Capítulo 40

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Verity contou à Clara sobre a chegada de Cedar. Explicou que Creek havia interferido e o acalmado um pouco. Clara ficou alarmada por saber que ele ainda estava no dormitório.
Não suportava a ideia de vê-lo. Cedar partira seu coração em pedaços minúsculos que ela imaginava que nunca mais se uniriam.
Cedar entendia seu jeito desastrado, tentava diminuir sua insegurança e a proibia de sentir-se pequena e nada atraente. Ela o desejara desde o primeiro instante que o vira. Saber que ele era o líder da colônia não diminuíra sua fascinação por ele e quando, numa reviravolta feliz, ele a tomara para si, Clara podia apenas se sentir realizada.
O adiamento do casamento a desanimara, porém a descoberta da sua gravidez suplantara tudo. Ela e Cedar já eram felizes e o bebê aumentou a certeza de que eram para ficarem juntos.
Essa certeza dur- Euou até aquela noite.
Não podia acreditar que o seu amor, seu companheiro duvidara da sua fidelidade. Ela era totalmente dele; como acreditar que ela se entregaria a outro amando-o tanto.
— Você não acha, Clara, que devia ao menos ouvir o que ele tem a dizer?
— Não quero ouvir mais nenhuma palavra de Cedar.
— Eu só penso que...
— Por favor, Verity... Me deixe agir como acho certo.
— Está bem. - Verity se remexeu. — Quer passar a noite aqui?
— Eu posso?
— Claro que pode.
— Pedirei a Creek um apartamento. Talvez o meu ainda esteja vazia.
Verity a olhou alarmada.
— Não pretende voltar para casa?
— Não.
— Mas vocês são acasalados! Não há separação!
— Eu sou humana.
A mulher estava com os olhos arregalados.
— Você não pode fazer isso. Cedar nunca aceitará.
— Ele não pode me forçar.
— E o bebê? Vocês terão um filho.
— Que Cedar pensou que fosse de Painting.
— Ele estava inseguro por tudo que Emerald disse.
— Ele não tinha que acreditar. - um soluço escapou de sua garganta. Ela sentia uma dor imensa no peito.
Verity franziu a testa, mostrando tristeza.
— Será a primeira vez que um casal acasalado vai se separar. Nós tivemos casos em que o companheiro ou a companheira foram mortos e um que a fêmea não amava o macho, mas ela morreu de doença.
Clara se deitou novamente, exausta de chorar. Verity sentou ao lado dela e acariciou sua cabeça.
— Vou pegar roupas para você tomar um banho. E precisa comer um pouco.
— Não quero comer.
— Você precisa... pelo bebê.
Clara acariciou o ventre. As lágrimas tornaram a rolar por seu rosto.
— Ele perguntou de quem era o filho... Ele perguntou para mim.
Seu choro se tornou um lamento doloroso. Verity passou os braços por seus ombros, procurando consolá-la.
Alguém bateu na porta e Clara enrijeceu o corpo.
— Vou ver quem é. - disse a amiga.
Verity saltou até a porta e saiu do quarto. Clara sentou na cama, tensa. Não queria ver Cedar!
Ouviu vozes na saleta e logo Verity voltou para o quarto trazendo Creek.
— Olá, pequena Clara.
— Oi, Creek.
— Cedar está no meu quarto.
— Não sabia que você mudou para cá.
— Não mudei. - Creek sentou-se na cama. — Estão consertando o telhado da minha cabana.
— Ah...
— Isso foi bom, pois pude conversar com Cedar. - Creek lhe deu um olhar sério. — Ele me contou o que aconteceu. - Clara abaixou os olhos, envergonhada. — Ouça, eu conheço Cedar desde que fomos libertados. Ele sempre foi sério e sensato. Como muitos de nós, aprendeu a tolerar os humanos. - olhou bem para Clara. — Por isso fiquei surpresa por ter reivindicado você.
— Porque sou insignificante?
— Por ser humana.
Clara entendeu Creek, mas não sabia aonde queria chegar.
— Cedar é como Justice, um pai para todos nós. Nunca falou sobre o que sofreu em Mercille e sempre o respeitamos por isso. Ele ter você foi algo surpreendente para nós, mas ficamos felizes, pois ele estava feliz.
— O que tem isso com o que aconteceu?
— Ele tinha medo de perder você.
— E me acusou de infidelidade!
— Por insegurança.
Clara balançou a cabeça, incapaz de entender Cedar.
— Eu quero que ele vá embora. Diga para Cedar que sou uma fêmea sendo incomodada por seu antigo companheiro. Peça a ajuda do líder de Homeland III.
— Clara... - Creek começou, mas Clara manteve o olhar firme.
Verity se dirigiu à amiga.
— Ela está pedindo a ajuda do nosso líder. Você é a responsável pelas mulheres. Deve falar com ele.
Creek ergueu as mãos.
— Isso está muito difícil para mim. Cedar é um Conselheiro, acima dele só há o Justice. E você é companheira dele, Clara.
— Não sou mais.
Verity e Creek se entreolharam. Verity acariciou os cabelos de Clara.
— Eu já te disse; separação não existe entre espécies.
— E eu já te disse que sou humana.
Creek cruzou os braços e permaneceu observando Clara, que reparou na sua confusão.
Clara voltou a abraçar o travesseiro. A tristeza que sentia era profunda, porém a raiva também a dominava. A decepção com Emerald somente ampliava a dir.
— Por favor, Creek, procure o nosso líder e peça ajuda para mim.

— Diga para Cedar que sou uma fêmea sendo incomodada por seu antigo companheiro. Peça a ajuda do líder de Homeland III.
Cedar encarava Creek enquanto ela transmitia fielmente as palavras de Clara.
Seu coração batia fortemente e sua mente disparava em várias direções. Em todas perdia Clara.
Sua companheira usara de inteligência. Como líder da colônia ele deveria atender ao pedido de uma pessoa sob a sua proteção. Não podia se negar a a ajudar Clara. Mesmo que fosse contra ele mesmo. Respirou fundo.
— Creek, diga a ela que como líder a ajudarei. - Creek se virou, na expectativa de sair. — Mas diga que como líder de Homeland III tenho o dever e o direito de falar com ela.
— Ela não quer, Cedar.
— Se você não disser, eu mesmo direi.
— Certo, espere um pouco.
Sua amiga saiu e ele continuou em pé na saleta, os punhos apertados. Suas mãos latejavam onde ele cravara as unhas e estava coberto de terra de quando pulara em Painting.
Somente em Mercille vivera uma angústia como aquela. Naquela ocasião ele vomitara sangue, pois o forçaram a ingerir alguma medicação que o ferira por dentro. E era assim que se sentia, ferido por dentro. Só que ele mesmo se ferira.
Creek voltou rapidamente. Cedar prendeu a respiração. A amiga colocou as mãos na cintura.
— Ela disse que te ver é a última coisa que quer fazer. E que, como líder, você deve cuidar do bem-estar dela e do bebê.
— É meu bebê também.
Creek o encarou e Cedar se sentiu recriminado.
— De acordo com as palavras dela, você não tinha certeza.
Cedar sentiu aquelas palavras batendo em seu peito. Como fora irracional! Seus instintos mais básicos falharam. Ele deveria saber que Clara jamais mentiria para ele.
Creek pigarreou.
—,Com todo o respeito que tenho por você como Conselheiro e meu líder, te peço: Vá para casa , Cedar. Espere o assunto esfriar.
— Não posso. Clara precisa me perdoar.
— Seja sensato como sempre foi e dê um tempo a ela.
Cedar não queria dar tempo, queria ficar do lado de Clara. Recolhendo o restinho de dignidade que lhe restara, acenou para Creek e saiu, de cabeça baixa.

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