Cedar foi surpreendido pela declaração de Peace. O garotinho era muito observador, porém não sabia de onde ele tirara aquela ideia. Largou o cotovelo da senhorita Domingues como se desse choque.
— Peace! - Estela chamou a atenção do filho. Todas na mesa riram e o menino estendeu os bracinhos para ele. — Não, senhor. Vai terminar de comer.
— Me dá comida, tio Cedar?
— Não. - falou Estela. — Tio Cedar não é igual o tio Fiber. Não estou falando mal, Aruana.
— Eu sei. Fiber faz todas as vontades desses garotos.
Cedar interrompeu a conversa.
— Quero apresentar nossa nova veterinária, Clara Domingues.
As quatro mulheres a cumprimentaram e se apresentaram para a veterinária. Rosângela os convidou para sentarem juntos.
— Não jantarei agora. Estou esperando Verity. - olhou para Clara e apontou uma cadeira. — Você pode se sentar aqui.
Cedar percebeu que a mulher o encarou com um olhar estranho. Deveria ficar com ela?
Para salvá-lo da situação, Verity entrou no Clube, chamando a atenção dos machos humanos com a pele bronzeada e os longos cabelos louros quase brancos.
Clara olhou admirada para Verity.
— Olá, Cedar. Me desculpe o atraso, mas precisava tomar um banho. - virou-se para Clara. — Olá, humana.
Clara olhava Verity embasbacada.
— Olá.
— Serei sua escolta das 18 horas até as 22 horas. Seu sono será guardado pelas oficiais do dormitório.
— Que bom.
Verity se abaixou e beijou cada criança.
— Aruana, posso segurar Elo?
— Claro.
Verity pegou o bebezinho que dormia.
— Me desculpe, Clara Domingues, mas não vejo este bebê desde ontem. - ela esfregou o nariz na cabecinha de cabelos arrepiados. — É um presente para todos nós.
Cedar olhou Clara. Ela observava a cena com os olhos arregalados. Detestava como os humanos olhavam para os espécies.
— Sente-se. - falou para ela e ela se sentou.
Verity deu um sorriso.
— Clara Domingues, eu jantarei com você.
A humana o olhou novamente. Cedar observou-a. Diferente de muitas humanas ela não tinha medo dele. Então, por que o olhava tanto?
Verity devolveu Elo para o bebê conforto.
— Vamos, Clara? O bufê tem todo tipo de comida. Clara se levantou e seguiu Verity. Cedar a acompanhou com os olhos.
Que mulher estranha. Observou o corpo frágil envolvido num vestido fluido. A saia descia suavemente sobre os quadris estreitos, mas ele notou novamente que as nádegas tinham um desenho bonito; a bainha do vestido dançava entre as coxas esguias e usava sandálias.
Cedar balançou a cabeça percebendo que se distraíra. Quando se virou, quatro pares de olhos o observavam atentamente.
— Com licença.
Caminhou para a saída do refeitório. Quando chegou na porta olhou para trás; a humana se servia do bufê. Saiu despreocupado; ela estaria segura com Verity.
Voltou para os escritórios pensando em trabalhar mais um pouco.Clara não tinha pensado antes, mas percebera que o senhor Cedar parecia não gostar muito da sua companhia. Mas como poderia ser, já que a conhecera naquela tarde?
Sentiu uma mágoa a incomodando. Ele notara o seu interesse e preferia ficar longe dela?
Decidiu aproveitar o excelente jantar. Nunca havia comido carne de caça e adorou o assado de capivara.
Verity falou bastante, fazendo muitas perguntas sobre o Rio de Janeiro, suspirando ao dizer que gostaria de conhecer as praias cariocas.
Clara simpatizou com as esposas dos Novas Espécies. Todas as quatro pareciam muito orgulhosas dos seus filhos com características alteradas.
De repente se tocou quem era Aruana.
— Você é a repórter que fez a reportagem para a Many Tribes?
— Sou.
— Eu adorei a sua reportagem!
— Que bom que gostou.
— E é esposa de um Nova Espécie! Ele apareceu na reportagem?
— Sim. Em fotografias também.
— Qual foto?
— Os lutadores.
Clara ficou encantada. Fora a fotografia que mais a impactara. Olhou para o bebê e teve a certeza de quem era o pai.
— É uma foto linda. O bebê também. - olhou ao redor. — Todas as crianças são lindas.
Um garotinho de longos cabelos castanho-claros sorriu para ela.
— Eu sô lindo.
— Você é. Qual é o seu nome, menino lindo?
— Órion.
— Que nome lindo!
— Ele ainda não fez dois anos. - Rosângela falou. — Toriba também. - falou olhando para um menino ruivinho.
— Mas... pensei que eles tinham uns três ou quatro anos.
Estela riu.
— Meu filho acabou de fazer quatro anos.
Clara olhou para o menino esperto.
— Que interessante!
Enquanto jantava, Clara participou da conversa das mulheres. Quanto mais ouvia sobre as Novas Espécies, mais fascinada se sentia.
Aruana pediu licença e se levantou. Uma mulher Nova Espécie muito alta e bonita pegou o bebê conforto. Olhou-a atentamente.
— E você, quem é?
— Sou a Clara, a nova veterinária.
— Muito prazer. Sou Firmness.
— Olá. - Clara ficou impressionada pela estranha beleza das mulheres Novas Espécies.
As outras mães também se prepararam para sair. Três mulheres muito altas apareceram. Clara não as tinha visto até então. Duas pegaram Órion e Toriba no colo. Outra deu a mão à Peace. O garotinho se soltou e foi até Clara. Fez sinal para ela abaixar a cabeça e cochichou no seu ouvido.
— Você é a linda do tio Cedar.
O cochicho foi ouvido por todos. Uma mulher de cabelo curto olhou para ela.
— Você é a fêmea do Cedar? Não sabia que ele estava com uma humana.
— Não, não sou.
Estela estalou a língua.
— Meu filho é um enxerido!
Clara sorriu e deu tchau para o menino que saiu trotando.
— É um menino lindo!
Verity sorriu.
— Fomos feitos para sermos atraentes.
— Mas as crianças...
— São cópias dos pais. Filhos de machos nascem machos.
— Não nascem meninas?
Verity deu um sorrisinho.
— Recentemente duas fêmeas acasaladas com humanos tiveram pequenas fêmeas. Quando eu for de férias para Homeland as visitarei. - Verity terminou de comer o seu terceiro bife. Limpou os lábios e pegou o celular.
— Anote o meu contato se precisar falar comigo fora de hora.
Clara olhou para as mãos.
— Estou sem o celular. E para falar a verdade não lembro de estar com ele no dormitório.
— Não faz mal. Me dê o seu número; darei um toque para ver se alguém atende.
Clara recitou o número e Verity digitou na tela do aparelho. A mulher colou a orelha no aparelho.
— Oi... Sim... É o telefone de Clara Domingues... Sei... Vamos para aí ... Não, vou com ela agora e voltamos direto para o dormitório...- ela ouviu por um tempo maior. Olhou para Clara e franziu os lábios. — Ela não precisa ver você... Tá, tchau.
Clara franziu a testa. Quem estava com o seu telefone e não queria que ela o visse? Uma desconfiança surgiu e esperou Verity falar.
— O celular ficou no escritório de Cedar. Agora veja que coisa engraçada, eu disse que iríamos lá e ele achou que você não queria vê-lo.
— Eu?
— Deve pensar que você tem medo dele.
Verity confirmou o que havia pensado. Cedar não queria era vê-la. Sentiu o rosto esquentando. Era tão repulsiva a um Nova Espécie assim? Ele ficara pouco com ela, não a conhecia. Então, por que a antipatia gratuita?
— Vamos lá e depois voltaremos para o Clube. Vão passar o novo Velozes e Furiosos.
Clara acompanhou Verity para fora do Clube; a mulher foi a apresentando aos funcionários a medida que saíam. Do lado de fora a noite já não parecia tão encantada.
Sua mente insistia em viajar para o passado. Na escola os meninos a chamavam de varapau e as meninas zombavam dos seus cabelos louros, mas muito crespos. Mais tarde, na faculdade, seu jeito desengonçado lhe valera muitos olhares de zombaria.
Somente aos 19 anos tivera o primeiro namorado e ele a fizera pensar que era um privilégio estar com ele. Ele a convencera a fazer musculação, alisar os cabelos e usar sutiãs de bojo. Sentindo-se incapaz de alcançar tudo o que ele queria, ela terminou com ele. O rapaz dissera que ela não arrumaria outro como ele.
Aos 23 anos se apaixonara por um colega de trabalho. Era tão desengonçado quanto ela, mas depois de alguns meses de namoro a trocara por uma veterinária sexy.
O último namorado fora aos 25 anos. Era inteligente, carinhoso, mas inseguro e carente. A tratava mais como mãe do que namorada. Por fim ela não conseguira segurar as questões dele e terminou o namoro.
Então, simplesmente decidira curtir a vida. Trabalhou em vários lugares que lhe deram ricas experiências, fez especializações, viajara muito e se cercara de amigos.
Agora aos 28 anos era para não se abalar por um homem, um homem-fera, achá-la desinteressante.
Chegaram no escritório e ela decidiu que daria ao senhor Cedar a mesma medida de antipatia que demonstrara por ela.
Verity a levou pelos corredores na direção do escritório dele. Virou-se de repente.
— Clara, bebi muito refrigerante. Estou apertada pra ir ao banheiro. Pegue o celular e me encontre aqui.
— Mas...
Verity apertou as coxas, acenou para ela e correu para o banheiro algumas portas trás. Clara olhou para a porta desanimada. Bateu e ouviu uma voz abafada.
— Entre, Verity.
Erguendo o nariz arrebitado, abriu a porta, preparada para o olhar de desfeita do seu empregador.
Entrou na sala, pisando firme, se esforçando para seu 1,61 metros o impressionarem. Parou e seu queixo caiu.
No meio da sala o senhor Cedar segurava o seu celular. Usava apenas a bermuda do uniforme, peito nu e liso mostrando todo o seu tamanho. Estava descalço e ela admirou os pés grandes. Foi subindo os olhos por suas pernas musculosas e parou por um instante no botão aberto que deixava ver seu umbigo; passou pelo abdômen trincado e alcançou aquele peitoral imenso. Ele era todo bronzeado!
Sentiu uma pontada no baixo ventre e logo um calor se espalhou por ali, descendo até sua intimidade.
Sentiu-se paralisada.
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...