Capítulo 34

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A doutora Thainá trabalhava há quase dois anos com as Novas Espécies. Há quase um ano se relacionava com um. E a cada dia aprendia mais sobre eles e eles continuavam a surpreendendo.
Ali na sua frente estava o líder da colônia, Conselheiro da ONE, uma figura de renome entre as Novas Espécies e conhecido no mundo todo.
Mas ele não estava ali como líder; era o companheiro da jovem veterinária da colônia. Era apenas um homem preocupado.
Cedar estava em pé atrás da cadeira de Clara, o que punha em evidência suas diferenças físicas. Clara parecia uma adolescente com o rosto fino sem maquiagem. Os cabelos crespos e louros formavam uma nuvem de cachos revoltosos ao redor do rosto. Era pequena e dava uma impressão de fragilidade. Cedar era muito alto, musculoso demais, com um rosto feroz. Eram como o dia e a noite.
Thainá forçou-se a se concentrar na consulta.
— Quando foi sua última menstruação?
— Dia 28 de agosto.
— Então você está atrasada 3 dias.
— Não, eu... - Clara franziu a testa. — Eu calculei que seria amanhã ou depois. Acho que calculei errado.
— Você sente seu corpo diferente?
— Meus seios estão mais sensíveis.
Cedar massageou seus ombros.
— Você tem sentido mais fome.
A doutora Thainá ficou um instante admirando a interação do casal. Eles eram fofos! Refletiu, com uma certa tristeza, que Blade ainda não a reivindicara como sua companheira.
— Bem, eu poderia pedir um exame de sangue, porém farei logo uma ultrassonografia.
Clara balançou a cabeça.
— Doutora, eu costumo ter atrasos no meu ciclo menstrual. E eu sei que não posso estar grávida. - olhou para Cedar. — Só esquecemos do preservativo uma vez.
— Risen sentiu o cheiro do bebê. - Cedar lembrou.
Ninguém pode sentir o cheiro de uma gravidez!
A médica interrompeu o nervosismo de Clara.
— Vamos fazer o exame, então.
Ela levou os dois para a sala do ultrassom. A enfermeira Sueli preparou Clara com uma camisola médica aberta na frente. Olhou de cara feia para Cedar, pois ele ficou o tempo todo ao lado de Clara. Se aquele homem não fosse seu empregador o teria enxotado.
A doutora entrou na sala e pediu para Clara deitar na maca de exames. Pediu para dobrar os joelhos e pegou o transdutor.
— A visualização será transvaginal pelo pouco tempo do bebê. Não doerá em você nem prejudicará o feto, se a gravidez for confirmada.
Introduziu o objeto alongado no canal vaginal, sob o olhar muito atento de Cedar.
No monitor do aparelho apareceu uma imagem cintilante dentro de um espaço negro.
— Olha só. Nem precisei procurar.
Clara olhou para o monitor.
— O quê?
A médica sorriu.
— Seu bebê.
Clara arfou e agarrou a mão de Cedar.
— Não pode ser!
— Pelo desenvolvimento humano o feto teria de duas a três semana. - mexeu mais um pouco e digitou algumas marcações. — Como é um bebê Nova Espécie seu desenvolvimento seria de cerca de cinco a seis semanas.
Clara ficou olhando para o monitor de olhos vidrados e boca aberta.
— Agora vou ligar o som. - ela mexeu um botão e logo batidas fortes e aceleradas soaram na sala.
Clara arfou e levantou a mão para Cedar. Ele a segurou e se abaixou beijando sua testa.
— É o... coraçãozinho? - Clara perguntou, com a voz trêmula.
— Sim, e muito forte
Clara começou a soluçar e logo chorou. Ergueu o outra mão e Cedar a pegou e, se inclinando, a abraçou.
Thainá ficou emocionada.
— Eu vou deixar vocês sozinhos um instante.

Cedar não compreendia o choro de Clara; ela estaria triste por carregar o seu filho?
— Clara... Por que está chorando ?
Ela segurou o rosto dele.
— É tanto ... - falou entre soluços. — Primeiro o emprego, depois você e agora... Ah, Cedar, eu nunca imaginei tanto acontecendo em minha vida.
— Então são lágrimas de felicidade?
Clara deu um beijinho em sua boca.
— De muita felicidade.
Cedar sentiu um calor no peito. Ele derramara muitas lágrimas em Mercille, todas de dor. Nunca imaginou que também poderiam ser derramadas por felicidade.
Pensava como aquela mulher  era tão importante para ele. Sua força se perdia diante da fragilidade dela. Clara seria capaz de dominá-lo, se quisesse.
Se revezava entre acariciar seu rosto e olhar para o monitor, para a forma que prenunciava uma criança. A criança dele.
Lembrou de todos os espécies acasalados com filhos. Todos eram super protetores com suas crianças e sempre deslumbrados com suas pequenas cópias. Pensou no pequeno Órion que tentava vencer o pai sempre que mediam força, pensou em Toriba que herdara do pai sua seriedade e, principalmente, pensou em Peace que trazia toda a colônia debaixo dos seus pés.
Sabia que a maioria dos bebês nasciam com todas as características dos pais, contudo alguns nasceram com algo da mãe, como Gift Wilde que tinha a pele negra como Cecília. Gostaria que seu filho puxasse a nuvem crespa que eram os cabelos de Clara ou seu nariz arrebitado.
A doutora voltou para a sala e entregou uma caixinha de lenços de papel para Clara. Enquanto sua mulher secava as lágrimas e assoava o nariz, a médica anotou o e-mail dele, para onde enviaria o vídeo do exame.
Clara foi se vestir e a doutora Thainá entregou um papel cinzento para ele.
— Fiz esta imagem em papel.Imaginei que gostariam.
Cedar ficou olhando para a pequena forma apontada por uma seta. Era seu filho!
Clara saiu do banheiro com um sorriso. A doutora Thainá abriu a porta.
— Vamos voltar para o consultório.
Alguns minutos depois, Cedar acompanhava a médica dando recomendações à Clara e receitando vitaminas. Indicou os melhores alimentos para ela e lhe entregou duas  cartelas com pílulas enormes.
Clara saiu do consultório olhando a ultrassonografia. Quando saíram do Centro Médico pegou-a no colo e ela não reclamou.
— Preciso te alimentar agora.
— E eu estou com fome.
— Precisará de legumes e carnes.
— Sabe que não ligo muito para carnes.
— Foi a médica quem mandou.
— Está bem.
Chegaram no refeitório já no horário dos espécies. Colocou-a no chão com cuidado e entraram no refeitório. Seu acasalamento com Clara já não era novidade, entretanto alguns espécies continuavam curiosos.
Acompanhou Clara no bufê e ficou surpreso quando ela pegou um bife mal passado. Colocou arroz e feijão e encheu o prato de legumes.
— Está bom assim? - ela perguntou.
— Está.
No final do almoço ela ainda se serviu de pudim de chocolate. Se ela continuasse daquele jeito, pensou Cedar, ganharia peso e ficaria mais forte para carregar o seu filho.
Sentaram-se numa mesa sozinhos e,pelo canto dos olhos, Cedar viu Painting sair do salão. O macho fora rejeitado por Clara, mas ainda parecia afetado sempre que via os dois juntos.
Conteve um rosnado e se concentrou na tagarelice da sua companheira. Ela explicava os seus planos para contar para seus pais tradicionais.
Cedar sorria para ela, feliz, e descobriu que também queria compartilhar aquele presente com sua família. Ligaria para Justice e para os membros do Conselho. Sua felicidade merecia ser compartilhada com seus amigos.
Continuou a olhar para Clara se perguntando se poderia ser mais feliz do que era naquele momento.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora