Capítulo 33

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Clara sentia a respiração de Cedar em seu pescoço. Estava atarantada com o que Risen dissera. Ela não estava grávida! Menstruaria dali a um ou dois dias. Já sentia sinais; seus seios estavam sensíveis e sentia vontade de beber chocolate. Aquilo era típico da sua TPM.
Cedar continuava segurando seus braços. Um pouco antes ela o sentira tenso quando Risen dissera que havia outro macho. Teria passado pela cabeça dele que Painting ou outro macho a havia abraçado?
Ainda confusa ouvira o que aquele homem havia dito. Não podia ser verdade.
— Você não sabia, Cedar? - Risen perguntou.
Sem soltá-la, Cedar declarou.
— É minha mulher e não sinto outro cheiro além do dela.
— Está fraco, mas se mistura com o cheiro de vocês dois.
Cedar abaixou a cabeça e ela virou o rosto. O semblante dele estava muito sério.
— Pode haver verdade nisso, Clara?
— Não. Eu vou menstruar.
— O que é isso? - perguntou Gale.
— É quando as fêmeas sangram.,- respondeu Lion.
— Nunca vi.
— Não é bonito.
Risen ficou em pé e Clara ficou boquiaberta com seu tamanho e rosto feroz. Seus olhos pareciam duas gemas de obsidianas negras, com um brilho opaco.
— Pequena fêmea humana, pergunte aos seus médicos se quiser.
Cedar cruzou as mãos sobre sua barriga e ela as segurou.
— Obrigado pela notícia, Risen.,- Cedar pigarreou.,— Trouxe alguns ítens para vocês.
Gale segurou a sacola e olhou dentro.
— Sabonetes. - pegou um e cheirou. — Obrigado, Cedar.
— Veio apenas para trazer coisas? - perguntou Lion.
— Vim ver como vocês estão.
— Eu estou bem. - falou Gale, pegando um isqueiro e o acendendo.
— Cuidado com isso. - avisou Lion.
Gale enfiou o isqueiro no cós do short.
Lion deu um sorriso fraco.
— Também estou bem.
Risen o encarou.
— Os pesadelos estão piorando. -disse.
— Eu falo por mim.- retrucou Lion.
— Você precisa aceitar o médico. - falou Cedar, sem largá-la.
— Para ele me dizer que estou enlouquecendo. Disso já sei.
— Aceite o médico.
Risen colocou a mão no ombro do amigo.
— Cedar tem razão. - olhou para Cedar. — Aqueles policiais na Reserva despertaram os pesadelos dele. - Lion não reclamou dessa vez.
— Aceite, Lion. - pediu Cedar.
— Vou pensar.
Cedar relaxou os braços ao redor dela.
— Também queria que minha companheira conhecesse vocês.
Os três a olharam. Clara ficou um tantinho intimidada, mas Cedar não a traria se fosse perigoso.
— Clara de Cedar quer conhecer minha casa? - Risen convidou.
Ela olhou para trás. Cedar assentiu com a cabeça.
— Quero, sim.
Clara ainda estava tonta com a afirmação daquele Nova Espécie, mas quando Cedar seguiu Risen ela o acompanhou. Gale e Lion foram atrás.
Olhou para Cedar, assustada.
— O que ele disse... Pode ser verdade?
Ele lhe deu um olhar meigo.
— Pode.
— Cedar... Eu não posso estar grávida. Nós usamos camisinha.
— Menos uma vez.
— Eu não lembro.
— No chuveiro.
Ela arregalou os olhos.
— Não pode ser! Isso tem menos de três semanas! Esse cara não pode saber!
Cedar apertou sua mão e sorriu.
— Ele está te ouvindo.
— Ah!
— Fique calma. Iremos ao Centro Médico.
— Vou morrer de ansiedade!
Ele apenas sorriu e a ajudou a caminhar pela floresta. Em poucos minutos chegaram a uma casa pequena, de paredes de vidro. Era linda, cercada por árvores e debaixo de uma abertura entre as copas que a cobria com a luz do sol.
Entraram na casa e Clara ficou admirada com a beleza. Os cômodos estavam num espaço aberto e ela podia ver desde a cozinha até a cama enorme.
— Seja bem vinda em minha casa. Quer água? Uma fruta? Colhi jambo hoje mesmo.
Ela sentiu a boca encher de água.
— Nunca comi jambo.
Ele foi até a cozinha e trouxe o prato com várias frutas vermelhas, parecidas com peras.
— Coma um.
Clara pegou uma fruta e mordeu.
— É delicioso!
— Pode levar estes.
— Obrigada.
Risen indicou um sofá rústico.
— Me chamam de selvagem, mas gosto de conforto. - ela sorriu. — Lion e Gale têm casas, mas não ligam. - olhou para Cedar. Fiz o que você me pediu.
Risen entregou um papel a Cedar.
— Obrigado, Risen.
— Não quero que Lion saiba.
— Ele não saberá.
Risen foi até à cozinha, pegou uma folha de papel ofício e embrulhou alguns jambos. Cedar se levantou e Clara o imitou.
— Jogue as sementes na floresta. - disse Risen, entregando as frutas.
— Obrigada.
— Você é espécie agora. Pode vir sempre que quiser.
— Pedirei ao Cedar para me trazer.
Cedar se despediu e saíram para a floresta. Ele a pegou no colo e Clara deu um gritinho.
— Você nunca me avisa!
Cedar apenas riu. Chegaram na clareira e ele gritou.
— Até um outro dia, amigos! Me procurem se precisarem de algo!
Ouviram dois rugidos como resposta e depois o silêncio. Cedar voltou a andar rapidamente, quase correndo e ela se aconchegou entre seus braços.

Cedar era tido como um macho reservado. Interagia com seus amigos, mas não gostava de aglomerações. Ter ido na festa de despedida de Fiber e Aruana fora uma concessão por causa do seu cargo. E confessava que queria ver Clara.
No momento ele queria gritar para os quatro cantos da Terra que Clara esperava um filho seu.
Quando Risen dissera que havia o cheiro de outro macho em Clara, todo o seu corpo endurecera. Ele não sentira nenhum cheiro de Painting, contudo  sabia que Risen podia discernir odores que mesmo ele, como canino , não conseguia. Clara também ficou alterada e, por um momento fugaz, imaginou que fora por ser denunciada.
Então, se acalmando, sua razão o fizera ver o absurdo dos seus pensamentos; Clara era sua companheira e o amava.
Quase corria pela floresta na pressa de chegar ao Centro Médico. Seu coração lhe dizia que Risen estava certo, porém sua lógica carecia de confirmação. Queria corree, mas se preocupava com Clara, principalmente agora. Humanas eram muito frágeis.
Sentiu os odores da vila e sorriu. A pequena viagem fora rápida.
— Estamos chegando? - ela falou em seu ouvido.
— Está cansada?
— Um pouco dolorida.
Cedar parou.
— Quer caminhar?
— Quero.
Ele a abaixou e ela riu.
— Você não é exatamente um transporte confortável.
— Não? Você gosta de ficar em meus braços.
— Não correndo pela floresta.
— Eu não corri.
— Quer apostar que não gastamos nem meia hora para chegarmos aqui?
Cedar admirou o rostinho engraçado. Clara sempre tinha um argumento.
— Está bem. Andarei devagar.
— Não. Já estamos pertinho.
— Venha, Clara. - Cedar abriu os braços e ela o olhou em dúvida. — Venha.
Clara fez uma careta, mas entrou nos braços dele. Cedar a ergueu no colo e começou a andar, de fato, devagar.
Ele queria correr, porém queria agrada-la.
Entraram na vila e ele viu humanos indo para o Clube.'
— Quer almoçar?
— Amor, eu vou ficar maluca se não formos ao Centro Médico agora.
— Está bem. - ele também estava ansioso.
Caminhou em direção ao Centro Médico bem devagar, sendo cumprimentado pelas pessoas que encontravam. Somente os humanos os olhavam com espanto.
Chegaram ao local e o recepcionista se levantou.
— Cedar. Sua companheira está doente ?
— Espero que não.
— Hoje à plantonista é a doutora Thainá?
— Seria o Bishop por causa... - olhou para Clara. — Bem, do casamento. Mas a doutora trocou o plantão.
— Certo. Preciso vê-la.
— Vou chamar a enfermeira.
— Obrigado.
Cedar beijou a testa de Clara.
— Seja qual for o resultado, eu te amo. - o rosto dela ficou vermelho e o encarou. — O que foi? Está se sentindo mal?
— É a primeira vez que diz que me ama...
— Eu te amo há muito tempo.
— Mas nunca disse. Desde quando você sabe?
— Desde que dancei com você na festa do Fiber
Ela abriu muito os olhos e começou a falar.
— Eu estou...
— Senhor Cedar? Pode me acompanhar na triagem? - a enfermeira olhou para Clara muito seriamente.
Cedar ignorou a enfermeira Sueli e atravessou a sala de espera sempre com sua companheira no colo.
Esfregou o queixo em sua testa. Ele a amava demais.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora