Capítulo 47

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Cedar estava com o coração acelerado. Se antes não encontrava ânimo para trabalhar, agora era impossível.
O dia parecia se arrastar. Kindness entrara e saíra do seu escritório diversas vezes lembrando-o de questões que necessitavam das suas decisões. Não se aborreceu com o macho porque não era culpa dele que se encontrava ansioso.
Quando a tarde se encaminhava para o fim, encerrou o trabalho e saiu.
Cumprimentou as pessoas pelo caminho já acostumado aos olhares enviesados. Blade lhe contara que se comentava que ele fizera algo muito ruim para Clara. E fizera mesmo.
Não foi para casa, ainda era muito cedo, mas rumou para o dormitório feminino. Foi para os fundos da construção e ficou atrás de algumas árvores ; queria estar perto quando Clara ligasse.
Depois de algum tempo seu esforço foi recompensado. Clara e Confidence saíram do arvoredo. Seu coração bateu tão forte que sentiu as batidas nos ouvidos. Era a primeira vez que a via em duas semanas.
Suas narinas inflaram e comprimiu os lábios ao ver a brisa forçando o tecido da blusa contra o ventre que parecia ter aumentado muito. Sentiu o ímpeto de agarra-la, leva-la para sua casa e fazer amor até que o aceitasse de volta. Controlou-se e continuou escondido pelas árvores.
Contou o tempo que ela levaria para chegar nos seus aposentos e esperou. Nenhum dos seus amigos do Conselho o reconheceriam agora. Onde estava a sua firmeza e serenidade? Achava-se um macho frágil e ansioso.
Viu humanos se dirigindo para o cais e outros caminhando para seus dormitórios e residências. Dois ou três o viram e o cumprimentaram, surpresos.
Quando seu telefone tocou ele saltou. O rostinho engraçado de Clara apareceu na tela.
— Alô.
— Alô, Cedar.
Ele quase gemeu de felicidade.
—  Clara.
—  Você pediu para conversar.
Posso ir aos seus aposentos?
— Claro que não!
— Minha fadinha, estou fazendo o que você pediu, mas não suporto mais ficar longe de você.
— Você é o responsável por isso.
— Me perdoe. Fui irracional, agi como um animal furioso.
Não quero ouvir sobre isso... - ela fez uma pausa. — Você queria saber do Isaac.
— Sim, eu quero, mas precisamos nos encontrar pessoalmente.
— Não.
— Clara, eu não sei quantos anos tenho, mas sou maduro o suficiente para conseguir conversar civilizadamente com você.
— Está dizendo que eu não sou civilizada?
— Por favor, não. Estou falando de mim.
—  Vamos falar do Isaac. Você agora aceita que ele é seu filho?
— Eu disse que sim. - Cedar pesou as suas palavras com cuidado. — Fiquei louco. A insegurança me fez acreditar que você poderia preferir outro. - ela não comentou e ele continuou. — Quando encontrei com aquele macho...
— Você tentou matá-lo!
— Mas não matei. Vi naquela hora  a insanidade dos meus atos. - Clara fez silêncio novamente. — Sempre fui um macho sensato e apreciava a segurança da rotina até que você apareceu. De repente eu não me satisfazia mais com o meu trabalho e minha paz. Eu queria você, precisava de você. Você me fez esquecer de Mercille, eu só tenho você no meu coração agora. - o silêncio o deixou tenso. — Clara...
— Por favor, se você quer conversar sobre o meu filho...
— Nosso.
Não confio que você tenha certeza.
— Isaac é meu. Tem o meu sangue, terá as minhas características, será mais um laço para nos unir.
— Unir? Você nem me queria, Cedar! Rejeitou o que sentia por mim desde o início.
O desejo de entrar no dormitório quase o fez quebrar a promessa de não incomodá-la.
— Por fim eu não tive como resistir, Clara. A fadinha gentil e acelerada tomou conta de mim.
— Cedar, eu vou desligar...
Ele apertou tanto o telefone que o sentiu estalar.
— Está bem. Não falarei mais sobre nós. Só quando você quiser.
— Eu não quero.
— Certo.
— O que quer saber sobre o bebê?
Controlando-se ao máximo, Cedar procurou lembrar do que perguntara a Trisha sobre a gravidez de um espécie.
— Você fez outra ultrassonografia?
— Farei depois de amanhã.
— Eu irei com você.
Ele deu tempo a ela para responder.
— Eu prefiro ir sozinha...
— É meu direito como pai.
— Você rejeitou seu próprio filho!
— Eu errei, Clara, e estou pagando por isso.
— Como?
— Ficando longe de você, meu amor. - ele ouviu a respiração alterada e teve esperança de ainda conseguir tocar em seu coração. — Clara, me deixe ir até você.
Não.
Cedar percebeu o tremor em sua voz.
— Posso chegar aí em um instante.
— Não.
Por favor.
A respiração de Clara soou mais acelerada.'
— Você  pode ir na ultrassonografia.
Me deixe ir agora.
Será às 9 horas.
Preciso te ver.
Ele ouviu um soluço e pensou em atravessar a parede e alcança-la.
Vou desligar. Boa tarde.
Cedar ainda ficou um minuto olhando para a tela do celular. Ela se negara a ele, mas ainda era sensível ao seu amor.
Apertou o celular rachado e o guardou no bolso. Caminhou de volta para os escritórios cheio de saudades, mas repleto de esperança.

Clara encerrou a ligação e cobriu a boca com a mão tentando impedir um soluço sofrido. Ouvir Cedar mais cedo mexera com ela, mas agora... Seu coração estava acelerado e a respiração rápida e superficial. Sentia-se como se houvesse tomado várias taças de vinho; seu rosto estava afogueado e os seios sensíveis e quentes.
Seu corpo era um traidor, pois respondera à voz dele com uma excitação deliciosa. Não podia aceitar que o detestasse e o desejasse tanto ao mesmo tempo.
Forçou sua mente a lembrar do rosto transtornado pelo ciúme, a voz cavernosa assustando-a, as palavras duras que a feriram tanto. Sentiu novamente a dor atravessando-a. Não podia desejá-lo, não podia sentir sua carne trêmula ao ouvir sua voz. Mas sentia.
Aquele dia fora muito tenso. Painting saíra da clínica e desaparecera na floresta.  Confidence perguntara por ele e Clear contara que provavelmente fora para a Zona Selvagem, para onde ia de tempos em tempos.
Clara não podia negar que se sentira mais leve com a partida do amigo. O amor que ele dizia que sentia a estava sufocando. Ela o entendia, porque amava Cedar loucamente. Amava tanto que gostaria de esquecer aquele fatídico dia para não precisar ficar longe dele.
Foi para o banheiro, ansiosa por um banho morno que relaxasse seu corpo, embora que a mente não parasse de lhe dar a recordação de muitos momentos com Cedar, momentos em que fora sua mulher, sua amada.
Entrou debaixo do chuveiro e deixou a água escorrer por seu corpo. Cobriu o ventre com a mão e suspirou.
— Ah, meu amor, eu não sei o que fazer com seu papai, - acariciou a barriga. — Mas não se preocupe, eu terei muito amor para te dar se ele não conseguir. Muito amor mesmo.
Ela fechou os olhos e ergueu o rosto para a água deliciosa. Ainda tinha muito a aprender para ser mãe de um Nova Especie.
Saiu do banho e resolveu que não ficaria tensa naquele dia. Guardaria sua mente para pensar no  filho e apenas no filho.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora