Capítulo 41

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Naquela manhã, Cedar observava três fêmeas empacotarem os pertences de Clara. Com as mãos no bolso e oscilando o corpo, parecia estar despreocupado, porém sentia-se rasgar por dentro. Seus ciúmes irracionais o levaram a magoar a única fêmea que jamais amara.
Como o líder de Homeland III ele estava oferecendo a Clara toda a cobertura da sua mudança e resguardando a sua vontade de estar longe do companheiro que a magoara: ele.
Não dormira aquela noite. Tentara ligar diversas vezes para ele à noite e enviara dezenas de mensagens. Ela não o atendeu, nem respondeu a nenhuma mensagem.
Naquela manhã aguardara um pouco para ligar, mas fora interrompido por Creek, avisando que Clara buscaria suas coisas ainda naquela manhã. Ele correra para casa pretendendo implorar o seu perdão, porém apenas abrira a porta para três fêmeas que lhe deram olhares mistos de curiosidade e pena.
Não sabia o quanto do seu problema com Clara era conhecido dos seus irmãos. Imaginava que apenas Verity, Emerald e Creek soubessem.
Suas sobrancelhas se ergueram quando pensou em Emerald. Ela o procurara no fim da noite querendo se explicar, entretanto ele não tinha a mínima intenção de ouvi-la. Não conhecia a participação dela naquele drama, contudo a apreensão da fêmea que Clara dissesse algo sobre ela mostrava que não fora boa.
Seu celular tocou, ele o pegou imediatamente e ficou atento ao ver o nome de Creek.
— Bom dia. Fale, Creek.
Bom dia, Cedar.
— Clara está bem?
Acordou agora. Verity disse que dormiu pouco. Sempre acordava chorando.
O coração dele pareceu diminuir dentro do peito, imaginando sua companheira chorando por causa dele.
— Preciso falar com ela, Creek.
— Cedar, os humanos são muito sensíveis, mas não entendem realmente nosso povo. A desculpa de estar cego pelo ciúme não irá fazê-la te perdoar.
Mas preciso falar com ela. Clara irá...
— Irá detestá-lo ainda mais se a forçar. - fez uma pausa. — Agora precisamos tratar de outro assunto.
— Nenhum é mais importante do que Clara.
— Mas tem a ver com ela. Verity me contou toda a conversa que Emerald teve com ela.
Então Creek passou para Cedar a real participação da fêmea na sua separação. A cada palavra de Creek ele ficava mais furioso. Ele mesmo escolhera Emerald para ser a escolta de dia com Clara, por ser simpática e dedicada. Não podia acreditar que a fêmea que conhecia desde Mercille fora capaz de tanta malícia.
Quero te pedir, Cedar, para deixar o caso de Emerald para eu e Sky resolvermos.
— Esta atribuição é minha.
— Não. Você não pode julgá-la.
— Se ela fosse um macho, eu nem pensaria em julgá-la. Eu seria capaz de matá-la.
— Por isso mesmo você precisa passar a incumbência para Sky.
Ele puxou o ar, sentindo suas mãos tremerem de raiva.
— Certo. Me mantenha informado.
— Pode deixar. E Cedar...
— Sim?
Pense em sua ações. Descubra se é o macho certo para Clara.
Ele franziu fortemente a testa.
— É claro que sou. Ela é minha companheira, somos acasalados.
— Como ela mesma disse, ela é humana. E humanos se separam.
— Nunca.
Se acalme e pense.- soltou um suspiro. —Preciso ir me encontrar com Sky. Até mais.
— Até mais.
Cedar guardou o telefone pensando no que Creek dissera. Ele não seria o macho para Clara? Pensou em todas as suas diferenças. Ela era mais jovem do que ele, não suportara os tormentos de Mercille e não fazia ideia do quanto ele podia ser selvagem e extremamente possessivo.
As fêmeas saíram e ele ficou plantado no meio da sala, sentindo-se perdido e só.

Clara arrumava no armário sua roupas;  a maioria deixaria de servir em breve. Uma nova onda de lágrimas encheu seus olhos, a dor emocional era insuportável.
Seu relacionamento com Cedar começara difícil, por causa dele, aliás. Ela se sentira insignificante demais para ele. Depois, ele a julgara por aceitar as atenções de Painting. Mas desde que começaram seu relacionamento, tudo parecia bem.
Depois que ela dissera que Painting continuaria trabalhando com ela, Cedar nunca mais comentara o assunto. De onde surgira aquele ciúme louco que o fizera ofendê-la?
Acariciou a barriga. Seu filho era fruto de um amor verdadeiro. Ele representava a alegria no seu relacionamento. Cedar cogitara que Isaac poderia ser de outro homem.
Cedar não sabia que o amava? Ele fora seu primeiro homem; o que o levara a pensar que não era o último?
Sentou-se na cama, exausta pela noite difícil. Seu sono foi interrompido diversas vezes e, em todas, elas procurava pelo corpo de Cedar ao seu lado. Quando finalmente sua mente lembrava da realidade, ela não conseguia segurar as lágrimas.
De repente, Riso não se encaixava mais no nome do seu filho.
Deitou na cama e se encolheu em posição fetal. Nunca tivera um relacionamento intenso como aquele. Cedar era mais velho do que ela, sequer sabia a sua idade. Ele era muito sério, responsável e respeitado. Ela não precisara dele a fazer sentir ínfima diante dele, ela já se sentia assim. Ficara deslumbrada por um homem como ele sequer se interessar por alguém desajeitada e sem graça como ela.
Não imaginava como passara pela cabeça de Cedar que, sendo escolhida por ele, teria olhos para outro homem. Ela não acreditava que algum dia deixaria de amá-lo.
Seu ídolo, entretanto mostrara que tinha pés de barro. Primeiro, por fazê-la sentir-se incapaz de atrair um homem como ele. E agora, por crer que ela era infiel, tomado pelos ciúmes.
Acariciou novamente sua barriga. Não poderia ter seu filho fora das terras da ONE; o mundo dos homens era perigoso demais para crianças Novas Espécies. Não queria mais Cedar em sua vida, contudo não poderia negar-lhe o direito de ver o filho quando quisesse.
Como se atraído por seus pensamentos o telefone tocou com o toque que escolhera para ele. Pegou o aparelho na mesinha de cabeceira e viu o seu rosto na tela; se recriminou por não ter bloqueado o seu número, por causa do modo que se sentiu. Ela amava aquele homem!
O telefone tocou e tocou e ela continuou fitando a tela. Quando parou te tocar, logo ouviu a notificação de uma mensagem; recebera muitas desde a noite passada. Não lera uma sequer, apagara todas imediatamente.
Passaram alguns minutos e ouviu outra notificação. Respirou fundo. Sabia muito bem porquê não bloqueara o número de Cedar. No fundo era sua última ligação com ele.
Abriu a primeira mensagem.
Perdão. Não há nada que eu possa fazer para consertar o que fiz; só posso te pedir perdão.
Suas mãos tremeram, mas leu a última mensagem.
Não irei procurá-la se não permitir. Eu te imploro, minha fadinha, eu preciso ver você. Clara, eu te amo. Você dissipou em mim as sombras de Mercille que me impediam de viver plenamente. Você e Isaac são toda a minha vida. Clara...
Ela parou de ler quando seus olhos nublaram de lágrimas. Secou as lágrimas e apagou também aquelas mensagens. Resolveu enviar uma.
Cedar, não fale mais comigo. Não quero suas justificativas, não me interessam. Você perguntou ontem sobre a paternidade de Isaac; ele é meu filho, só meu. Bloquearei seu número de telefone e, sob sua própria palavra, não aceitarei que se aproxime de mim. Me esqueça.
Clara enviou a mensagem e bloqueou o número dele em seguida. Ocultou a conversa e apagou o contato de Cedar, sentindo que se afastava definitivamente dele.
Colocou o telefone na bolsa e foi para o banheiro. Lavaria seu corpo e suas lágrimas e iria para a clínica. Sua vida precisava continuar.

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