capítulo 77| unidas

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Tenho certeza que está de madrugada, não só pelo frio mas também pelo relógio antigo pendurado na parede.

Encaro o lugar onde estou e suspiro cansada, não é um quarto escuro fedendo a podridão, mas sim um confortável que não me traz nenhuma sensação de conforto, me sinto sufocada e a medida que olho as horas passando meu corpo vai cedendo.

Enrolo meu corpo na coberta quando a porta é aberta e um é corpo jogado aos gritos dentro do quarto, logo depois é fechada novamente.

Pisco atônita ao visualizar o corpo da mulher que chora copiosamente e saio da cama.

__ Mick?__ questiono sentindo um bolo se formar na minha garganta.

Quando ergue o rosto e consigo enxergar o quanto ela foi machucada algo dentro de mim quebra mais pouco, porque eu conheço esse olhar, é como se estivesse olhando um reflexo meu quando tinha quinze anos.

__ Ísis? Aí meu Deus, como é bom ver você.__ dispara se jogando em meus braços e acaricio seu cabelo que está pegajoso e grudento, mas não importa, só preciso consolá-la.

__ eu sinto muito Mick, a culpa é minha, se não fosse minha amiga, se não fosse próxima a nós, nada disso teria acontecido, me perdoa...

Meus olhos marejam e ela funga baixinho, levantando o rosto e segurando as minhas mãos, olho para as suas, calejadas e machucadas, seu corpo está mais magro e engulo o embrulho no estômago querendo saber por quanto tempo ela estava aqui.

__ eu quem me deixei levar Ísis, achei que ele era um dos bonzinhos, mas era só um maldito lobo em pele de cordeiro que me encantou para depois me jogar aos leões.

__ quanto tempo você tá aqui?

Ela abaixa a cabeça e seguro em seu queixo de maneira carinhosa, para que ela me encare.

__ por favor Mick, quanto tempo?

__ dois meses... dois malditos meses, fazendo coisas que eu não queria... que não podia... estou me sentindo suja de tantas maneiras.__ sussurra chorando e lhe abraço, fazendo com que encoste sua cabeça em meu peito e descanse.

__ vamos sair daqui Mick, é só uma questão de tempo, eu prometo.

__ não tem como sair, eu já tentei fugir, mas eles sempre me pegam e a cada vez ficam mais agressivos.

__ eu sinto muito.__ afirmo sentindo suas costas inchadas. __ eu sinto muito mesmo, ninguém deveria passar por isso... a não ser aqueles desgraçados.

__ fala baixo, aqui tem câmeras, tem câmeras por todos os lugares.__ diz em meu ouvido e suspiro.

__ tudo bem, você quer deitar ali, porque pelo que estou vendo, não foi bem tratada nessa merda hora alguma.

__ eu... estou suja.__ fala e o pesar em sua voz me faz entender o motivo da sujeira, engulo em seco.

__ tem um banheiro aqui, e essa roupas, vista.__ aponto para as sacolas que Daniel trouxe para que eu me trocasse. Mas não preciso dessas roupas agora Mick é mais importante.

__ você tem um banheiro? Um quarto e eu fiquei em um galpão fodido, sendo...

__ eu sei, e acredite em mim eu não esperava estar nesse quarto, só queria saber de você.

Esperei que me olhasse com algum tipo de julgamento que a fizesse pensar que eu e Daniel estávamos nos envolvendo e por isso fiquei nesse quarto, mas tudo que enxerguei foi medo e preocupação.

__ ele tocou em você?__ pergunta e nego.

__ não Mick, o desgraçado não me tocou e nem vai... agora vá para o banho, você precisa descansar.__ falo e ela se levanta com a minha ajuda e caminhamos até o banheiro pequeno.

A deixo sozinha e volto para o quarto pensando em alguma maneira de nos livrar dessa.

O banho da minha amiga não durou mais do que trinta minutos e não sei se pelo medo ou ansiedade.

Ela se trocou depressa atenta aos cantos do quarto onde supostamente ficam as porcarias das câmeras, já que não enxergo nenhuma.

Fiquei horrorizada com as marcas em suas costas, mas guardei os comentários para mim, Mick estava desolada demais para enchê-la com perguntas que já sei onde vão levar.

__ pronto!__ foi o que disse quando se jogou no colchão confortável e respirou fundo.

__ já é dia. __ falo apontando para o relógio. __ descanse um pouco.

__ e você Ísis? Deve estar cansada também.

__ não mais que você, descanse eu vou ficar bem prometo.__ afirmo para nós duas e ela sorri antes de fechar os olhos se dando vencida pelo cansaço.

Me sento ao seu lado e suspiro.

Não tem janelas e pelos machucados da Mick eles não a levaram para um hospital para tratar os ferimentos dela. Ou seja cortar os pulsos para tentar ir ao pronto-socorro riscado, fugir pela janela, óbvio que está riscado.

É mãe, vou ter que usar seus métodos e que Mickaela entenda que tudo que eu fizer vai ser para nos tirar daqui, sem o cobertor abraço o próprio corpo e fecho os olhos vencida pelo cansaço.

(...)

Sou despertada por um tapa no meu  rosto.

__ acorda vadia.__ uma voz masculina que não reconheço me faz abrir os olhos e encarar a figura horrenda em minha frente. __ por que ajudou a outra? Vai ter que explicar pessoalmente ao chefe, porque deu as roupas que eram suas para a coelhinha fujona.__ fala a última frase com malícia e não preciso pensar muito para saber que esse deve ser um dos desgraçados que abusavam dela.

Me levanto e o encaro não abaixando o rosto.

__ escute bem seu idiota, quando isso acabar e vai acabar... eu vou deslizar uma lâmina pelo seu pescoço sozinha... e vou sentir prazer em cada vez que ela deslizar pela sua pele.__ prometo e ele sorri mostrando as falhas dos dentes.

__ quero vê-la tentar, agora se arrume o chefe está aguardando a sua presença.

__ cadê a minha amiga?

__ sendo punida e adivinha? A culpa é toda sua.

__ seu desgraçado, ela não tem nada a ver com essa merda, deixem ela ir.__ peço contendo as minhas lágrimas e ele sorri agarrando o meu pescoço e me empurrando contra a parede.

__ você não é ninguém aqui sua tola, não passa de uma vagabunda que vai ser usada e descartada tal qual como a sua amiguinha.__ declara e me solta, fazendo meu corpo colidir com o chão, massageio minha têmpora e o desgraçado sorri.

__ não se atrase, o chefe detesta atrasos e eu adoro ser aquele que ele procura para as punições.__ é a última coisa que fala antes de sair do quarto e fechar as portas.

Não me permito chorar, não agora, levanto-me do chão, decidida a levar meu plano adiante.

Custe o que custar.




O Sucessor: Família Ferrari - livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora