Capítulo 52

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Clara se encolheu nos braços que antes lhe davam a sensação de força e segurança. Seu choro não era de raiva, mas de perda. Não se conformava de ter perdido tudo de bom entre ela e Cedar. Tentou se afastar, porém ele falou com o rosto mergulhado em seus cachos.
— Acredite em mim; eu daria tudo para voltar no tempo. - ergueu o queixo dela. — Você me ensinou que amar a ONE não era tudo. Eu só... não aprendi.
Ela ergueu os olhos para ele.
— Você acha que eu iria querer outro homem tendo você?
— Eu não sou um homem sensível ou compreensivo.
— Mas era tudo para mim.
— Eu quero continuar sendo, amor. - Clara entendia que ele a ferira, ofendera, machucara... Mas sentira tanta falta daquele abraço. Relaxou o corpo. — Se você disser que me aceita, eu farei tudo para apagar esse momento tão ruim.
Clara o encarou. Como era normalmente, o rosto de Cedar estava muito sério. As sobrancelhas franzidas ajudavam a escurecer o rosto diferente que amava tanto. Os olhos que pareciam chocolate derretido mostravam tensão.
Seu lado mais racional lhe dizia para afastar aquele homem-fera e resistiu ao desejo de beijá-lo.
— Eu preciso voltar para casa.
— Sua casa é aqui.
— É sério, Cedar. Confidence deve estar me procurando.
— Ela sabe que está comigo.
— Sabe?
— Confidence te ligou e eu atendi.
— Não deveria ter feito isso.
Cedar a soltou e levantou da cama. Estendeu a mão.
— Venha almoçar.
— Eu quero ir embora.
— Não vai. Ficará aqui comigo.
— Já disse que isso é sequestro.
Clara se levantou sem aceitar a mão dele.
— Venha. Tenderly enviou para você um almoço com almôndegas. Ela sabe que você gosta.
— Não almoçarei com você.
Cedar apenas a olhou e saiu do quarto. Clara o seguiu. Ele entrou na cozinha e ela foi para a sala, rumando para a porta. Estava trancada.
— Cedar!
Ele não respondeu . Clara foi até a cozinha e o encontrou pegando pratos e talheres.
— Você  pode levar para a mesa? - Cedar estendeu a louça e talheres para ela.
— Não vou almoçar aqui!
— Já passou do seu horário de almoçar.
— Cedar, eu não estou de brincadeira! - ele passou por ela, pegou uma toalha pequena e foi para a sala. Arrumou a mesa e voltou para a cozinha.
— Cedar!
Ele foi rápido, muito rápido! Pegou-a no colo antes que ela pudesse gritar e foi para a sala. Clara se segurou, pois ele pareceu voar. Levou-a para a mesa e a sentou na cadeira à cabeceira.
— Você fica aqui.
Clara se calou. Sempre se espantava quando ele mostrava suas habilidades Novas Espécies.
Cedar foi para a cozinha e voltou com copos e suco.
— É de caju, como você gosta.
Na próxima vez que ele foi e voltou trouxe as embalagens com a comida. Clara salivou quando ele as abriu. Numa havia talharim com almôndegas num molho grosso, na outra um enorme bife e batatas fritas.
— Posso dividir minha comida com você.
Ela olhou para as batas fritas e seu estômago roncou, porém tornou a olhá-lo.
— Quero ir embora.
— Não.
— Não pode me aprisionar aqui.
— Agora só quero que coma.
Cedar a serviu da massa e almôndegas. Pegou uma porção de batatinhas e colocou no seu prato.
Clara não podia ignorar a fome que sentia.
Pegou o garfo e a colher e começou a comer. A almôndega a fez gemer. Cedar sorriu para ela, que resolveu que iria ignorá-lo. Se entregou com apetite ao almoço. Trabalhar em  Homeland III tinha muitas vantagens, a comida era uma delas.
Quando já estava terminando seu talharim, Cedar cortou um pedaço do bife e colocou em seu prato. Sem sequer olhá-lo, ela atacou o bife e o resto das batatas fritas. Bebeu um pouco mais do suco ao engolir a última porção.
— Quer mais? - Clara negou com a cabeça. — Tenho sorvete de coco.
Clara ergueu os olhos.
— Caseiro?
— Fiz do jeito que você ensinou.
Ela franziu a testa.
— Você planejou isso tudo?
— Não. Mas esperava que você voltasse.
— Eu não voltei.
Ele a olhou com seriedade.
— Então fique.
O olhar era sincero. Ela se abalou com isso, sabendo que não tinha mais tanta força para resistir a ele.
— Aceito o sorvete.
Cedar não sorriu, mas levantou-se e levou as embalagens e a louça para a cozinha.
Clara se forçou a pensar no que estava acontecendo. Não podia perdoá-lo, não podia! Mas... Não aguentava mais ficar sem ele. Queria ser mais dura, porém tinha que confessar que estava cedendo...

Cedar voltou da cozinha com o pote de sorvete, as taças e talheres. Não gostava de coco, porém ela fizera o sorvete um dia e ele não quis estragar a surpresa; tomou o sorvete e repetiu, torcendo para ela não fazer mais, entretanto a sobremesa entrara definitivamente para o cardápio do que consumiam em casa. E Clara o ensinara a fazer!
Ela estava muito concentrada e ele ficou um momento apenas a observando. Sentaram naquela mesa pouquíssimas vezes, pois as guloseimas eles consumiam no sofá, com Clara aninhada em seu colo. Respirou fundo. Queria aqueles momentos de volta.
Se aproximou dela e Clara o olhou atentamente. Cedar parou, esperando que ela dissesse algo, mas ela continuou calada.
— Esqueci a calda. - falou, enquanto colocava o pote e talheres na mesa.
— Não precisa.Mas se você quiser...
— Não. Puro está bom. - ele serviu o sorvete. - Quer sentar no sofá?
Clara se levantou e Cedar pegou as duas taças e foram para o sofá. Esperou que ela se acomodasse e sentou na outra ponta do móvel.
— Coloquei um pouco mais na sua taça.
— Está dizendo que sou gulosa?
— Com certeza.
Ela deu um sorriso fraco e começou a tomar o sorvete. Cedar tomou o sorvete e não desviou o olhar dela. Clara o encarou.
— O que foi?
— Estou apenas te observando. - ela abaixou o olhar. Cedar sentia seu coração transbordando de amor por aquela mulher menina. — Eu sinto sua falta o dia todo, todos os dias. - Clara terminou o sorvete e ele pegou sua taça. — Quer mais?
— Quero, obrigada.
Cedar foi até a mesa e serviu mais um pouco de sorvete para ela. Quando voltou para o sofá, Clara falou.
— É melhor guardar o sorvete no freezer.
— Certo. Sobrou bastante para você tomar mais tarde.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Mais tarde?
Cedar entendeu a pergunta.
— Mais tarde.
— Eu quero estar em casa mais tarde.
— Você já está em casa.
— Não, Cedar. Não pode me manter aqui.
— Eu posso e o farei.
— Não vê como isso é absurdo?
Cedar fixou os olhos nela.
— Absurdo é você me seduzir e tomar conta da minha vida.
— O quê?
— Termine o seu sorvete.
Cedar se levantou, foi até a mesa e pegou o pote de sorvete. Foi para a cozinha e guardou o sorvete no freezer. Respirou fundo. Precisava convencer sua mulher de que voltaria a ser feliz ao seu lado.
Voltou para a sala e ela tomava o sorvete devagar. Sentou ao seu lado e ela o encarou.
— O que você quis dizer?
— Sobre?
— De que eu te seduzi.
— Você fez, minha fadinha.
Ela engoliu em seco.
— Não... eu não... Não sou assim.
— Você é. - Cedar pegou a taça da mão dela e colocou na mesinha de centro. — Eu mal conseguia manter minhas mãos longe de você.
— Mas me evitava.
— Por isso mesmo. - Cedar notou o leve tremor dos seus lábios e se encostou nela. Clara não se afastou. — Você me controla totalmente, Clara. Me deixa louco.
— Você ficou louco quando me acusou de te trair.
— Fiquei louco mesmo. Louco de ciúmes. - estendeu a mão e acariciou seu rosto; ela piscou rapidamente. — Agora eu só pretendo que me perdoe e aceite.
— Está me prendendo para me forçar a isso?
— Estou te prendendo para ficar perto de você.
A respiração dela acelerou e ele acompanhou a subida e descida dos seus seios.
— Cedar...
— Diga.
— Você... - Cedar passou o dedo indicador por seus lábios. — Foi você quem me seduziu.
— Confesso que sim. Eu tinha que ter você. — Ele inclinou seu rosto para o dela. — Volte para mim. - ela engoliu em seco. — Não posso te prometer que nunca mais irei magoá-la, mas farei tudo para isso. - Clara abaixou a cabeça e encostou o rosto em seu ombro. — Eu te amo, Clara. Nunca deixei de pensar em você como minha companheira.
Clara deu um soluço e Cedar segurou seu rosto e levantou a sua cabeça; ela estava chorando. Ergueu-a e a colocou em seu colo. Beijou sua testa e acariciou seu rosto, afastando os cabelos do rostinho. Não sabia mais o que dizer para Clara perdoá-lo. Apenas sabia que não suportaria viver mais um dia sem ela.
— Deixe-me voltar para sua vida. Por favor.
Então Clara ergueu a mão e tocou o rosto dele. Cedar desejou que seu rosto não fosse tão feroz. Queria que ele mostrasse o amor que sentia. Ela esfregou a ruga em sua testa, acariciou uma maçã do rosto e terminou tocando o seu nariz.
— Sou sua companheira ainda?
— Nunca deixou de ser.
Clara desceu a mão por seu pescoço e a pousou sobre o peito.
— Seu coração está batendo tão forte...
— É por você.
Clara se aconchegou no seu colo e descansou a cabeça no ombro musculoso.
— Preciso que me ame, Cedar. Sem ciúmes, sem desconfiança.
— Eu farei isso.
— Promete?
— Prometo.
Ela deu um beijo suave no pescoço forte e ele se arrepiou. Clara sussurrou para ele.
— Vamos tentar então.
Cedar respirou fundo, sentindo o alívio dominá-lo. Lutaria consigo mesmo para dar todo o amor e segurança que sua amada precisava. Seriam felizes.

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