Capítulo 31

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Os próximos dias foram de intensa felicidade para Clara. Ela tinha uma necessidade enorme por Cedar. Não se importava por ele ser mais velho e muito ocupado; todo o tempo juntos era de uma riqueza que satisfazia todos os seus sonhos de menina.
Cedar passara a levá-la ao trabalho e buscá-la todos os dias. Nem com ela dizendo que atrapalhava o seu trabalho ele desistira. Em compensação, Clara ficava em seu escritório até a hora do jantar.
Os dois chegaram a um consenso: Painting continuaria na clínica, mas ela o avisaria se o rapaz a assediasse de alguma forma. Contudo, Clara nunca contaria ao seu amor sobre os olhares famintos de Painting, sobre o modo delicado que ele a tratava. Painting nunca era visto em público com ela; só Emerald testemunhava aquele amor silencioso.
Era o máximo que podia fazer pelo seu amigo.
Os preparativos para o casamento estavam a todo vapor. Quando contara sobre Cedar,  sua família ficara chocada, mas depois se deslumbraram por ela namorar um Nova Espécie. Ao falar do casamento tudo o que sua mãe dissera fora que não estaria perto quando ela escolhesse o vestido de noiva. Emerald, Verity e Confidence seriam madrinhas e as quatro procuraram uma costureira em Santa Rosa.
Cedar convidaria apenas Blade como padrinho, mas como haveria três madrinhas convidara Sky e  Lion, como representante da Zona Selvagem.
Confidence, cujo maior sonho era ser mãe, foi quem ajudou Clara a se decidir por um vestido de alcinhas e saia rodada com várias camadas de tule. Clara sentira-se uma princesa. Naquele dia fora a última prova e levariam os vestidos.
Cedar insistira com ela para fazer mudanças na casa e ela optou apenas por incluir cortinas no quarto, já que a casa passaria para outro líder dali a alguns meses.
Essa fora mais uma surpresa para ela. Poucos dias antes, Justice propusera a Cedar retornar a Homeland e Sky assumir a colônia brasileira. Seu companheiro pedira sua opinião antes e Clara ficara em dúvida. Seus assistentes já acumulavam muitos conhecimentos e experiências, porém  só se sentira mais tranquila quando Painting realizara sua primeira cirurgia sozinho; ela apenas fora sua assistente.
Cedar lhe falara de Homeland I, contara histórias sobre os seus habitantes, mas principalmente mostrara o amor que tinha pela Reserva. Ele prometera que ficariam pouco tempo em Homeland e logo iriam para a Reserva, onde ela trabalharia junto com outro veterinário.
Seus pais, já acostumados a viverem longe da filha, reclamaram um pouco, mas se conformaram.
Agora, na lancha de volta para Homeland III, tagarelando com suas três madrinhas, chegou à conclusão que nunca havia sido tão feliz. Dali a uma semana seria oficializada como companheira de Cedar e um pastor os casaria.
Admirando a beleza daquele lugar, Clara soube que nunca esqueceria aquela parte do Acre. Ali conhecera seu único amor, ali se tornara uma professora. Sua vida estava completa.
Chegaram à colônia no final da tarde e os oficiais observaram com curiosidade o animado grupo que chegava.
Emerald levou Clara para casa e foi para sua casa. Sem querer esperar a hora do jantar fez um copo de chocolate gelado antes do banho e sentou na cama, olhando a capa onde estava guardado o vestido. Podia ser magra e miúda, mas ficaria linda no dia do seu casamento. Sua irmã faria o seu cabelo e maquiagem.
Como sua vida mudara em meses!
Seu telefone tocou e se esticou para pegá-.lo. Reconheceu o nome do irmão. Sua família chegaria na quinta-feira antes do casamento e achou que Roberto ligava para avisar do horário que chegariam em Rio Branco.
— Alô, amore.
— Oi, Clara. Você está bem?
— Tudo ótimo.
Clara ouviu o irmão suspirar.
— Clara, preciso te dar uma notícia ruim.
— O quê?
Papai bateu o carro e teve que operar a perna.
Clara colocou a mão no peito.
— O quê? Como assim?
— Eu avisei que o pneu estava careca, mas ele falou que só trocaria no Natal.
— Mas é daqui a três meses!
Ele derrapou e bateu num muro. A perna sofreu um corte profundo nos tendões, sabe?
— Quando foi isso?
Há duas horas.
Meu Deus! Ele está bem?
— Sua única preocupação é com o casamento.
Clara franziu a testa. Até havia esquecido o seu casamento.
— Eu vou adiar, claro.
— Ele não quer. Disse que eu posso entrar com você.
— Eu te amo, Roberto, mas não casarei sem o papai.
— Eu disse pra ele que você diria isso. Ele pediu para eu tentar assim mesmo.
— Fala para o papai sossegar. Eu vou para o Rio.
Não, garota. Ele está bem. Só ficará sem andar por cerca de dois meses.
— Nossa!
— Clarinha, tem certeza que não quer manter a data?
— Tenho, claro.
— Vou falar com o velho.
Conversaram mais um pouco e encerraram a ligação.
Clara deitou na cama, tonta com a novidade. Dali a dois dias um Conselheiro da ONE, que assinaria o contrato de companheiros, e alguns convidados chegariam.
Terminou de tomar o seu chocolate e lugou para Cedar.

Cedar ouvia Clara explicar o imprevisto com seu pai. Ele lamentou por seu pai e pela decepção de Clara, porém para ele já eram companheiros. A oficialização do seu acasalamento e o casamento civil e religioso eram bem vindos, mas não considerava essencial.
Clara choramingava ao telefone e ele desejou estar ao lado dela.
— Vou para casa agora.
— Não precisa. Você não tem uma reunião com Homeland hoje?
— Tenho.
— Então não venha, amor. Eu vou tomar um banho e te esperarei para o jantar.
Tem certeza?
Tenho, querido.
— Está bem. Ligue para Verity e peça que fique com você.
— Tudo bem.
— Fique calma, fadinha.
Ela fez um barulhinho com a boca.
— Só você para me fazer sentir bem. - suspirou. — Vou desligar, amor.
— Daqui a pouco estarei em casa.
— Está bem. Te amo.
Até logo.
Ela desligou e Cedar se sentiu mal pela tristeza da sua companheira. Sabia como estava animada com o casamento.
Preocupado com ela, ligou para Bestial antes da reunião; o amigo assinaria seu contrato de companheiro.
Depois que falou com Bestial, se conectou a Homeland. Contou para os amigos sobre o adiamento do casamento. Todos se compadeceram dele e Justice prometeu que ele mesmo viria quando houvesse outra data.
Mais tarde, Cedar foi para casa buscar Clara para o jantar. Verity não estava lá e Cedar balançou a cabeça, ciente da teimosia da sua companheira.
Encontrou-a no quarto, dormindo. Sentou-se na cama e acariciou o rostinho.
Não conseguia mais se imaginar vivendo sem ela. Amava-a tanto que chegava a doer, porém não dizia isso a ela. E não sabia o porquê.
Antes a ONE era o mais importante para ele, agora tinha aquela pequena mulher para amar, cuidar e proteger.
A única coisa que o incomodava era a proximidade de Clara com Painting, mas confiava na sua mulher. Não confiava em Painting, claro. Se o macho quisesse Clara tanto quanto ele, já estaria louco àquela hora.
Agradecia ao Deus de Clara por voltar para Homeland e a Reserva. Ela era dele, só dele e queria que Painting se danasse com sua atração equivocada.

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