Capítulo 58

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Cedar ainda se sentia letárgico e concordara em ir na garupa de Starlight. Evitava de escalar para missões pesadas os oficiais acasalados, principalmente os que tinham filhos, mas o macho fizera questão de participar da equipe de busca.
Não tinham a localização de Painting, porque Breeze descobriu seu celular no dormitório masculino, porém atravessaram a floresta pela trilha rústica, sem se importar com os solavancos e quase tombos.
Starlight diminuiu a velocidade por ordem de Cedar. Mais à frente começava a Zona Selvagem.
— Aqui está bom.
O macho parou a motocicleta. Cedar saltou, um pouco sem equilíbrio, e caminhou na direção da floresta. Blade se colocou ao seu lado.
Quando já estavam longe o bastante da trilha, Cedar tirou um apito do bolso e o soprou. Humanos não conseguiriam ouvir aquela frequência, mas o aviso não era para eles mesmo.
Cedar esperou e um uivo soou ao longe.
— Risen respondeu.
Alguns minutos se passaram e Gale e Risen apareceram correndo. Risen estreitou os olhos e mirou à distância por cima do ombro de Cedar, para os homens montados em motocicletas.
— O que aconteceu, Cedar?
Gale apontou para o capacete dele.
— Está indo para um combate ?
— Estamos procurando minha mulher.
— Ela se perdeu de você?- Gale continuou.
— Clara foi sequestrada por um espécie. - os dois selvagens franziram as sobrancelhas. — Preciso alcançá-los.
— Você quer que vamos com vocês?- perguntou Risen.
— Não. Quero permissão para atravessar suas terras com nossos veículos.
Gale balançou a cabeça.
— Não queremos máquinas aqui. - apontou para o coldre na cintura de Cedar. — Nem armas.
— Precisamos passar. Onde está Lion?
Risen se aproximou de Cedar.
— Não sei. Ele some às vezes.
— Risen, você responde pela Reserva na ausência de Lion. Preciso passar.
— Você prometeu que não perturbaria nós e os animais selvagens. Eles já estão agitados com tantas presenças aqui.
— Por favor, Risen. Minha companheira carrega o meu filho. Não posso perdê-los.
— Vocês e aqueles oficiais humanos já atravessaram a floresta à pé.
— Não temos tempo. - Cedar arrancou o capacete e Risen arregalou os olhos. Cedar sabia o que ele via. Seus olhos estavam inchados de tanto que chorara no caminho. — Eu prometi, mas te imploro.
Gale se aproximou.
— Nunca vi um macho chorar.
— Eu já vi... - comentou Risen. — Mas estava sendo torturado em Mercille. Sente dor?
— Sinto medo de perder minha companheira e meu filho.
Estendendo a mão, Gale tocou a face de Cedar. Depois esfregou um dedo no outro.
— Eu já chorei, mas ninguém viu. Mataram 312 que dividia a gaiola comigo. Eu fiquei sozinho.
Ficaram um momento em silêncio.
— Mas você prometeu, Cedar.,- Risen lembrou.
— Eu tenho autoridade para suspender a restrição, mas quero que me permitam.
Gale segurou o braço de Risen.
— Cedar está sofrendo muito.
— Não podemos tomar uma decisão sem Lion.
— Lion não iria ajudar Cedar no casamento?
— Ele é o meu padrinho.
Gale pareceu não entender, porém ficou quieto.  Risen mordeu o lábio inferior. Olhou para Gale e de volta para Cedar.
— Os animais sofrerão.
— Vocês também, eu sei.
Risen respirou fundo antes de falar.
— Cedar, você é nosso líder, pode nos ordenar, mas permitiremos, porque é nosso irmão.
Cedar abaixou a cabeça, aliviado.
— Obrigado.
— Não vamos com você, Cedar, por causa das máquinas.
— Eu entendo.
Risen olhou para Gale.
— Vamos.
O macho mais jovem concordou com a cabeça e ambos se embrenharam na floresta. Cedar limpou o rosto e se virou. Blade o olhava, perplexo.
— Você está bem?
— Ficarei.
Cedar colocou o capacete de volta e correu de volta para a trilha, com Blade  ao seu lado. Alcançaram os oficiais nas motocicletas.
— Atravessaremos a Zona Selvagem agora. Sei que será difícil, mas teremos que tomar todo o cuidado com os animais. - virou-se para Starlight. — Dirigirei agora.
— Tem certeza?
— Sim.
O macho passou para a garupa e Cedar sentou-se.  Girou a chave e prosseguiram pela trilha que fora aberta apenas para instalar os espécies selvagens.
Antes de chegarem no limite da Zona Selvagem, Cedar recebera atualizações dos oficiais nos postos às margens do rio. O posto mais avançado detectara uma embarcação se aproximando, porém o barco manobrara, retornando de onde viera. Cedar autorizou uma busca pela embarcação, imaginando que poderia ser o transporte de fuga de Painting.
Sentia um ódio visceral, pois aquele macho criminoso estava forçando Clara a se arriscar no meio de uma floresta fechada.
Chegaram ao final da trilha. Os dez espécies estavam preparados com rádios, facões, se precisassem abrir caminho, e suas armas. Cedar não usaria a sua; mataria Painting com as próprias mãos.
Blade se aproximou.
Thainá arfou quando Blade a pegou no colo.
— Se ficar tonta ou enjoada, me avise.
— Unhum...
Cedar fitou o casal com curiosidade. Um ano se passara desde que ouvira que Blade se relacionava com a médica, entretanto ele não a reivindicara como sua companheira. Sabia o que Blade sentira pela mulher de Jaded e só soubera de outro espécie que amara uma mulher acasalada, Destiny. E aquilo terminara com o macho quase morto por Obsidian e enviado para sempre para a Reserva. Assim como Blade fora mandado para Homeland III. O que ele sentia por Thainá, afinal?
Desviou o olhar e sinalizou para os espécies.
— Agora.
Como um só corpo, todos dirigiram para dentro da floresta.

Painting segurava a cabeça de Lion sobre suas coxas, sem deixar de pressionar a ferida nas costas. O tecido que Clara colocara na entrada da bala estava totalmente vermelho. Ela ergueu os olhos para ele.
— Ele precisa ser levado para o Centro Médico.
— O barco está nos esperando.
— Painting, eu não vou com você.
Ele a encarou.
— Irá comigo e construiremos uma vida juntos.
Clara balançou a cabeça.
— Antes eu sentia afeto por você, mas agora tudo o que sinto é ódio.
Ele a olhou mostrando mágoa.
— Eu te farei feliz.
O olhar de Clara endureceu.
— Lion pode morrer por hemorragia! - Painting apertou os lábios. Clara queria explodir, chorar, contudo precisava se controlar por causa de Lion. — Você quer ser responsável pela morte dele?
— Eu já matei outras vezes.
— Um igual a você?
— Não. - sua voz soou cavernosa.
— Mas você vai matar!
Painting olhou para o rosto de Lion. Estava de olhos fechados, silencioso e seus lábios estavam pálidos.
— Podemos levá-lo no barco.
— Até onde? No meio da floresta? - Lion gemeu. — Painting, por favor.
Ele balançou a cabeça.
— Não voltarei para a colônia.. - respirou fundo e rapidamente. — Ou o levamos ou o deixaremos aqui.
Você o está deixando.
— Cedar o encontrará.
— Pode ser tarde demais.
Painting olhou através de Clara.
— Não posso.
— Por favor!
Ele repousou a cabeça de Lion no chão, se levantou e estendeu a mão para Clara.
— Vamos.
Clara abriu a boca, espantada.
— O... o que houve com você? Você sempre foi justo e bondoso.
— Eu sempre fui assim. - abaixou-se e segurou o braço dela. - Mas eu quis ser um macho que você amasse.
— Não. Eu te conheço. Você... você é um amigo compassivo, um veterinário dedicado e é tão bom com as crianças...
Painting olhou para o sangue que passou de sua mão para o braço de Clara.
— Sabe o que eu era antes de vir para cá? Um oficial preparado para matar pela ONE. Eu me feri na França e me mandaram para cá. Eu já estava louco de ficar aqui. Eu queria minhas armas, queria matar humanos, queria voltar para Homeland. E aí você apareceu. - ele suspirou e a puxou para si. - Entendi o que Fiber me disse. Ele foi mudado pela sua fêmea. - abraçou Clara. - Eu te quis tanto, mas achei que Cedar era melhor do que eu.
— Por favor, Painting...
— Eu sugeri para Emerald que ela deveria ser a companheira de Cedar.
— Você disse?
— Ela não pensava nisso antes de eu dizer.
— Painting...
— Cedar tentou me matar e eu disse que você só queria ele. Foi a melhor maneira de me manter vivo e conquistar você.
Clara tentou empurrá-lo, entretanto ele sequer chegou a se mover.
— Por que está me dizendo isso?
— Para entender que fui e sou capaz de praticar qualquer ato para você ser minha.  - ela balançou a cabeça, mais triste do que assustada. — Inclusive deixar esse macho morrer.
— Não. Eu não acredito que fará isso.
— E...
O ronco de motocicletas chegou até eles. Painting se virou, prestando atenção no som.
Clara respirou fundo. Cedar estava vindo...

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