Capítulo 4

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Cedar já vira humanas deslumbradas por sua aparência. Sempre as tratara com educação, porém com distanciamento. Gostava das companheiras dos seus irmãos e protegeria seus filhos com a vida. Admirava como Justice e Jaded conviviam com os humanos. Ele apenas os tolerava.
Lembrava-se dos médicos e técnicos que o torturavam; as mulheres não eram tão diferentes. Mostravam seu medo, mas não se negavam a espetá-lo e introduzir substâncias em seu corpo que lhe faziam mal.
Era um conselheiro e por isso motivava seus irmãos a conviverem com humanos, usando aqueles que trabalhavam para a ONE e as companheiras como exemplo.
Agora estava com aquela garota à sua frente, pequenina em seu vestido curto que o olhava como se fosse um ser fantástico. Bem, ele era um, mas ela não precisava mostrar tanto encantamento por ele.
Franziu as sobrancelhas enquanto ela percorria todo o seu corpo com os olhos. O desejo estava explícito em seu rosto o que o irritou mais.
— E então?
Ela piscou rapidamente .
— Boa noite... De novo.
Estendeu o aparelho telefônico para ela.
— Seu celular ficou aqui.
— Ah... é... eu vivo perdendo...
Fiber arqueou uma sobrancelha.
— Espero que não seja descuidada assim no seu trabalho. - ela abriu a boca, o rosto fino demonstrando mágoa. Cedar se arrependeu no mesmo instante, mas continuou a falar. — Está preparada para começar amanhã ou precisa de mais um dia para se organizar?
— E-eu prefiro começar amanhã.
— Deveria descansar, não?
Ele viu os vincos se formando em sua testa.
— Eu vou, claro.
Cedar fechou o botão da bermuda e notou que ela acompanhou seus movimentos. Observou-a mais uma vez. Era totalmente diferente das fêmeas espécies e diferente também das mulheres que já se ofereceram para compartilhar sexo com ele. Ela lhe lembrava algo que vira num livro infantil que comprara para Forest.
Uma fadinha.
O nariz arrebitado lhe dava um ar petulante e ela toda parecia um garoto levado. Admirou os seios pequenos que só aumentava a figura de um ser frágil.
— Boa noite, senhorita Domingues.
— Ah... Boa noite.
Ela se virou e saiu. A saia girou e ele quase viu suas nádegas. Franziu novamente as sobrancelhas; não havia nada naquela mulherzinha para atraí-lo.
Voltou para a mesa e prendeu sua atenção ao trabalho. Olhou para a porta que ela deixara aberta.
Uma fadinha... Que ridículo.

Clara saiu da sala com o rosto queimando. Mais uma vez agira como uma pateta com o líder de Homeland III. Se ele a achara uma desajeitada, agora deveria pensar que era uma mulher carente de homem. Como não pensar se ela praticamente babara ao ver seu corpo tão exposto?
Verity saiu do banheiro na hora que ela parou à porta.
— Pegou o celular?
— Peguei.
A mulher a examinou.
— O que houve? Ficou com medo do Cedar?
— N-não.
— Não se preocupe. Ele está acostumado a que os humanos o temam.
Clara franziu a testa.
— Eu não tenho medo dele.
— Pode sentir. Os humanos têm medo de nossa força e habilidades.
Ela se lembrou que a violência das Novas Espécies estava bem documentada, mesmo que eles estivessem se defendendo.
— Não tenho medo. - repetiu.
— Isso é bom, porque irá vê-lo muito.
— Irei?
— Cedar está em todas os lugares da colônia. É muito dedicado.
— Ah...
Caminharam conversando sobre as Novas Espécies e sua adaptação ao mundo humano.
Verity quis levá-la de volta ao Clube, mas sentia-se cansada e desanimada. Foram para os dormitórios e Verity avisou que estaria no saguão até às 22 horas, mas haveria oficiais patrulhando a área. Clara achou que as Novas Espécies se preocupavam muito com segurança, porém não fez comentários.
Já dentro do seu pequeno apartamento, se permitiu tirar a máscara de tranquila civilidade. Desanimada, tirou a roupa e vestiu sua camisola rosa com babadinhos. Olhou-se no espelho; não era bonita, era muito magra e seu cabelo parecia que passara por um vendaval. O senhor Cedar devia ter rido muito por ela sequer disfarçar o deslumbre por ele.
Chateada, deitou-se e descobriu que estava muito cansada. Dormiu.

Nos dias seguintes Clara se dedicou primeiro a atender os pedidos do engenheiro agrônomo, Felipe. Verificara a vacinação das vacas e dos suínos, mudara a ração das galinhas e atendera várias demandas de animais domésticos.
Sua primeira ida à floresta se tornara um evento, pois quatro Novas espécies, sendo uma mulher, se interessaram a aprender com ela. Dois oficiais foram para controlar qualquer espécie selvagem mais ousada e um se sentira curioso e fora atrás do grupo.
Mesmo com uma equipe tão grande Clara conseguira atender uma onça pintada e seus filhotes e colocar rastreadores neles.
Ficara impressionada como as Novas Espécies controlavam tão bem os animais selvagens.
Por fim, o Nova Espécie curioso se revelara um excelente vacinador. Clara voltou para a vila no final da manhã sentindo-se realizada. Estava suja, cheirava a animais e seu cabelos estavam ainda mais bagunçados.
Sua escolta durante o dia, Emerald, a levou de volta ao dormitório. Clara queria tomar um banho. Seu celular tocou e levou um susto quando ouviu a voz grave.
Clara Domingues. Você está bem?
— Eu... eu... estou.
Recebi um feedback do Felipe. Ele achou seu trabalho excelente.
— Ah, obrigada.
— Foi ele quem disse, senhorita.
Clara enrubesceu. Definitivamente ele estava sendo desagradável com ela. Respirou fundo.
— O senhor foi forçado a me contratar?
Não.
— Tinha alguém que preferisse mais?
Não.
— Eu o ofendi, por acaso?
Não.
Ela se encheu de coragem.
Então, por que tenho a sensação de que não gosta de mim? - houve silêncio do outro lado da ligação. Demorou tanto que ela pensou que o telefone se desconectara. — Senhor Cedar?
Sinto muito que pense assim. - a voz grave a fez arrepiar-se. — Não pretendi ofende-la. - Clara engoliu em seco. Será que exagerava? Dessa vez foi ela que se calou. Depois de um instante ele voltou a falar. — Permita que me desculpe.
— Está tudo bem.
Silêncio novamente. Clara imaginou que ele estava pensando que ela queria mais elogios.
— Bem, liguei para dizer que estou ciente do seu bom trabalho.
— Obrigada.
Até mais, Clara Domingues.
— Até .
Ela encerrou a ligação e ficou um momento olhando para o celular. Aquele homem mexia com ela.

Cedar colocou o telefone sobre a mesa. Ficou desconcertado com as perguntas dela. Afinal, o que aquela mulher fizera para incomoda-lo tanto?
Embora não gostasse de humanos convivia bem com eles. Não tinha motivos para se aborrecer tanto com ela.
Lembrou-se da figura que não lhe atraía. Era muito diferente das fêmeas espécies. Era magra, sem atrativos e parecia estar sempre distraída.
De repente se deu conta do que o incomodava. Era o olhar de admiração dela. Clara Domingues não conseguia disfarçar seu interesse por ele. Na última vez que a vira aquilo ficara bem claro. Ela o desejava!
Franziu os lábios. Esperava que a mulherzinha não tivesse esperança de conseguir algo com ele.
Desligou o computador e juntou os papéis com que trabalhava.
Só lhe faltava aquilo! Mais uma humana fascinada pela sua aparência animalesca. Saiu da sala sentindo-se mais irritado do que sabia ser o normal.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora