Capítulo 65

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Cedar não conseguira tirar os olhos de Clara. Ela estava tão linda! Agora muito mais com a barriga proeminente. Só prestara atenção na cerimônia quando a noiva chegara ao tablado.
Oficiara seis casamentos desde  a fundação da colônia e aquele estava sendo muito especial. Conhecia bem a história de Blade com a companheira de Jaded e depois que se apaixonara por Clara sentia compaixão pelo macho. Como irmão, estava satisfeito por ele ter o que Clara chamava de final feliz.
Quando a cerimônia terminou aproveitou para conversar com o padre.
— Cedar! - ouviu o chamado de Confidence.
Virou o rosto e levou um susto. Clara estava debruçada e Confidence a segurava. Pulou sobre o tapete e em três passadas as alcançou.
— Clara! - exclamou, tirando-a de Confidence.
Ela ergueu o rosto e ele viu que sofria. Sentiu um cheiro forte que vinha dela.
— O que houve?
— A bolsa...
— Estourou?
A resposta dela foi um gemido. Ele sabia que a gestação de suas crianças era de 20 semanas, mas era muito cedo para o seu filho nascer. Cedar a pegou no colo e Clara abraçou seu pescoço. Ouviu Confidence gritar.
— Doutor Bishop!
Curiosos, alguns espécies se aproximaram. Ele começou a correr para o Centro Médico, mas o médico apareceu e acenou para ele.
— Espere! - virou-se para Confidence. — Corra na cozinha e peça uma faca afiada e álcool.
— Não entendo!
— Eles saberão o que fazer! Vá! - Bishop segurou o braço de Clara.— Como estão as contrações?
— Uma... em cima... da outra.
— Cedar, vamos para o Clube! - indicou o médico. Encarou Cloud que olhava para Clara de boca aberta. — Você! Corra ao Centro Médico e diga para prepararem a UTI neonatal.
Cloud disparou e Cedar fez o mesmo desviando das pessoas ao seu redor e tomando todo o cuidado, percorreu o curto caminho até o Clube, agora sentindo o cheiro forte de sangue.
Chegou na construção e foi direto para a sala de recreação onde já havia muitos convidados para a festa do casamento. Clara o soltou, segurou o ventre e  gritou.
— Calma, amor, calma. - ele   repetiu, correndo para o escritório.
Chutou a porta enquanto a porta e entrou. Deitou-a no sofá e arregalou os olhos ao ver a grande mancha vermelha no vestido de sua mulher. Lembrou-se de quando Painting tentara seauestrá-la.
Balançou a cabeça. Não queria pensar no macho naquela hora tão difícil. Agora ele estava na Reserva, controlado pelos selvagens, pois o Conselho ainda não decidira o que fazer. Por Cedar, Painting estaria morto.
Clara deu mais um grito e arqueou as costas. Cedar sentou-se e colocou a cabeça da companheira no colo. Ela estendeu as mãos e ele as agarrou, segurando-as no peito.
— Calma. - pediu sem saber o que dizer.
Bishop chegou esbaforido, seguido por Verity e alguns espécies.
Verity ajoelhou-se a segurou o rosto de Clara
— Vai dar tudo certo. Você verá.
Bishop segurou o ombro da fêmea.
— Precisa me dar espaço.
Verity pulou e esbarrou em dois espécies.
— O que estão fazendo aqui?
— Queremos ver.
Um terceiro, parecendo muito animado, passou à frente do companheiro.
— Podemos ver o seu filhote nascer, Cedar? - perguntou, enquanto mais dois entraram e outros se comprimiam na porta do cômodo.
Cedar rosnou para eles, as presas brilhando.
— Saiam! - ordenou com a voz cavernosa.
— Não é justo. Só queremos...
Verity deu um empurrão no macho.
— Caiam fora, todos vocês!
Ela distribuiu tapas e chutes para todas as direções, até que o grupo saiu para o salão.
Confidence atravessou a porta e apareceu com a faca e uma garrafa de álcool.
O doutor Bishop, deu uma olhada no rosto pálido de Clara. Estendeu as mãos  para Confidence.
— Derrame bastante álcool. - ela derramou e ele as esfregou. — Somos nós agora. - o médico pediu licença e ergueu o vestido de Clara. — Vou examiná-la agora. - disse, olhando para Cedar.
Cedar assentiu, tendo um déjà vú. Novamente Painting passou por sua cabeça; ele forçara seu amor a ser examinada em público.
. O doutor apoiou a mão aberta sobre o ventre grávido. — Vai sentir uma pressão, mas está  tudo bem, ok? - ele tocou Clara e ela fechou os olhos, assustada. — Tente relaxar, não faça força.
Ela apertou as mãos de Cedar que beijou o topo da sua cabeça.
— Dará tudo certo, amor.
Bishop  terminou o exame e sua mão estava coberta de sangue.
— Clara. - chamou e ela abriu os olhos. — Seu colo do útero está totalmente dilatado. O bebê  nascerá a qualquer momento.
Ela balançou a cabeça.
— Não pode ser, doutor. - falou com a voz transtornada pela dor. — Está muito cedo.
Ergueu as sobrancelhas.         — Este garotão decidiu não esperar sua hora.
Cedar sentiu o coração desfalecer. Iria acontecer mesmo, Isaac nasceria antes do tempo!
O médico estendeu a mão e Confidence derramou mais álcool. Depois, pegou a faca e a lavou com o líquido.
— Cedar, preciso da sua camisa. - o doutor Bishop pediu e olhou para Verity .— Moça, vá lá fora e consiga camisas limpas.
Verity disparou para a entrada do salão. Lá havia mais espécies do que havia antes.
— Prestem atenção! Preciso de camisas limpas, nada de suor!
Diversas espécies tiraram as camisas e entregaram à ela.
— Aqui! - ela estendeu as camisas.
O médico pegou as camisas, forrou entre as coxas de Clara e colocou as outras ao lado.
— Cedar, sente-se com Clara entre suas pernas.
Cedar se mexeu e se sentou com Clara amparada em seu peito.
Clara se inclinou para a frente e gritou. Ele engoliu em seco ao ver mais sangue sair dela. Olhou para a porta e depois para Verity.
— Feche a porta, por favor.
A fêmea foi até a entrada, puxou a porta e um múrmúrio se levantou do grupo, porém ela fechou a porta assim mesmo.
O doutor Bishop ergueu o vestido de Clara até o peito. Ela gritou e sua barriga endureceu.
— Isso. Seu bebê quer nascer, ajude-o.
Cedar se arrepiou quando Clara fez força; ela era tão pequenina que parecia que ia partir ao meio de tanta dor...
A porta abriu novamente e Verity saltou para impedir a entrada dos espécies curiosos, porém eram Thainá e Blade.
— Bishop, como está?
— O bebê começou a coroar.
Thainá se inclinou e olhou entre as coxas de Clara.
— Precisa de ajuda?
— Vá para o Centro Médico e espere o bebê lá.
— Certo. - ela se virou para o marido. — Blade, me leve.
Ele a pegou no colo e, abrindo caminho entre a pequena multidão à porta, saiu para o salão. Verity bateu a porta com força.
Clara se debruçou para a frente, fazendo força.
— Já posso ver o bebê. Faça um pouco mais de força.
Cedar sentiu Clara ficar gelada. Bishop olhou para o rosto dela.
— Clara, fique comigo. Só falta um pouco.
Mas ela não respondeu. Cedar sentiu o corpo desfalecer em seus braços.
— Clara! - Cedar gritou, erguendo o rosto da sua mulher. Ela estava de olhos fechados e a boca flácida. — Clara! - olhou para o médico, alarmado.
Bishop exclamou para Confidence.
— Lave as mãos com álcool, rápido! - Verity pegou a garrafa de Confidence e derramou o álcool em suas mãos.— Agora, venha cá.
Cedar respirava tão aceleradamente que suas narinas ardiam.
— Doutor! - ele chamou.
Bishop puxou Confidence para o sofá. Ela arregalou os olhos e Cedar sentiu o coração disparar.
— O que é?
Bishop o ignorou e falou com a fêmea.
— Qual é o seu nome?
— Confidence.
Bishop deu um meio sorriso
— Nome perfeito. Está vendo a cabeça da criança? — Confidence concordou silenciosamente. — Quando começar a sair, você vai puxar devagar, mas com firmeza.
— Eu... eu não posso.
— Pode, sim. - ele se levantou. — Eu vou empurrar e você vai puxar.
Ela e Cedar perguntaram ao mesmo tempo.
—  O quê?
Bishop se ajoelhou, colocou o braço direito no alto do abdômen de Clara e empurrou para baixo.
— Agora, Confidence!
Cedar segurou os braços da companheira, desejando que ela acordasse.
— A cabeça!- Confidence exclamou.
— Isso! Segure com as duas mãos e puxe.
— Eu irei machucá-lo!
— Não vai, não. Agora!
Bishop pressionou mais uma vez e Confidence gritou. Cedar  quase pulou e abraçou Clara com mais força.
Confidence arquejou e o médico se levantou.
— Isso, garota poderosa! Deixe comigo agora.
Confidence se afastou e Cedar arfou quando Bishop ergueu  o bebê e o segurou no braço. Enfiou o dedo dentro da boca da criança com as sobrancelhas franzidas. Cedar achou que havia algo estranho quando o médico virou o bebê de bruços e deu tapas leves nas costas.
— O que foi? - perguntou achando que seu coração estouraria.
O doutor Bishop virou novamente o bebê e colocou a boca sobre a boquinha e soprou.
Só então Cedar descobriu o que havia de errado. Seu bebê não chorou, não se moveu, não demonstrou nenhuma reação.
Sentiu o coração apertar mais um pouco e os olhos arderam. Não podia acreditar que depois de passarem por tantas dificuldades, ele e Clara perderiam o fruto do seu amor.

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