Capítulo 39

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Deitada na cama de Verity, Clara recebia da fêmea afagos nas costas. Fora para o dormitório feminino cega pelas lágrimas. Um oficial a parara perguntando se ela precisava de ajuda e, quando a reconhecera avisara que ligaria para Cedar e ela implorou que apenas a deixasse ir para o dormitório feminino.
Ao chegar encontrara Verity à sua espera. Desabara nos braços dela e Verity a levara para o seu quarto, afastando as mulheres que queriam saber o que acontecera.
Desde então, Clara apenas chorava. Estava chocada e assustada com Cedar. Jamais imaginaria que ele pudesse duvidar dela. Ele a acusara de traí-lo de uma maneira covarde, mentindo sobre sua gravidez.
O rosto transtornado de Cedar não saía de sua mente. Ele mostrara suas presas para ela! Nunca o vira com tanta raiva!
Nos meses que estava em Homeland III aprendera que ele era um líder justo e extremamente dedicado. Não havia falhas na gestão da colônia. Ele era sempre sério, mas afável e acessível. Contudo, ele não agira daquele modo com ela. A seriedade fora substituída pela raiva e a afabilidade pela crueldade. Sim, ele fora cruel com ela. Assim como parecera quando se conheceram.
— Clara, você quer um copo de água? - perguntou Verity.
Clara concordou com a cabeça, mas não a levantou do travesseiro. Verity foi até a saleta onde havia um frigobar e ela ficou sozinha com Emerald.
A mulher estava encostada num canto do quarto, de braços cruzados. Desde que Clara havia chegado ali, ela não abrira a boca.
Verity voltou com uma garrafinha de água e um copo. Serviu o líquido e entregou à Clara e depois virou a garrafinha na boca e bebeu sem pausa.
Clara tomou a água aos goles, devagar. Verity colocou a garrafa na mesinha de cabeceira e voltou a sentar ao seu lado.
— Sente-se melhor? Eu posso trazer o médico plantonista aqui.
— Humhum. Não precisa. - entregou o copo para Verity e se deitou novamente.
— Você pode tomar um calmante.
— Acha que me dariam? - perguntou com a voz trêmula.
— Com certeza.
Clara pensou um instante.
— Eu gostaria.
— Vou ligar para saber quem está de plantão hoje. - Verity pegou o telefone celular e ligou.  — Alô, Pleasant... Tudo bem... Quem é o plantonista hoje?... Pergunte se ele pode vir aqui no dormitório feminino... Ninguém ferido, mas temos uma fêmea humana que está muito nervosa... Clara... É, ela mesma... É particular, Pleasante... Unhum... Não, não precisa avisar ao Cedar... Tudo bem. Tchau.
Verity desligou.
— A doutora Thainá virá.
A doutora estava fazendo o pré-natal de Clara, auxiliada pela doutora Norbitt.
Verity olhou para Emerald.
— Isso tudo é culpa sua.
Emerald ergueu o queixo.
— Eu só disse o que pensava. E muitos outros pensam também.
— Isso é mentira. Nunca ouvi um absurdo desses.
— Talvez não se sentissem à vontade com você para contar.
— E por que se sentiram com você?- Emerald deu de ombros. — Cedar nunca teria tais pensamentos se não tivesse ouvido você.
— Eu não o forcei a pensar mal da própria mulher.
— Você foi maldosa. Tem problemas com Clara?
— Não tenho nada contra Clara. - descruzou os braços. — Tenho contra nossos machos preferirem fêmeas humanas para acasalarem.
— Nossas fêmeas não querem acasalar.
Emerald franziu os lábios.
— Algumas querem.
— Você?
O rosto de Emerald se transformou.
— Leona era minha melhor amiga. Foi levada à loucura quando Fiber escolheu aquela fêmea causadora de atritos. Kit queria acasalar com Justice e ele preferiu aquela fêmea minúscula.
— Ninguém controla de quem vai gostar.
Clara abriu a boca, surpresa ao ver o olhar de Emerald, que só podia ser considerado maldoso.
— Justice, Fury, Brawn... Quantos líderes não se dobraram à fraqueza das humanas? Cedar deveria acasalar com uma fêmea espécie.
Verity se colocou em pé.
— Vou te perguntar de novo: essa fêmea tinha que ser você?
Emerald olhou novamente para Clara.
— Eu disse que Cedar podia ser seu por um momento e você o prendeu.
— O que é isso, Emerald? - Clara perguntou.
— Isso não vai acabar nunca. As fêmeas espécies morrerão e os machos continuarão a procriar com humanas.
— Você está apaixonada por Cedar? - Clara estava chocada.
— Não.
— O que você quer então?
— Quero que ele e todos os outros se acasalem com espécies.
Os lábios de Clara tremeram.
— Mas você aceitou ser minha madrinha de casamento!
Agora Emerald revelava claramente seus pensamentos distorcidos.
— Eu sabia que dia menos dia o cordão entre você, Cedar e Painting quebraria. Eu motivei Painting a continuar esperando por você. E você o deixou perto.
Clara arregalou os olhos, espantada por nunca ter percebido a maldade da Nova Espécie.
— E falava do amor de Painting para mim. Isso tudo para evitar que Cedar e eu ficássemos juntos?
— Painting perderia o controle e tentaria te reivindicar. Cedar atacaria Painting e abandonaria sua posição de líder. Voltaria para Homeland com certeza.
— Mas ele já irá para Homeland!
— Não mais com você. - Emerald deu um sorriso que não chegou aos olhos. — E eu voltarei com ele.
Verity deu um salto e empurrou Emerald que bateu com força contra a parede.
— Você está louca, fêmea?  Espécies não são maus!
Emerald colocou a mão atrás da cabeça.
— E você me agrediu!
— Para calar essa sua boca! - o toque no celular de Verity chamou a atenção das duas. Verity  olhou a tela, franziu a testa e apontou para Emerald. — Isso ainda não acabou!
Verity saiu do quarto e Clara continuou olhando para Emerald.
— Hoje você fez declarações sobre mim e Painting. Queria me envenenar para Estela e Verity?
Emerald balançou a cabeça e sorriu novamente.
— Eu vi Cedar pela janela. Sabia que ele ouviria o que eu disse.
Clara abriu a boca, muda pela revelação da mulher que fora sua primeira amiga na colônia. Que tipo de pessoa tramaria algo assim? Ela vinha jogando com ela e Painting descaradamente! O que ela já não falara para Cedar?
Verity voltou para o quarto. Viu a expressão de Clara e silvou para Emerald.
— O que disse para ela?
— Apenas a verdade. Emerald saia daqui. - a mulher caminhou para a porta. — Não pense que não contarei tudo para o Painting e Cedar.
Emerald empalideceu, contudo ergueu os ombros e saiu.
— Vaca dissimulada! - Verity exclamou. Mostrou um semblante triste. — Eu gostava muito dela. Ficamos amigas desde o deserto. Respirou fundo e encarou Clara. — A ligação era de Cedar. Está procurando por você. Chegará aqui em minutos.
Clara se alarmou.
— Você disse que estou aqui?
— Disse a verdade.
— Não quero vê-lo!
— Clara, agora você sabe que foi tudo uma armação da Emerald.
Os olhos dela encheram de lágrimas novamente.
— Emerald não forçou Cedar dizer tudo o que disse.
— Ele estava alterado, louco de ciúmes.
— Ele nunca poderia pensar que eu o traí. - pousou as mãos no ventre. — Ele duvidou que era pai do Isaac.
— Calma.
— Diga que não quero falar com ele. - as lágrimas rolavam por seu rosto. — Não me force.
Verity a encarou , tristemente.
— Vocês precisam conversar.
— Não.
— Tem certeza?
— Sim.
Verity abaixou os ombros e pegou o telefone celular; esperou um pouco e guardou o aparelho no bolso.
— Ele não atende.
— Encontre com ele lá fora e diga para ir embora.
A mulher assentiu com a cabeça e saiu.
Clara deitou e se abraçou a um travesseiro. Estava profundamente magoada com Cedar e raiva se iniciava em seu coração.Achou que morreria de tristeza.

Cedar correra até em casa. Achou-a vazia. Tentou ligar para Clara, porém o telefone tocou sobre a mesinha de centro. Desesperado e preocupado, ligara para Verity e descobrira onde sua mulher estava. Correra e chegara no prédio em três minutos. Estava correndo há menos de meia hora, porém cruzara a colônia em duas direções.
Chegou na entrada do dormitório e a primeira pessoa que encontrou foi Emerald.
— Cedar... Que bom que você veio. Eu preciso...
— Onde está Clara?
— No quarto de Verity. - ele fez menção de ir até lá, mas Emerald agarrou o seu braço.— Precisamos conversar, Cedar.
— Depois.
— É sobre, Clara. Ela não está normal. Dirá coisas erradas sobre mim.
— Me procure outra hora.
— Não. Preciso te contar que eu sabia que Painting a amava e o deixou ter esperança.
— Que conversa é essa?
— Sou sua amiga e...
Cedar puxou o braço.
— Eu já sei tudo o que preciso saber.
— Mas...
— Cedar... - era a voz de Creek. Vindo de fora, ela entrava no saguão. — O que houve
com Clara?
— Um mal-entendido.
Creek olhou para Emerald e de volta para Cedar.
— Painting me ligou e disse para eu vir aqui.
— Não é mais necessário. Verei Clara agora.
Verity chegou no saguão. Cedar caminhou para ela.
— Como ela está?
— Está nervosa. E não quer te ver.
Cedar ficou um instante em silêncio.
— Eu falarei com ela.
— Não, Cedar. Ela sabe que você viria. Disse que não quer ver você.
— Clara é minha mulher. - franziu a testa. — Qual o seu quarto?
— Por favor, Cedar. Ela não quer...
Ignorou Verity e foi para o corredor. Bateria em todas as portas se fosse necessário. Uma mão o segurou pelo ombro. Mexeu-se para se livrar.
— Cedar, não faça isso. - Creek falou.
— Preciso falar com minha companheira.
Creek franziu a testa.
— Painting não me contou  o que aconteceu. Sou sua amiga e responsável pelas fêmeas. Clara te ama, então não consigo imaginar o que aconteceu.
Cedar respirou fundo. Ele sentia como se carregasse o mundo nas costas; estava arrependido e com muito medo. Talvez Creek pudesse ajudá-lo.
— Vamos para o seu quarto. Eu vou te contar.

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