Capítulo 64

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Os dias passaram e se transformaram em semanas e as semanas em um mês. Clara recebera tantas visitas que Cedar pedira à Confidence que ela permitisse apenas uma visita de hora em hora, mesmo assim fora do horário das refeições e soneca. Uma visita, entretanto Clara permitiu sem restrição de horário.
Naquela manhã de sábado, Rosângela trouxera Órion e o menino era a cópia viva de seu pai, Starlight. Ainda não tinha 2 anos, mas era bem alto para a idade; conseguia articular frases completas e Clara ria da sua tagarelice. O desenvolvimento das crianças Novas Espécies era mais acelerado do que a das humanas, principalmente intelectualmente. Aprendiam a falar muito cedo e o processo de aprendizagem era assustador para ela.
Confidence estava com o menininho nos braços, brincando de gangorra.
Clara imaginou como seria o seu filho.
— Starlight quer que eu o ensine a ler, mas acho muito cedo. - contou Rosângela.
— O que a pedagoga acha?
— A antiga pedagoga, você quer dizer. A professora
Silvânia não conseguiu se adaptar às diferenças.
— Ela tem medo das Novas Espécies?
— Isso também, mas ficou surpresa ao ouvir Peace conversar revezando o inglês e o português.
— Mas isso ele já fazia.
— Não enquanto ele ensinava a língua dos pais ao Toriba e ao Órion.
— Ué, não viu como algo bom?
— Peace estava usando os livros dela!
Clara arregalou os olhos.
— Quantos anos ele tem?
— Fará 4 na semana que vem.
— Puxa!
— E agora Órion está incomodando o pai que quer aprender a ler de qualquer jeito.
Órion se animou ao ouvir seu nome.
— Órion qué lê!
Rosângela pegou o filho no colo.
— Depois a mamãe vê isso.
— O Peace sabe!
— Mas você é só um bebê.
O garotinho sorriu e se aconchegou no colo da mãe.
— Então quelo mamá.
Rosângela deu um olhar constrangido para Clara.
— Não consegui desmamá-lo ainda. Starlight insiste que o filhote dele mame até quando quiser.
— Filhote?
Rosângela riu.
— Meu companheiro não é o único que chama o filho de filhote.
Clara riu. Gostava demais da interação com as outras companheiras. Ver as crianças Novas Espécies a enchia de alegria. Mais dois bebês haviam nascido em Homeland III e um dos nascimentos fora muito comentado. Um bebê nascera com algumas características da mãe. Cedar explicara que era raro, porém já havia acontecido antes.
Ela ficou imaginando se Isaac nasceria com seus cabelos crespos.
Confidence colocou Órion no chão e entregou um saco cheio de peças coloridas para montar
— Vamos começar? Quer fazer o cabelo primeiro, Rosângela?- Confidence faria a maquiagem.
— Acho melhor. Quero fazer um penteado simples, mas charmoso.
Clara se levantou.
— Obrigada por ajudarem a me arrumar para o casamento. - agradeceu Clara, segurando os quadris e se alongando.
— Você ficará mais bonita do que já é. - Clara deu uma risadinha incrédula para Rosângela.
Confidence balançou a cabeça.
— É bonita, sim, e Cedar não conseguirá tirar os olhos de você.
O sorriso de Clara aumentou.
— Obrigada.
O penteado ficou lindo; Rosângela reavivou os cachos e, ergueu os seus cabelos, prendendo-os com um fio dourado. Clara considerou o penteado sofisticado.
Depois Confidence fez uma maquiagem leve com tons dourados.
Quando Clara colocou o vestido em estilo regência, achou-se linda. Não se assemelhava mais a uma fadinha, como Cedar dizia; a barriga de 14 semanas se projetava orgulhosamente à frente do seu corpo. O doutor Bishop explicara que a gravidez podia ser comparada ao sétimo mês de uma humana.
Esfregou a lombar e agradeceu às amigas.
— Eu amei.
As duas sorriram para ela.
— Vamos. - disse Confidence, pegando sua bolsinha. — Cedar deve estar impaciente.
Clara saiu acompanhada pelas amigas. O horário do casamento fora escolhido, porque pela manhã o clima estaria mais fresco.
Chegaram no pátio entre as residências e Clara achou a pequena caminhada muito cansativa. Ela viu o pequeno tablado  onde o noivo estava com o celebrante. Um arco com cipó trançado com flores de um azul muito claro. Duas fileiras de cadeiras ladeavam um longo tapete vermelho. Presos nas cadeiras do corredor haviam pequenos buquês de flores brancas com fitas azuis. A decoração estava linda, porém o olhar de Clara estava preso no do homem enorme com luxuriantes e longos cabelos castanhos avermelhados. Cedar estava tão lindo... Blade estava ao seu lado, também muito bonito.
Clara caminhou pelo tapete, sem tirar os olhos do seu companheiro. Cedar sorriu para ela que gostaria de correr para ele.
Então a marcha nupcial começou e todos se levantaram. Ela sentiu vontade de sentar, mas ficou em pé ao lado de Confidence. Olhou para o início do tapete.
Thainá, de braço dado com Josivaldo, aguardou um instante antes de começar a caminhar. Seu vestido de noiva era pérola de alças fininhas e se moldava perfeitamente ao corpo da médica e tornava ainda mais bonita a sua pele negra. Uma tiara brilhante estava acomodada no cabelo cortado muito curto depois da cirurgia. Sua recuperação foi tranquila e não ficara com nenhuma sequela.
Quando Thainá e Josivaldo começaram a caminhada, Clara se virou para olhar Blade. O homem parecia que cairia no choro. Estava visivelmente emocionado, os olhos brilhantes, acompanhando sua noiva chegar.
Alguns dias após a cirurgia, Thainá voltara para a colônia. Sky abrira mão da sua cabana para Blade ocupá-la com a médica. Ele se licenciara do seu trabalho para cuidar dela. A enfermeira Sueli sempre o expulsava para trocar o curativo de Thainá, porque ele agia como se a senhora fosse arrancar o cérebro dela durante o procedimento.
Blade esperou apenas que ela se sentisse restabelecida para assumir o compromisso de companheiros. Como a maioria das noivas humanas, Thainá quisera um casamento tradicional. Como ainda era o líder de Homeland III, Cedar oficiaria o casamento civil, porém o padre de Santa Rosa conduziria a parte religiosa.
Clara sorriu, pensando que seu casamento parecia encantado. Por ela teriam aproveitado a vinda de Bestial para assinar o contrato de companheiros, entretanto sua mãe exigira um casamento humano. E ali estava ela com seu barrigão.
Viajariam na próxima segunda-feira feira para Homeland I; seu filho nasceria na primeira pátria das Novas Espécies.
Thainá chegou ao tablado e, depois de um beijo de Josivaldo, estendeu a mão para o noivo. Ansioso, Blade fez todos rirem, pois beijou a noiva antes do tempo. Depois de aplausos e assobios, Cedar iniciou a parte formal da cerimônia.
Clara acompanhou tudo com pouca atenção , pois suas costas doíam e Isaac estava muito agitado. Acariciava o ventre tentando se conectar ao filho, mas ele parecia que não estava disposto a colaborar. O ofício religioso  terminou e os noivos caminharam pelo tapete não se levantou, incomodada com a dor que descera para os seus quadris.
Quando os noivos terminaram a passagem, alguns convidados saíram dos seus lugares. A recepção no Clube prometia ser animada.
Ainda no tablado, Cedar conversava com o padre. Clara se levantou e fez sinal para ele, que fez sinal para ela esperar um pouco.
Então, sentindo uma pressão na vagina, ela se espantou ao sentir líquido ensopando sua calcinha e escorrendo pela perna. Seu rosto ficou vermelho, imaginando que tinha se urinado, mas uma dor forte comprimiu seu quadril e ela se inclinou para a frente, tomada de surpresa. Ouviu um rosnado alto. Levantou a cabeça e viu seu companheiro, pálido, correndo do tablado para ela.
Só então se deu conta que seu filho estava nascendo!

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