A doutora Thainá acompanhava com muito interesse a história de seu diretor e da veterinária da colônia, assim como foi com Fiber e Aruana. Ouvira falar da paixão que os Novas Espécies mostravam pelas suas mulheres, mas consigo não acontecia. Blade era atencioso, um amante habilidodo, porém não vira nele o que Starlight, Fiber e Cloud mostravam.
Olhou para o casal que se preparava para a ultrassonografia. Cedar ajudou Clara a deitar e Thainá sentiu a vibração entre eles. O homem não desviava os olhos da pequena mulher, que corava desviando o olhar.
Ele ficou à cabeceira do leito de exames, observando-a passar o gel na barriga de Clara. Sempre se impressionava com a gravidez das mulheres dos Novas Espécies. Clara estava com 8 semanas, mas parecia estar de 16. Sua barriga crescera muito desde a última consulta.
Thainá passou o transdutor e a tela se iluminou. Deu um sorrisinho, preparada para a reação dos pais. O corpinho do bebê aparecia completo e,em algumas vezes, ele se mexia.
Clara soltou uma exclamação feliz e seus olhos se encheram de lágrimas. Cedar ficou quieto, mas olhava fixamente para a tela.
Clara cobriu a boca com as mãos, reprimindo soluços de choro.
— Cedar... - ela murmurou. Ele estendeu a mão e segurou a dela.
— Nosso filho. - ele ergueu a mão e a beijou. Depois Clara a puxou e descansou ambas as mãos sobre o coração. Virou o rosto para ele que, abaixando-se, beijou sua testa.
Blade contara a Thainá que eles estavam separados, contudo naquele momento pareciam um casal que se amava. Queria que algum dia Blade a olhasse como Cedar fazia.
Moveu o transdutor e o bebê se mexeu.
— Ui! - Clara exclamou. — Ele se mexeu.
Clara ergueu a cabeça, olhando o filho com admiração. Cedar passou um braço por debaixo da cabeça dela, inclinou-se e deixou o rosto à altura do dela.
— Ele está animadinho. - Thainá falou.
Clara riu e chorou ao mesmo tempo. Cedar respirou fundo e a doutora percebeu lágrimas em seus olhos.
Será que Blade se emocionaria se ela engravidasse? Empurrou a ideia para o fundo da sua mente e continuou o exame.Clara vira seu filho quando era apenas uma manchinha brilhante. Agora via seu corpinho, os bracinhos encolhidos e as perninhas para cima esticando e encolhendo enquanto ela o sentia mexendo. Era o seu filho, o bebê feito com muito amor.
Estava aconchegada contra Cedar, admirando o filho que fizeram juntos. Naquele momento, não sentia raiva ou mágoa contra ele. Segurava sua mão firmemente, usufruindo um pouco da sua força.
— Isaac... - Cedar murmurou e deu um sorriso deslumbrante, as pontas das presas mostrando que não era totalmente humano, como seu filho. — Agora entendo o nome.
Ele beijou novamente a sua testa, os longos cabelos castanhos provocando cocégas. Clara virou o rosto para ele.
— E será parecido com você.
— Eu gostaria que parecesse com você.
— Pequenininho e de cabelo armado?
— Bonito e alegre.
Clara olhou para a tela sorrindo. Ele pode tê-la magoado, mas aquele momento era dos dois.
— Estou gravando o vídeo para vocês. - avisou Thainá.
— Verdade?
— Vou mandar para o seu e-mail.
— Eu gostaria também. - pediu Cedar,
— Mandarei para os dois.
Nos minutos seguintes a doutora Thainá fez uma exposição do desenvolvimento do bebê. Em cada momento a mão de Cedar cobria a sua.
Quando a médica terminou pegou toalhas de papel para limpar seu ventre.
— Deixe que eu faço. - pediu Cedar.
A doutora Thainá entregou-lhe algumas toalhas.
— Espero vocês no consultório. - e saiu.
Cedar deslizou as toalhas de papel pela barriga. Clara sentiu seu corpo reagindo ao toque dele. Estava muito ciente do peso da mão dele, da respiração pesada, do cheiro bom que ele exalava.
O bebê se mexeu novamente e ele parou. Afastou a toalha e espalmou a mão sobre a leve ondulação na barriga.
— Estou sentindo. - ele constatou, impressionado, e ela riu, pousando a mão ao lado da dele.
— Acho que ele sabe que estamos aqui.
Cedar arregalou os olhos.
— Ele pode saber disso?
Clara riu mais ainda.
— Não é científico nem nada, mas gosto de pensar assim.
Ele terminou de limpar a barriga e a ajudou a sentar.
— Vou vestir minha roupa. - Clara foi para o banheiro.
Cedar aguardou do lado de fora enquanto ela trocava a camisola do exame por um velho macacão no qual parecia bem mais jovem. Mais cedo pensara que não se arrumaria mesmo para encontrar Cedar. Ele viera com a camisa e bermuda pretas da ONE e parecia ter saído de um anúncio de uma grife famosa. E ela parecia um moleque!
Saiu do banheiro um pouco constrangida. Parado no meio da sala de exames ele parecia uma estátua magnifica com aquela pele bronzeada e os cabelos longos castanhos avermelhados.
Ele se aproximou, passou os braços por ela e a pegou no colo.
— Cedar, não!
Cedar não respondeu, saiu da sala de exames e caminhou para o consultório. Encontraram a enfermeira Sueli e ela colocou as mãos na cintura.
— Bom dia. - Clara e Cedar disseram ao mesmo tempo.
Pelo rosto da enfermeira, Clara imaginou que ela não aprovava nada, nada, o comportamento dos Novas Espécies.
— Me coloque no chão.
Ele a ignorou, abriu a porta do consultório, entrou e sentou-se com ela no colo. Se a médica achou estranho, não deu a perceber.
— Bom Clara, as imagens estão ótimas. A morfologia do bebê está com o desenvolvimento esperado para uma Nova Espécie. Seus exames de sangue e urina estão ok. - olhou para Cedar. — Gostaria de fazer alguma pergunta?
Cedar nem piscou.
— Clara está impossibilitada de praticar algum esforço físico?
— Depende. Algumas atividades físicas não são recomendadas.
— Sexo.
Clara engasgou e ele deu tapinhas suaves nas suas costas. A doutora Thainá piscou rapidamente, porém respondeu com tranquilidade.
— Não. O bebê está bem protegido.
— Ótimo.
Depois, a médica se virou para ela.
— Mantenha as vitaminas e o ácido fólico.
Clara ainda digeria a pergunta de Cedar, então apenas assentiu com a cabeça.
— Na próxima consulta você já estará na metade da gestação e faremos um ultrassom transvaginal para avaliarmos o colo do útero. - a doutora Thainá olhou de um para o outro. — Mais alguma dúvida?
Clara fez que sim.
— Pois não, Clara?
— Raiva pode fazer mal ao bebê?
Dessa vez a médica entreabriu os lábios.
— Bem... Altos níveis de estresse podem atrapalhar o desenvolvimento cerebral. - Cedar olhou alarmado para Clara. — É claro que se for algo extremo.
Cedar a estreitou nos braços.
— Vamos resolver isso. Terminamos, doutora?
A médica olhou para os dois com uma expressão perplexa.
— Sim, mas... Está tudo bem com vocês?
— Tudo ótimo. - Cedar respondeu.
— Não. - Clara o encarou. Não era porque ficaram felizes durante o ultrassom que ela o havia perdoado!
Cedar se levantou.
— Obrigado, doutora Thainá.
Não esperou a resposta da médica e saiu. Clara o cutucou.
— Me ponha no chão.
Ele não respondeu e continuou para a saída. O oficial da recepção se levantou.
— Está tudo bem, Cedar?
— Está, sim. Obrigado.
Clara não quis falar na frente do oficial, porém logo que saíram do prédio deu uma palmada no peito dele.
— Chega, Cedar. Posso andar muito bem.— Cedar não respondeu e marchou na direção das residências. Clara se remexeu. — Me solte. Não vou para o dormitório.Tenho que voltar para a clínica.
— Você vem comigo.
— O que você está fazendo?
Ele a olhou rapidamente.
— O que eu já deveria ter feito há muito tempo. Vamos conversar.
— Você falou que só queria falar sobre o Isaac.
Passaram por dois Novas Espécies que os cumprimentaram com um olhar curioso. Cedar os cumprimentou.
— Cedar, pare!
— Isaac precisa que seus pais estejam unidos. Ele entenderá que este momento é nosso.
— Não tem nenhum nosso aqui! Não quero conversar!
— Vamos conversar.
— Olha aqui, seu brutamontes! - ela começou a bater nele.
Cedar diminuiu os passos e colou a boca sobre a dela. Clara tentou gritar, entretanto seu grito foi abafado pelos lábios grossos. Ela tentou empurrá-lo, bateu as pernas, porém ele continuou a beijá-la. Não era um beijo delicado, mas um ataque à sua boca.
Ele a soltou depois de sugar seu lábio inferior.
— Vamos conversar.
Clara sentiu os lábios inchados pelo beijo e, para sua consternação, os bicos dos seios endurecidos.
Cedar continuou andando e Clara viu a grande cabana branca cercada por palmeiras. Sentiu uma tristeza por lembrar que aquela fora sua casa por meses.
— Cedar... - murmurou. — Por favor, me deixe ir.
Cedar parou e a encarou.
— Não fui feito para deixá-la ir. Você é minha fêmea e eu sou seu macho. Fui um desgraçado ao te ferir, mas em nome do amor que sentimos, te peço apenas alguns minutos para conversamos.
Ela engoliu em seco, sentindo uma enorme vontade de chorar. Repousou a cabeça no seu ombro e murmurou apenas uma palavra: sim.
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...