Clara caminhava de volta para a vila. Junto com Emerald e Painting havia passado algumas horas à beira do rio. A praia era pequena, porém diversos Novas Espécies estavam ali.
Ela ficara impressionada com a beleza dos corpos daqueles seres. As mulheres eram todas altas, magras e de músculos tonificados. Os homens eram uma tentação para qualquer mulher. Havia poucos de pele dourada e outros quase negros, porém a maioria tinha a pele de um bronze profundo.
Perto deles se sentiu minúscula e apagada. Como olhar para ela se haviam mulheres deslumbrantes?
Ainda estava magoada por Cedar. Ele fora cruel com ela apenas por mostrar que o desejava. Se pudesse, nunca mais queria vê-.lo.
Mas a companhia de seus novos amigos a distraíra um pouco. Emerald e Verity eram muito interessadas nos costumes humanos e gostava de passar um tempo com Painting. Ele a olhava como se fosse a mulher mais linda do mundo.
De vez em quando Verity a provocava sobre ter relações com o Nova Espécie. Clara o achava lindo e chegara a imaginar como seria ter filhos com ele. Mas... Não sentia por ele uma faísca do fogo que ardia em seu corpo quando estava perto de Cedar.
Saíram da floresta e caminhavam pelos caminhos de pedriscos quando um jipe passou. O coração de Clara despencou quando reconheceu o motorista. O veículo parou mais à frente e Cedar saltou dele.
— Olá, Cedar. - Emerald cumprimentou.
Ele levantou a mão num cumprimento. Olhou de Painting para Clara.
— Estão numa expedição de trabalho?
Foi Painting quem respondeu.
— Fomos à prainha.
Cedar a olhou novamente e ela se sentiu muito exposta com um shortinho jeans e o sutiã do biquini. Teve vontade de se esconder atrás do amigo para Cedar não ver seus seios pequenos e as pernas finas.
— Você gostou? - ele perguntou diretamente a ela.
— É um lugar lindo e a água é uma delícia.
— Hum... - ele olhou novamente para Painting e depois para ela. — Não recebi o seu relatório desta semana.
— Eu só o envio às sextas-feiras.
— Hoje não é sexta-feira?
Clara ergueu o queixo.
— Sim. E o dia ainda não acabou.
O canto do lábio dele repuxou e balançou a cabeça.
— Certo. - olhou para os amigos. — Nos vemos por aí.
Voltou para o jipe e dirigiu em direção aos portões. Emerald estalou a língua.
— Às vezes penso que Cedar respira trabalho.
— Ouvi dizer que todos os Conselheiros são assim. - Painting respondeu.
— Nem todos. Brawn e Jaded passam tempo com as suas famílias.
— Talvez Cedar precise de uma.
Os dois riram. Clara ficou curiosa.
— O que foi?
Emerald continuou rindo.
— Cedar compartilha sexo poucas vezes com nossas fêmeas e nunca com humanas. Assim não formará uma família nunca.
— Vocês todos sabem tanto da vida um do outro?
— Não temos o que esconder. - disse Painting.
— É um pouco desconfortável.
— Você esconderia se compartilhasse sexo? - ele perguntou, interessado.
— Não é esconder. Eu preservaria meu relacionamento.
— Por quê?
— Por que é muito íntimo.
Emerald jogou os longos cabelos molhados para trás.
— Eu não esconderia se estivesse compartilhando com Cedar. Seria uma honra.
Clara abriu a boca e Painting encarou Clara.
— Você está fazendo isso agora?
— O quê?
— Escondendo que tem um parceiro para o sexo?
Ela engasgou e riu.
— Não. Eu não tenho ninguém.
O alívio no rosto de Painting foi até engraçado.
— Mas esconderia?
— Eu me preservaria, sim.
— Acha que seu macho concordaria?
Emerald deu um pulinho.
— Teria que ser um macho muito comprometido consigo mesmo, como Cedar, para manter uma relação em privado.
Clara sentiu o rosto esquentar. Painting continuou falando.
— Lembra quando Justice revelou sobre o seu caso com Jessie de repente? Ninguém fazia ideia. E Tiger que fugia de humanas?
Os dois Novas Espécies continuaram a conversar sobre a particularidade de algumas histórias de amor e Clara pensou em Cedar. Ele seria bem capaz de esconder se fizesse sexo com uma mulher sem graça como ela.
Chegaram na vila e Painting foi para o dormitório masculino. Quando entrou no dormitório, Clara ficou surpresa com uma pequena agitação na sala comum. Algumas mulheres riam passando roupas coloridas de uma para a outra. Clara entendeu as risadas quando chegou mais perto. Em cima de uma mesa de centro estava uma mala recheada de lingerie.
— Que bom que chegou Emerald. - disse Rain. — Você vai adorar isso aqui. - falou, erguendo uma camisola preta mínima e transparente.
— Que lindo!
Uma mulher, claramente indígena, anotava num caderninho.
— E você, Clara Domingues, não quer escolher alguma peça? - perguntou Rain. — Asseguro que Painting gostará muito.
O rosto de Clara pegou fogo, mas entrou na brincadeira.
— Estou trabalhando demais para pensar nessas coisas.
Algumas fêmeas se meteram na conversa, tentando convence-la a pegar alguma lingerie. Estela entrou no dormitório.
— Deixaram alguma coisa para mim?
Várias fêmeas falaram ao mesmo tempo. Uma deu um gritinho quando viu Aruana entrar com Firmness com o bebezinho nos braços.
Aparentemente a visita da mulher da mala era um evento.
Quando Clara percebeu, também estava olhando conjuntos de sutiãs e calcinhas. Algumas eram muito delicadas e pareciam que desmanchariam se fossem usadas. Verity comentou.
— Direi a qualquer macho que não quero munha lingerie rasgada.
Tidas riram e Clara ficou imaginando suas roupas serem rasgadas por um Nova Espécie; e só conseguiu pensar em um.
— Meninas! - falou Aruana acima das vozes. — Um minuto da sua atenção! - o falatório parou e as mulheres se viraram para ela. Elo já estava em outro colo. — Quero comunicar que este é meu último mês em Homeland III.
— O quê? - perguntaram várias fêmeas.
Aruana explicou que ela e sua família iriam para Homeland I para desenvolver o projeto de uma revista. Algumas reclamaram que não veriam o bebezinho crescer, mas a maioria deu parabéns à companheira de Fiber.
— Nofim do mês haverá uma festa de despedida e virão alguns dos moradores de Santa Rosa.
As mulheres ficaram muito animadas. Algumas pegaram mais peças sensuais. Clara comentou com Emerald.
— Imagino que essa festa será um grande momento.
— Nossos machos adoram quando as mulheres de Santa Rosa vêm, mas as fêmeas apreciam demais a visita dos homens. Acham que eles são mais sensíveis que os machos espécies.
— Entendi.
A algazarra diminuiu quando Elo choramingou para dormir.
Clara escolheu dois conjuntos de sutiã e calcinha sedosos e, num ímpeto, um conjuntinho rosa claro muito sexy. Quando perguntou à vendedora sobre o pagamento a mulher lhe disse que a ONE faria aquilo. Clara descobriu naquele dia que a ONE oferecia tudo que os Novas Espécies precisavam.
— Mas eu não sou da ONE.
— Minha querida, outras mulheres recebem esse benefício.
— Mas eu posso pagar.
— Precisa resolver isso com o administrador.
Clara nunca precisara comprar nada em Homeland III. Tinha uma reserva de desodorantes e absorventes. Sabia que havia algo sobre isso no contrato, mas não se lembrava.
— Emerald, essa senhora disse que a ONE pagará minha compra.
— Sim.
— Mas como? Será descontado do meu salário?
— Eu não sei. Nunca recebi salário.
— Não? Você trabalha de graça?
— Trabalho para a ONE e ela me dá o que preciso.
Clara ficou confusa.
— E quando precisam de dinheiro?
— Só quem lida com os humanos que precisa.
— Que interessante. Mas não sou da ONE. Preciso pagar.
— Pergunte ao Cedar.
À menção do nome Clara sentiu o rosto ficar quente.
— Você pode fazer isso para mim?
— Eu posso, mas você não quer?
— Não quero atrapalhar o trabalho dele.
A Nova Espécie a olhou com desconfiança, mas pegou o telefone celular. Teclou na tela e aguardou.
— Oi, Cedar... Não, está tudo bem com ela... É que Clara quer tirar uma dúvida... É sobre as compras dela. Como ela faz para pagar a ONE?... Com Teresa Alawa... Lingerie sexy, Cedar... - deu uma risadinha e ouviu um instante. — Está certo. Direi a ela. - Emerald guardou o telefone no bolso. — Cedar vai te ligar.
— Por quê?
— Para te explicar como deve fazer.
Antes que Clara pensasse sobre aquilo o telefone tocou. Tirou-o da bolsa e respirou fundo antes de atender.
— Alô?
— Emerald disse que está em dúvida sobre suas compras.
— Sim. Serão descontadas do meu salário?
— O almoxarifado de Homeland possui roupas íntimas.
Ela sabia que estava corada.
— Está dizendo que só posso adquirir o que existe do almoxarifado ?
— Estou dizendo que não precisa gastar seu dinheiro se temos o que precisa.
— Outras mulheres estão comprando.
Ele fez silêncio por um instante.
— Que eu saiba lingerie especial tem um objetivo.
Clara sentiu a raiva domina-la. Ele era seu empregador, não tinha que lhe dar satisfações da sua vida íntima!
— O senhor quer dizer que não posso usar o que quero? A ONE controla isso?
— Claro que não. Só quero entender para que precisa de lingerie sexy.
Ela sentiu vontade de fulmina-lo.
— Isso não interessa ao senhor! - inspirou fundo. — Como devo fazer? Compro e devolvo o dinheiro à ONE?
— Compre. Você tem um limite de compras que é coberto pela ONE.
— Então está bem.
— É para o Painting?
— O quê?
— A lingerie é para agradar ao Painting?
— Você não tem nada a ver com isso!
— Ele sabe?
— Como?
— Sobre nunca ter tido um macho? - Clara ficou muda. Não podia acreditar que ele estava falando daquilo! — Ele precisa saber. É um momento delicado, não é?
Ela pensou que explodiria.
— Vá se meter com a sua vida! Isso é assédio, sabia? Eu vou dar parte de você!
—Eu te ofendi?
— Ofendeu, sim! Quer saber? Vai se danar!
Ela encerrou a ligação furiosa. Ele não tinha o direito de falar da sua intimidade! Era misógino, grosseiro. Ele era um...
Prestou atenção ao seu redor e viu todos os rostos virados para ela. Engoliu em seco e pegou suas compras.
— Dona Teresa, a senhora anotou?
— Anotei, sim, minha filha.
— Obrigada, então.
— Você não quer um óleo para massagem?
— Não, obrigada. - olhou para Emerald. — Vou tomar um banho e depois voltarei para a clínica.
Saiu da sala, sentindo-se muito envergonhada. Perdera completamente o controle. Por que aquele homem tinha que ser tão desagradável com ela?
Chegou nos seus aposentos e deixou a lingerie sobre a cama. Eram peças delicadas, mas sensuais. Seu rosto pegou fogo. Talvez devesse mesmo usá-las com Painting. Passava da hora de perder a sua virgindade e um homem másculo, mas gentil como ele seria a escolha perfeita!
Tirou a roupa com muita raiva de Cedar e foi para o banheiro. Tomaria uma ducha fria para esfriar a cabeça.
VOCÊ ESTÁ LENDO
CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...