Desviando da vegetação e galhos caídos, os oficiais forçavam suas motocicletas o máximo possível contra o terreno irregular, parando quando precisavam abrir caminho na mata fechada.
Cedar ia na frente, furioso com as dificuldades para a locomoção. A cada minuto seu coração apertava mais, imaginando que Painting já houvesse alcançado o rio.
Freou a moto quando ouviu algo parecido com um grito. Ergueu a mão num sinal para que todos parassem.
— Cedar!
Ele arregalou os olhos. Era um grito e era da sua mulher. Saltou da moto e correu na direção de Clara, sem verificar que os outros machos o seguiam. Rompeu os grossos cipós com as próprias mãos; Lion estava jogado no chão com panos manchados de sangue sobre o ombro e peito. Antes de tocar o espécie viu um movimento à esquerda. Virou o rosto e viu Painting sair correndo, com Clara no colo.
— Cedar! - ela gritou novamente quando o viu.
Cedar soltou um urro e voltou a correr. Painting era um felino veloz e saltava, ultrapassando as barreiras com facilidade, mesmo com uma carga a mais.
— Painting! - Cedar gritou, sentindo a visão ficar desfocada. Ouviu rosnados e rugidos atrás dele; seus oficiais estavam perto.
— Cedar! - a voz de sua companheira soou apavorada.
Painting deu um salto e desapareceu. Cedar forçou os músculos da perna e chegou a uma ribanceira. Abaixo, em outra ribanceira, Painting parou e olhou para os lados, parecendo não saber o que fazer. Com um salto, Cedar desceu próximo a ele.
— Solte a minha mulher! - gritou, expondo totalmente suas presas.
— Recue!
— Chega, macho! - ele estendeu os braços para pegar Clara.
— Se não se afastar, pularei no rio!
— Você não é tão idiota.
Os outros espécies chegaram até eles. Painting deu um um passo para trás e Clara arfou.
— Quer que eu pule? Eu não sei nadar. Não poderei salvar Clara.
Cedar racionalizou a situação. Painting parecia ter toda a certeza que pularia. O barranco era muito alto para Clara cair em segurança. E o rio era profundo; Clara sabia nadar, contudo aquele macho louco poderia puxá-la para o fundo, além de precisar lutar contra a correnteza.
— Cedar... - Clara estava muito pálida. — Estou sentindo dor.
As narinas de Cedar inflaram.
— Me dê ela.
Painting desceu as pernas de Clara e ela ficou em pé, revirando-se, tentando se soltar. Cedar estendeu de novo os braços.
— Pare, Cedar! - Painting rosnou.
— Apenas deixe Clara vir. Está com dor.
— Ela é minha!
— Não. Sabe que não é.
— Ela foi minha antes de você!
— Nunca foi sua. - deu mais um passo. — Me entregue, Clara.
Painting puxou a mochila e tirou uma arma. Clara gritou quando ele a apontou para Cedar.
— Ela não será sua se estiver morto.
— Atire em mim e todos os espécies aqui pularão sobre você.
— Se me alcançarem.
— Cedar... - chamou Sky.— Podemos alcançá-lo.
Painting recuou mais um pouco e ficou perigosamente à beira da ribanceira.
— Não. - Cedar rosnou.
Clara gemeu e seus joelhos se dobraram. Cedar respirou fundo.
— Deixe-a, Painting. Ela precisa ser cuidada.
— Eu cuidarei dela. O barco logo chegará aqui.
Os oficiais se colocaram numa meia lua, dois muito próximos de Painting. Cedar respirava com dificuldade, o medo tirando sua capacidade de raciocinar.
Para o espanto de todos, Painting encostou o cano da pistola na barriga de Clara.
— Não! - gritaram Clara e Cedar ao mesmo tempo.
— Se ela não for minha, não será sua.
Clara segurou o braço de Painting.
— Não machuque o meu bebê, por favor... - implorou, chorando.
— Você quer matá-la? - Cedar tentou se controlar para não saltar sobre ele, os olhos escurecidos pelo ódio.
— Quando o barco chegar, eu quero que me deixem embarcar. Com Clara.
— Eu vou estraçalhar você, macho.
— Eu sei disso. Por isso partirei com minha mulher.
Cedar soltou um urro e foi segurado por Sky.
— Meu amigo, espere. Nós resolveremos isso.
Clara deu mais um gemido e se agarrou nos braços de Painting.
— Clara? - ele virou o seu rosto. Ela estava com os lábios descorados.
— O bebê... - ela sussurrou. — Está acontecendo alguma coisa...
— O quê?
Sky agarrou-se mais à Cedar e Blade se juntou a ele, prendendo os seus braços.
— Me soltem!
Painting mostrou todo o seu descontrole.
— Eu pularei com ela! Já disse!
Clara soltou os braços de Paint e, apertando a barriga, chorou, assustada.
— Painting, por favor... Meu bebê...
— Cedar, se controle... se controle... - Sky pediu.
— Eu vou matar você! - Cedar gritou e Starlight se ajoelhou à frente dele e abraçou suas pernas.
Blade rosnou para o macho transgressor.
— Deixe-a. Ela odeia você.
Painting corou violentamente.
— Eu a levarei. Cuidarei dela.
— Te daremos um tempo para fugir. É mais do que você merece.
— Não! - Cedar gritou. — Ele está morto!
Painting olhou para Clara, mostrando confusão e preocupação. À sua frente os três espécies se esforçavam para conter Cedar.
— A doutora Thainá está cuidando de Lion, mas ela pode cuidar de Clara. Deixe-a.
— Mande ela vir aqui.
— Já disse, está com Lion.
Cedar pegou Clara no colo e se sentou, a arma ainda apontada para a barriga dela.
— Eu esperarei.
Blade encostou a boca no ouvido de Cedar.
— Precisa se controlar, meu amigo. Depois de Justice, você é o melhor de nós. Seja o nosso líder agora.
— Eu o matarei.
— Pode fazer isso depois de soltarmos Clara.
Cedar se conteve, a frustração de não poder fazer nada o atormentou.
— Isso. - Blade sussurrou. — Agora quero que volte e veja se Thainá pode vir.
— Não deixarei Clara.
Sky imitou Blade e falou.
— Se você sair ele se sentirá mais seguro e nós o surpreenderemos.
— Eu tenho que salvar minha companheira.
— O que importa é que ela seja salva.
Cedar procurou normalizar sua respiração. Sempre fora controlado, sério, mas desde que se apaixonara por Clara sua vida virou de cabeça para baixo.
Olhou para ela, encolhida no colo do miserável e sentindo dor; seu filho podia estar sofrendo também. Respirou fundo, uma, duas vezes.
— Podem me soltar.
Os três espécies se entreolharam. Sky assentiu com a cabeça e os outros dois soltaram Cedar.
— Clara. - Cedar chamou e ela ergueu a cabeça. — Meu amor, trarei a doutora Thainá. Espere por mim.
Clara fungou, as mãos sempre no ventre.
— Eu te amo.
O coração de Cedar doeu.
— Eu te amo, minha fadinha.
Painting silvou e Cedar respondeu mostrando as presas.
— Vá, Cedar. - Sky pediu.
Com uma dor no peito, Cedar deu um longo olhar para sua mulher e se virou. Olhou para seus amigos.
— Eu a confio a vocês. Se algo acontecer, não irei perdoá-los.
Os três espécies apenas inclinaram a cabeça. Cedar subiu a ribanceira rapidamente e correu de volta onde ficara Lion.A cada passada pensava na sua companheira. Ela era tão delicada, mas muito corajosa. Esperava que ela fosse forte o bastante para vencer aquela loucura.
Enxergou a doutora Thainá ajoelhada ao lado e dois espécies o manterem sentado. Chegou mais perto e a médica estava inserindo uma agulha no braço do amigo. Um dos espécies segurava um frasco de soro.
Thainá ergueu a cabeça, espantada com sua chegada.
— Como ele está?
— Ah... Contive a hemorragia e estou administrando líquidos. Mas eu trouxe o material pensando em Clara.
— Ela precisa de você.
A doutora arregalou os olhos.
— Ela está ferida?
— Ela sente dor. Na barriga.
— Por que não a trouxe?
Cedar rosnou e a médica estremeceu.
— Painting a está prendendo.
— Oh!
Thainá ficou um tempo olhando para Lion. Arfou quando o macho abriu os olhos e silvou.
— Aquele macho... onde está?
— Tenha calma.
Cedar se agachou e Lion arregalou os olhos.
— Sua companheira, ele a levou?
— Está com Painting.
— Eu matarei ele.
— Não se preocupe. Eu farei isso.
A médica interveio.
— Ele precisa ir para o Centro Médico. - olhou para os dois espécies. — Conseguem levá-lo de moto?
— Daremos um jeito.
Minutos depois, Lion foi preso por um cinto no motorista de uma das motos. O outro os seguiria, preparado para algum imprevisto.
Thainá verificou o pulso de Lion mais uma vez e falou para o espécie que o carregaria.
— Sei que ele é forte, mas tentem chegar no menor tempo possível.
Os dois motociclistas se afastaram e a médica virou para Cedar.
— Agora vamos ajudar Clara.
Pegou a bolsa médica e a pendurou no ombro. Começou a caminhar, entretanto soltou um gritinho quando Cedar a colocou no colo.
— Segure-se, doutora.
Cedar começou a correr. Seu estômago estava todo contraído e sentia enjoo, entretanto ignorou o mal estar e dirigiu-se para o rio. Sua mulher estava ali e precisava dele!
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...