Clara chegara ao dormitório quando não havia nenhuma mulher Nova Espécie. Trocara a bermuda por uma calça legging e se maquiara um pouco.
Cedar a deixara no dormitório feminino e avisara que Verity logo chegaria. Eles jantavam em horários diferentes, mas ele dissera que jantaria com ela.
Quando saiu dos seus aposentos viu que havia quatro mulheres humanas na sala da recepção. Saiu para o saguão e percebeu que as conversas pararam quando ela chegou.
Duas mulheres, Eliane e Carla, disfarçaram, mas o restante a observava atentamente.
— Boa noite.
Ouviu diversos cumprimentos. Monique, que trabalhava na lavanderia, a encarou.
— Vieram te procurar.
— Agora? - perguntou , estranhando que fosse Cedar. Ele dissera que a encontraria no refeitório do Clube.
— Tem uma hora e você não estava.
Clara franziu a testa, curiosa.
— Você sabe quem foi?
Celi que também trabalhava na lavanderia respondeu.
— Não sei o nome. Parece um anjo.
Painting...
Monique deu um sorriso malicioso.
— Você está com tudo, hein? - Clara sentou numa poltrona e não respondeu. — Ouvi falar, Clara, que o nosso chefe esteve aqui hoje.
— É mesmo?
— Quem me contou disse que o viu saindo do seu quarto.
Clara encarou a mulher seriamente.
— E você, com certeza, falou para essa pessoa deixar de ser invejosa e cuidar da própria vida, né?
A mulher ruborizou violentamente. Carla e Eliane riram.
Monique lançou um olhar feio para elas, depois tornou a olhar para Clara.
— Eu disse que não podia ser, afinal ele é o homem mais poderoso daqui e não ficaria com uma das funcionárias.
— Não é homem.
— O quê?
— Cedar não é um homem. Dentro dele há um animal selvagem capaz de rasgar uma mulher por dentro. - falou, se divertindo.
Todas as outras mulheres riram dessa vez e Monique apertou os lábios.
— Você deve saber.
— Pois, é. Todas as mulheres deviam experimentar. Um homem-fera é capaz de arrancar toda a amargura de algumas pessoas.
Monique bufou, mas foi impedida de falar quando Verity chegou acompanhada de um homem e uma mulher Novas Espécies.
Eliane e Carla acompanharam o homem e Monique e Celi acompanharam a mulher.
Verity ficou um momento só a olhando. Clara se levantou.
— Tudo bem?
Verity colocou as mãos na cintura.
— Pensei que fossemos amigas.
— Por quê? - perguntou, já sabendo o assunto.
— Você contou para Emerald que compartilhou sexo com Cedar, mas não me contou.
— Eu não contei para Emerald.
— Ela disse que sim.
— Verity, esse assunto é muito particular para mim e não contei para Emerald.
— Como ela soube? Porque eu sei que é verdade.
— Sabe como?
— Encontrei Creek e perguntei se era verdade. Ela me disse que você disse para ela. - terminou, com um beicinho magoado.
Clara respirou fundo e contou até três antes de falar.
— Emerald entrou no meu quarto e viu Cedar. Eu não contei, ela viu. E Creek me viu no escritório de Cedar e ficou confusa. Para ela eu disse que estávamos juntos.
— Não escondeu de mim?
— Não foi com má intenção. Eu gostaria que fosse algo reservado, mas Cedar me disse que as Novas Espécies gostam de participar de todos os assuntos.
— Ele disse que somos fofoqueiros.
— Então você conhece a palavra.
— Conheço. Foi Paul quem me explicou.
— Paul?
— Ele é o enfermeiro chefe de Homeland.
— Ah, tá.
— Eu fiquei chateada porque te contei tudo sobre o Everaldo.
— Eu sei. Olha, isso aconteceu hoje.
— Está bem.
— Podemos ir agora?
— Não vai me contar nada?
— Verity, isso é muito íntimo.
— Vocês, humanas, são tão interessantes...
— Vocês é que são.
Riram juntas e saíram para o Clube. Apesar da sua intimidade ter sido invadida, Clara gostsva de Emerald e um pouco mais de Verity. Sempre tivera dificuldades em manter amizades; as pessoas a consideravam excêntrica. Entre as Novas Espécies se sentia querida. E a pessoa que mais a fazia sentir-se bem estava ali na entrada do Clube a aguardando.
Muito alto, Cedar devia medir mais de 1,90 metros. Suas roupas mostravam como era musculoso e aqueles cabelos lhe davam a vontade de passar horas acariciando-os.
Verity deu uma olhada para ela e piscou um olho. Clara achou engraçado.
Quando se aproximou de Cedar ele abriu os braços e ela se aconchegou nele.
— Demorei?
— Cheguei agora. - ele disse, beijando-a levemente. Ele olhou para Verity. — Obrigado. Eu assumo daqui.
— Precisará de mim depois do jantar?
— Sim, mas depois do meu turno irei até vocês.
— Certo.
Clara sabia que ele, como todas as Novas Espécies, trabalhavam até mais tarde.
Entraram no refeitório de mãos dadas e chamaram a atenção de todos, o que Clara sabia que aconteceria. Os humanos jantavam mais cedo do que os demais e muitos olhos a encaravam com espanto. Ficou muito vermelha e deixou que ele a guiasse até ao bufê.
— O que você gosta mais de comer? - ele perguntou.
— Gosto de tudo. Legumes cozidos, peixe...
— Outro tipo de carne?
— Na verdade, estou diminuindo o consumo de carnes em geral.
Cedar pegou um prato para ela.
— Precisa de proteínas e carboidratos para ganhar massa.
— Eu sou forte!
— Não, não é.
— Está me chamando de magricela.
— Não. - ele começou a servi-la, pegando a concha de feijão.
— Eu posso me servir.
— Eu quero te servir.
Cedar a serviu de feijão, arroz, uma fatia grande de lasanha e brócolis. Clara não reclamou; gostando do gesto dele.Cedar estava achando delicioso servir Clara. Realmente a achava muito magra e queria vê-la com um pouco mais de peso.
Ela sorria para ele, segurando sua mão para evitar que colocasse mais comida no prato. Quando achou que era o bastante, entregou o prato para ela.
— Fique comigo. Vou me servir.
Ela o assistiu pegar diversos bifes mal passados e riu quando ele cobriu tudo com macarrão ao alho e óleo. Levou-a até uma mesa no canto, longe dos outros.
Ele percebeu que os humanos os olhavam tentando disfarçar o interesse.
Clara se sentou e ele colocou o prato na mesa.
— Já volto.
Voltou ao bufê, pegou outro prato e se serviu de batata-frita e um salteado de cenoura, batata e ervilha. Quando voltou para a mesa, Clara olhou admirada para o prato.
— Tem certeza que conseguirá comer tudo isso?
— Meu metabolismo é acelerado. Preciso de grandes quantidades de comida.
— Nossa!
Cedar riu da admiração dela.
— O que quer beber?
— Limonada.
Ele foi até o refrigerador, pegou um refrigerante e foi ao balcão de sucos. Encheu o copo até em cima de limonada. Virou-se e viu Estela em pé ao lado de Clara.
Se aproximou e ouviu a fêmea.
— Você pode amanhã?
— Claro, posso.
— Peace amará ter mais plateia para ele.
— Quer que eu leve alguma coisa?
— Não. Só você.
Cedar parou atrás de Estela, que se virou rapidamente.
— Oh, boa noite, Cedar.
— Boa noite.
Estela sorriu para Clara.
— Até amanhã. Boa noite, Cedar.
— Tchau, Estela. - despediu-se Clara. Ele apenas acenou com a cabeça.
Sentou-se à frente dela, entregando a limonada.
— Do que falavam?
— Estela me convidou para ver um filme amanhã, depois do jantar.
Cedar a encarou.
— Pensei que ficaríamos juntos amanhã à noite.
Clara corou e ele achou lindo.
— Eu não sabia que iria querer me ver amanhã.
— Quero te ver todos os dias. - ela deu um sorriso e ficou apenas olhando-o. — Sei que não quer se mudar para minha casa, mas pretendo te ter todas as noites. - ela abriu a boca e olhou ao redor. — O que foi?
— Olhei para ver se alguém te ouviu.
— Qual o problema?
Ela deu uma risadinha.
— Não acho que as pessoas esperem declarações ardentes enquanto comem.
— Os humanos consideram errado?
— Errado, não. Só... surpreendente.
Foi a vez dele sorrir. Acreditava que ele é quem seria surpreendido por se envolver com uma humana.
— Vamos brindar. - ela ergueu o copo. Cedar a olhou sem entender. — Nunca brindou?
— No Ano Novo. Mas por que brindaríamos agora?
Clara deu um sorriso meigo.
— À nós, Cedar.
Ele entendeu e respondeu ao sorriso. Ergueu o seu copo e tocou no dela.
— À nós, Clara.
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...