Capítulo 3

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Estacionei meu corsa azul marinho desbotado em frente à casa em um condomínio luxuoso na Vila Mariana, onde faria a bendita entrevista para uma vaga pela qual não estudei, mas que qualquer mulher preta e favelada nasceu para fazer, limpar casa.

Não estou esnobando, longe disso, mas o desespero e o medo de passar dificuldade faz aceitarmos o que primeiro surgir. No passado eu poderia pensar, mas agora tenho outra boca para alimentar e essa é mais importante que a minha.

Olho no retrovisor e vejo a minha Pérola ressonar tranquila, alheia a minha aflição no momento. Até nisso precisei me readequar, não consegui ninguém para ficar com a minha filha. Então trouxe-a junto comigo, e espero não ser eliminada de primeira na entrevista.

Fiz uma prece rápida a Deus e peguei a bolsa de bebê e minha filha no banco de trás e bati a campainha da casa chique, na qual fui informada somente um casal morava nela.

A voz no interfone causou um arrepio na minha nuca, ela tinha um timbre rouco e um leve toque brincalhão. A secretária do dr. Lui me avisou da entrevista e horário, e minha amiga fez a gentileza de informar que estava entrando dentro da casa de um casal Homo, ainda fez questão de pergunta se tinha algum preconceito sobre esse assunto, pois gostava muito do chefe, que era bastante educado e gentil.

Somente quem sofre qualquer preconceito na pele consegue ter empatia por outros que sofrem também. Nenhum dinheiro ou classe consegue sustentar a falsa convivência por muito tempo.

-Abriu. – me assustei com a pergunta e testei o portão social para confirmar a devida abertura.

-Sim. – respondi baixo e segui a trilha de calçamento com canteiro de flores espaçados em ambos os lados. Contornei até a porta de entrada e respirei fundo antes de subir dois degraus e ficar de frente a uma entrada magnifica.

A porta foi aberta no mesmo momento que alcancei o patamar, mas perdi o folego com a imagem na minha frente. Porra, Alice, você falou da educação e gentileza do Dr. Lui, mas a beleza ela deixou escapar. O homem na minha frente deveria ter mais de 1,90, olhos dourados como ouro líquido. Os cabelos loiros ondulados batendo no ombro. Inferno sangrento, que modelo de homem é esse?

-Você é a Olivia, certo? – Acenei e dei um fraco sorriso envergonhado. – E essa princesinha?

-Essa é minha filha, Pérola. Desculpe ter trazido ela na entrevista, dr. Lui, mas não consegui ninguém a tempo para ficar com ela. – ele sorriu de lado.

-Não sou o Lui, meu nome é Benício. Esqueci de me apresentar adequadamente. – e estendeu a mão para me cumprimentar. Minhas bochechas esquentaram pela vergonha. – Entre.

Fui convidada a sentar em um sofá maravilhoso, e confesso que fiquei deslumbrada pela beleza da casa, mas já imaginava o trabalho para manter aquele palácio limpo.

Benício falou um pouco sobre o que precisava para manter a casa funcionando e alguns horários malucos que o marido dele tinha por ser médico. Falou que era arquiteto e minha boca grande perguntou se tinha sido ele que projetou a casa. E um largo sorriso surgiu em seu rosto. Perdi o foco no momento daquele sorriso.

Fui convidada a conhecer o local e ele contava cada etapa do desenvolvimento da casa, com um orgulho ímpar. Falou que moravam em um apartamento e mudaram a pouco mais de três meses para a casa. Que a secretária deles não continuou devido a distância e por isso precisavam de alguém para cuidar de tudo.

Pérola se manteve dormindo durante toda a ronda, e agradeci por isso, não poderia perder pontos nesta entrevista, principalmente quando me falou o valor do salário e benefícios.

-Posso te fazer algumas perguntas, Olivia?

-Sim. Estou aqui para isso. – respondi baixo.

-Porque você escolheu esse trabalho, se tem um diploma nas mãos? – suspirei derrotada. A primeira pergunta foi justamente a que eu não tinha uma resposta, mas precisava ser sincera

-Não foi bem uma escolha, Benício. Estou de licença ainda, mas a empresa pela qual estava trabalhando decretou falência a menos de uma semana, e no dia seguinte o pagamento foi suspenso. Todos os acertos serão em juízo e eu não tenho um suporte para me auxiliar. Mesmo tendo notas altas, só consegui empregos medianos e abaixo do que a minha graduação oferecia, e infelizmente devo isso por ser mulher, e dobra essa equação por ser preta. Não tenho um padrinho para conseguir a vaga dos sonhos. Neste momento minha única e exclusiva preocupação é com a Pérola. Então, respondendo a sua pergunta, não fui eu que escolhi o trabalho. O trabalho que me escolheu. – Percebi um aceno dele e a outra pergunta que não tinha resposta ainda.

-Quem vai ficar com a sua filha para você trabalhar?

-Eu ainda não sei. – respondi abaixando a cabeça e segurando de leve os dedinhos da minha bebê. – Fiz inscrição na creche pública, mas a vaga é para o próximo ano. Estava esperando consegui a vaga e pagar uma particular até a outra iniciar o ano letivo. – suspirei. – Mas, também pensei que se não fosse atrapalhar, poderia trazer ela um dia ou outro para que a ruptura não fosse tão brusca. – ele suspirou, e não foi um bom sinal.

-Eu entendo a sua situação e sinto muito pelo seu trabalho, de verdade. Mas, preciso que seja honesta comigo, se te contratasse e por um acaso conseguisse uma outra oferta de emprego, você nos deixaria na mão!? – estava em dúvida se foi uma pergunta ou afirmação.

-Essa é uma pergunta ou afirmação? – ergui o queixo. – Respondendo como pergunta, não, eu não deixaria na mão. Nunca deixei nenhum empregador meu na mão e olha que trabalhei em muitos empregos desde os meus 16 anos. – falei e suspirei. – Como afirmação não consigo dizer nada, a não ser te passar contatos antigos para você checar meus antecedentes.

-Calma, Olivia. Não estou te atacando, somente achei estranho o fato de você se submeter a um emprego abaixo do seu nível de conhecimento.

-Desculpe eu, pelo rompante. Eu não tenho escolha. – a minha voz saiu falha no final da frase. Pérola escolheu aquele momento para acordar e abrir aquelas safiras que ela tem no lugar dos olhos e sorriu para um encantado Benício que fez um carinho singelo no rosto redondo da minha filha. Ela agarrou o dedo dele com a pouca força que tinha e tentou leva-lo a sua boquinha.

-Ei princesa, que lindos olhos têm você. – falou com aquele tom rouco e baixo que novamente arrepiou a minha nuca. 



Espero que estejam gostando. Olivia conheceu o Benício. Como nosso neném reagiu a essa mamãe.

Votem e faça essa escritora feliz. Beijinhos

Má conduta( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora