais três estão grávidas. Isso sem contar você.
— É um problema?
— Não me leve a mal, porém acho tudo rápido demais. Alguns relacionamentos levaram só uma semana para se concretizar. Como saber se darão certo?
— Alguém se separou?
— Não.
— Então deram certo.
— Mas o que faz as mulheres quererem casar com esses... bom, homens diferentes.
— Só posso responder por mim. - ela se deitou. — Cedar é muito intenso e essa intensidade me envolveu de uma maneira que eu não pude evitar. Me apaixonei na primeira semana depois que cheguei.
— E eles são tão diferentes assim?
— São mais protetores. Sua prioridade passa a ser sua companheira e filhos.
A enfermeira coçou a testa.
— Quando cheguei na colônia toda a construção estava pronta. Eles chegaram e... eu fiz um preparatório para trabalhar com eles, mas eram muito, muito impressionantes. Davam medo. - ela sorriu. - Depois vi que, apesar de parecerem ferozes e de gostarem de armas, agiam como crianças em algumas ocasiões.
— Eu também acho que se parecem com crianças às vezes.
— O senhor Cedar e o senhor Fiber pareciam bem maduros.
— Conheci pouco o Fiber, mas o Cedar é bem maduro.
Sueli lhe deu um olhar de lado.
_ É mesmo?
Um oficial parou à porta.
— Enfermeira, posso entrar?
— Do que se trata?
— O helicóptero está pousando. - o coração de Clara deu um salto.
— Está bem.Vou ficar em prontidão. - virou-se para Clara. — E você, não saia dessa cama.
Clara concordou com a cabeça, contudo se pudesse receberia Cedar no pouso. Sueli saiu com o oficial e ela respirou, fundo.
Ficou deitada, observando as partículas de poeira flutuando num facho de sol. Enrolava a ponta do lençol no dedo sem parar.
Algum tempo depois, ouviu vozes animadas e, por fim, o nome de Cedar. Sentou-se, o coração aos pulos.
Sky entrou na enfermaria empurrando uma cadeira de rodas e Clara deu um gritinho. Cedar a olhava intensamente, o rosto muito pálido.
— Cedar! - ele sorriu para ela. — Meu amor! - a cadeira avançou e Clara estendeu os braços. Cedar se levantou. — Não, meu amor, não levante.
— É claro que me levantarei. - ele se debruçou sobre ela e a abraçou. Clara chorou, agarrada a ele. — Calma, querida, eu estou aqui.
Sky se retirou silenciosamente. Cedar ficou um tempo apenas a acariciando e murmurando palavras de amor e segurança.
Depois se afastou dela.
— Preciso sentar. - ele puxou a cadeira para perto da cama e se sentou. Estendeu a mão e segurou a dela. — Deite-se, meu amor.
Clara se recostou, sem largar a mão dele.
— Mas como... como você está aqui? A cirurgia...
— Nós temos drogas especiais. E curamos mais rápido.
Ela soluçou, as lágrimas ainda rolando.
— Eu tive tanto medo...
— Eu estou bem.
— O tiro... eu achei que você ia morrer.
— Está tudo bem. Esqueça o que aconteceu.
Ela puxou a mão de Cedar e a beijou. Cedar acariciou sua barriga.
— E o Isaac? - perguntou receoso. — Ele está bem?
— A obstetra disse que ele está bem e eu preciso de muito repouso.
Cedar estendeu a outra mão e Clara esfregou o rosto nela.
— Achei que demoraria muito para te ver.
— E eu pensei que não te veria mais. - ele pousou a cabeça no peito dela. — Quando acordei no hospital, meu primeiro pensamento foi para vocês.
Clara acariciou os cabelos castanhos que amava tanto.
— Estamos juntos agora.
Clara ficou em silêncio, apenas usufruindo da presença do seu homem.
Seus olhos pesaram e, apesar de querer ouvir novamente a voz del, eles se fecharam e dormiu, aliviada.

Cedar sabia que estivera à beira da morte. E sabia que Clara quase perdera o seu filho. Por isso, ignorou a dor que sentia no abdômen e caminhou para o quarto individual guardado por dois oficiais. Sky fora contra sua ida ali, mas precisava ir.
Deixara Clara adormecida e se erguera da cadeira de rodas com muita dificuldade, mas o que faria precisava ser feito em pé.
Sky ofereceu o braço para se apoiar, mas ele não quis.
Os oficiais o receberam com sorrisos e cumprimentos nas costas.
— Toda a colônia está satisfeita com sua recuperação e retorno, Cedar.
— Eu estou satisfeito em voltar. - seu rosto endureceu. — Como ele está?
Um oficial rosnou baixinho.
— Está acordado como você pediu.
— Tentou fugir?
O outro oficial respondeu.
— Pela janela quando acordou, mas havia um trio de oficiais do lado de fora. Não parou de andar desde que acordou.
— Ele grunhi e ruge; parece que está louco. - disse o primeiro oficial.
Cedar colocou as mãos nos ombros dos espécies.
— Entrarei agora.
— Cedar. - começou Sky. — Mesmo com as nossas drogas, você ainda está muito fraco. O Conselho te proibiu de matá-lo.
— O Conselho não entende .
— Entende, sim, mas quer que você haja com civilidade.
— Prefiro deixar meu lado animal prevalecer.
— Não permitirei que entre, então.
— Quero apenas conversar com ele.
Sky negou com a cabeça, porém não falou mais. Um oficial abriu a porta e Cedar parou à entrada.
Painting já estava em posição de luta. Com certeza sentira o seu cheiro. Havia hematomas em seu rosto; Sky contara que ele lutara muito depois que o tiraram do rio.    Precisaram amarra-lo na viagem de lancha e o sedaram logo que o trouxeram para o Centro Médico.
Painting silvou, mostrando as presas.
— Não vim lutar, macho. - comunicou Cedar.
— Claro que não. Está muito fraco.Eu quase te matei.
Cedar deu um passo para dentro do quarto.
— Mas não matou.
— Lamento muito por isso.
Cedar franziu as sobrancelhas.
— Você sempre foi um macho corajoso, mas controlado. Como se  tornou um covarde?
— Covarde? Eu não te matei por sorte sua.
— Covarde, sim. Você sequestrou minha mulher grávida; ela poderia ter perdido a criança.
— Seu filho, Cedar.
— Faria isso com Clara?
— Eu faria de tudo para consola-la. Eu lhe daria muitos filhos.
Cedar deu um arremedo de sorriso.
— Acha que ela te deixaria tocá-la?
— Com o tempo.
— Eu a marquei. Nunca mais deixará outro macho perto.
— Não  tenha tanta certeza disso. Antes de você força-la, ela foi minha.
— Não, não foi. Clara me quis antes mesmo de te conhecer.
Painting rosnou.
— O que veio fazer aqui, Cedar, se não veio me matar?
— Tripudiar.
— O quê?
— Tripudiar sobre você. - Cedar colocou o peso do corpo na perna direita. — Você desejou Clara. Aconteceu, o quê? Um beijo? Para mim ela se deu toda. Me desejou tanto que ofereceu sua virgindade a mim.
— Você...Você não a merece!
— Pode ser, mas é o  meu filho que ela carrega. Ele crescerá e será igual a mim; Isaac será a prova viva do amor que sentimos.
— Ela teria sido minha se eu conseguisse fugir, ela esqueceria você e...
— Nunca. Eu a marquei. Eu a possuí de todas as formas e farei isso por toda nossa vida de casal. Ela grita o meu nome quando goza. - Painting arregalou os olhos e rosnou, apertando os punhos. — Ela choraminga querendo mais. Porque eu sou tudo para ela.
Rosnando com ferocidade, Painting saltou para cima de Cedar. Os dois oficiais pularam na frente de Cedar e agarraram o macho felino.
— Lute comigo, Cedar! Não se esconda atrás de outros machos!
Cedar sorriu, dessa vez amplamente.
— Eu irei matá-lo, não se preocupe. Eu só quero que viva um pouco mais vendo como Clara me ama. O corpo dela é meu, seus pensamentos são meus. Toda sua vida será minha. - Cedar sentiu o local do tiro doer mais. — E você viverá para ver isso até que eu decida te matar.
Painting se revirava nos braços dos oficiais. Seus olhos estavam esbugalhados, a beleza do seu rosto se transformou numa feia máscara de ódio.
— Eu te odeio!
— Quero que veja o quanto eu e minha companheira seremos felizes.
— Eu vou te matar! - ele rosnava e sua boca espumava.
Cedar o olhava, com um sorriso cínico no rosto. Ficou um tempo apenas observando o macho se consumir em ódio.
— Basta. - os oficiais o olharam. — Já tive o que queria.
Cedar deus as costas à cena e saiu do quarto ouvindo Painting gritar palavrões.
Sky o esperava no corredor; olhou-o com admiração.
— Você o matou, Cedar.
— Ainda não. Mesmo que o Conselho não permita, eu ainda lutarei com ele e o matarei.
— Você não precisa disso. O macho está sofrendo o bastante.
Cedar deu de ombros. Estendeu a mão e se apoiou no braço do amigo.
— Ajude- me a voltar para Clara.
— Claro, irmão.
Cedar caminhou devagar, cada passo como se fosse uma facada no seu abdômen. Queria matar Painting, contudo Justice e o Conselho queriam que Painting fosse para a prisão Fuller. Enquanto isso o deixaria sofrer de amor.
Um dia eu o matarei. - pensou, controlando a fera dentro de si. Por enquanto.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora