Clara ouviu vozes alteradas e um corpo muito quente estava colado ao seu. De início, pensou que estava em casa, na cama com Cedar. Então as lembranças voltaram e ela abriu os olhos, assustada.
— Cedar!
Havia pouquíssima claridade, mas visualizou um rosto sardento muito próximo do seu e percebeu que estava em seu colo.
— Fique tranquila.
Clara notou que era o Nova Espécie ruivo.
— Onde está Cedar?
— Já está no barco.
— Barco?
Clara viu que estavam à margem do rio e uma embarcação antiga flutuava bem perto.
— Preciso que confie em mim. - ele a colocou em pé. — Suba em minhas costas e nadarei até o barco.
— Eu... Quem é você?
— Meu nome é Red. - Clara se lembrou do homem com a aparência de um rapazinho. Ela o vira uma vez patrulhando no deck recreativo construído à margem do rio. — Suba, por favor.
Red se ajoelhou e Clara subiu em suas costas. Não havia motivo para dúvidas; precisava ver Cedar.
No momento em que subiu, viu a sombra de dois homens nadando e carregando um corpo. Só podia ser Thainá.
Red entrou na água e logo estava nadando. A correnteza estava forte, porém ele não vacilou em nenhum momento. Rapidamente chegaram ao barco.
Starlight estendeu as mãos para ela e Clara as agarrou. Foi puxada facilmente e ele a colocou dentro do barco.
Clara arregalou os olhos quando viu Cedar deitado e Sky e Cloud reclinados sobre ele; Sky realizava uma massagem cardíaca para ressuscitação. Clara soltou Starlight e correu para ele.
— Cedar!
Ajoelhou -se ao lado do seu amor, o estômago revirando ao ver seu rosto pálido e lábios azuis. Cloud se abaixou e cobriu a boca de Cedar com a sua expirando fortemente. Sky gritou para a proa.
— Rápido com isso!
O motor do barco respondeu à ordem dele, que voltou aos movimentos.
Clara sentia as lágrimas quentes rolando por seu rosto. Abraçou seu ventre como se pudesse se unir ao filho naquele momento.
Cloud soprou novamente e o peito de Cedar se moveu. Cloud ergueu o rosto.
— Ele está respirando.
Clara suspirou, aliviada. Sky gritou.
— As camisas! Me passem as suas camisas!
Os Novas Espécies que estavam com as roupas secas arrancaram as camisas e passaram para Sky, que cobriu Cedar o máximo possível. Ele a olhou.
— Você está bem, Clara?
— Eu não sei.
— Eu quero dizer, o bebê.
Clara limpou as lágrimas do rosto.
—Eu não sei.
Sky a olhou com preocupação.
— Fique com Cedar, o aqueça. Logo chegaremos à colônia.
Ela se deitou ao lado do companheiro. Tocou seu rosto frio e sentiu que sua respiração estava muito fraca. Ouviu vozes alteradas, mas não levantou a cabeça. Apenas percebeu que a voz mais alta era a de Blade.
A noite caiu e depois de um tempo que não sabia qual, Cloud se ajoelhou ao seu lado.
— Conseguimos sinal de celular. Enviarão lanchas para nos encontrar.
Ela o olhou, assustada e triste demais para fazer comentários. Cloud se levantou e Clara fechou os olhos, a mão percorrendo o rosto de Cedar, sem coragem de perguntar por Thainá.
Sem saber quanto tempo se passou, ouviu o barulho das lanchas se aproximando. Quatro Novas Espécies os cercaram.
— Companheira de Cedar. - chamou um homem de pele escura. — Nós o levaremos agora.
Clara fungou e se levantou; viu uma lancha encostada no barco. Os homens ergueram Cedar e o levaram até o amurada; com muito cuidado o passaram para as mãos de homens na outra embarcação. Depois um dos Novas Espécies estendeu as mãos para ela. Clara não hesitou e as pegou; o homem a pegou no colo e a passou para a lancha.
Ela observou os homens colocarem Cedar sobre uma lona e Josivaldo se inclinar sobre ele. O enfermeiro retirou as camisas úmidas e cobriu Cedar com uma manta de alumínio. Colocou uma máscara inaladora e começou a bombear um respirador pulmonar.
Clara levou um susto com a mão que a tocou. Virou-se e viu Creek, que abriu os braços e Clara se aconchegou neles.
— Pequenina... - a Nova Espécie falou acima do barulho dos motores. Clara ergueu os olhos inchados. — Sente-se aqui.
Ela fez Clara se sentar no assento na lateral da lancha.
— Conseguimos um helicóptero para trazer o doutor Bishop. - balançou a cabeça. — E logo chegaremos.
Clara continuou olhando para Cedar, mas respondeu.
— Estou com tanto medo...
Creek manteve um braço sobre os ombros dela.
— Painting a machucou?
— Não diretamente.
— O que está sentindo?
— Minha barriga dói. - voltou a chorar. — E eu sangrei.
— Dará tudo certo.
— O Cedar... Eu não sei... Tenho medo que ele...
— Como os humanos dizem, pense positivamente.
Clara começou a se levantar.
— Fique aqui. - pediu Creek.
— Quero ficar com meu companheiro.
Creek se levantou junto com ela e se aproximaram de Cedar. Josivaldo olhou para Clara e, em silêncio, formou um sinto muito com os lábios.
O enfermeiro sinalizou para Creek pegar o respirador. Josivaldo pegou um equipo e puncionou uma veia de Cedar.
Clara apenas se deixou ficar do lado de Cedar, acompanhando atentamente o movimento do peito dele.
A lancha desacelerou e logo chegaram no cais. Uma pequena multidão aguardava e, quando a lancha atracou, três macas foram trazidas. Um enfermeiro e uma enfermeira Novas Espécies estavam prontos e quando removeram Cedar do barco, Red segurou Clara. Ela permitiu que ele a carregasse até uma maca.
Quando sua maca estava sendo colocada num jipe ela notou que o que carregava Cedar disparou.
— Clara, estou contigo. - disse Creek, ajudando a enfermeira a prender seus pulsos e tornozelos com
Ouviu um homem gritando ordens e, antes que seu jipe partisse, percebeu que era Blade, agitado à cabeceira da maca de Thainá.
Fechou os olhos rogando a Deus que salvasse Isaac, Cedar e Thainá.Algumas horas depois, Creek dividia com duas dezenas de espécies a sala de espera do Centro Médico.
Estava aliviada, pois o doutor Bishop trouxera um colega médico de Santa Rosa. Junto com os enfermeiros levaram Cedar e Thainá para o centro cirúrgico. Clara foi banhada e colocada num leito; o doutor fizer um atendimento de emergência e voltara para a sala de cirurgia. A companheira de Cedar estava assustada, mas se manteve quieta enquanto cuidavam do seu companheiro.
Starlight e outros oficiais já haviam chegado com Painting e o piloto do barco. Painting fora sedado e agora estava na enfermaria masculina vigiado por três espécies.
Creek viu Blade voltar para a sala de espera. O macho estava bastante abatido. Vários espécies o cercaram, consolando-o. Naqueles dois anos na colônia ela nunca o vira daquele jeito. No cais gritara com todos, pedindo que se apressassem. O doutor Bishop chegara a recuar quando ele lhe mostrara as presas.
Blade se aproximou dela e deixou-se cair no sofá.
— Como ela está? - Creek perguntou, apertando o joelho do amigo.
— O projétil não atravessou o crânio, porém provocou uma fissura séria. Bishop a enviará para Rio Branco de helicóptero. Ela precisa deum neurocirurgião.
— Vai dar tudo certo.
Blade abaixou a cabeça.
— Eu nunca disse o que sentia por ela. Estamos juntos há um ano e sequer a tornei minha companheira.
Creek o observou por um momento. Breeze lhe contara da paixão de Blade pela companheira de Jaded. Quando ele se envolvera com Thainá ficara feliz por ele. Os dias, porém foram passando, as semanas e ele não reivindicara a médica como sua cimpo. Curiosos como eram, todos os Novas Espécies se perguntavam o motivo de Blade ter um relacionamento, um namoro, como dos humanos. Já havia um ano que ele era visto entrando na casa de Thainá, tomando algumas refeições com ela, passeando pela floresta e nunca agira como um companheiro.
Agora, ele mostrava o rosto transtornado, a voz tensa. O que aquilo podia significar?
Tocou a mão dele.
— Me diga: por que não a tomou como companheira?
Blade a encarou, os olhos vermelhos.
— Eu tinha medo.
— De quê?
— Eu já amei antes. - torceu os lábios. — Meu coração se acasalou com Cecília, mas ela escolheu Jaded. Quem diz que Thainá não fará o mesmo.
— Mas ela te ama, não ama?
— Ela nunca me disse.
— Todo mundo sabe que ela te ama.
Blade a olhou com uma expressão que era quase cômica.
— Por que ela amaria um macho que foi humilhado?
— Thainá não é espécie; não vê as coisas como você. - balançou a cabeça.— Eu sei que ela te ama. Toda a colônia sabe que ela te ama. Como você não sabe?
O macho abriu a boca para responder, porém Josivaldo entrou na sala e fez sinal para ele. Blade se levantou e foi até o enfermeiro.
Creek acompanhou Blade concordar com algo que Josivaldo falava e sair rapidamente.
Creek se aproximou do enfermeiro.
— O que houve?
— Vamos remover a doutora e o Cedar agora. Sky já resolveu com o hospital em Rio Branco.
— Certo.
O rapaz voltou pelo corredor e Creek se virou. Todos os espécies olhavam para ela.
— Alguma novidade, Creek?
Ela repetiu o que Josivaldo dissera e deixou seus amigos comentando o assunto em voz baixa.
Respirou fundo e voltou para a enfermaria para fazer companhia à Clara.
Desejou ter a fé dos humanos e pedir ao seu Deus para salvar seus amigos e o bebê de Cedar.
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...