Capítulo 9

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JOÃO PEDRO

Já tinha feito umas duas semanas que tava esperando a porra das drogas chegarem, essa carga tava vindo pesada demais, tinha de tudo, maconha, crack, cocaína e até sintética como êxtase, dessa vez a gente ia lucrar muito mais do que normalmente, amanhã já era dia de baile e FP tá contando que tudo dê certo com planejado assim como eu também espero.

— Tu é muito ruim muleque namoral — digo gastando meu irmão Victor que perdia já a terceira vez pra mim no jogo da fifa no videogame.

— Cala a boca fdp — Ele diz puto fazendo uma cara nada boa.

Hoje o dia foi tranquilo pra caralho, de manhã passei na boca pra trocar uma ideia rápida com o FP, mandamos alguns homens pra rua pra fazer cobranças e algumas vendas, logo depois fui liberado e tava em casa só descansando pra amanhã.

— Vamos mais uma? — Diz

— Já não te humilhei o suficiente? — digo rindo da sua cara.

— Aproveitando que tu tá aqui né, não para em casa pra da uma atenção mais — Fala quando fica sério encarando a televisão.

— Ih qual foi muleque, que melação do caralho é essa? — Empurro seu ombro que tava perto do meu.

Melação nada, a real é que eu não tava dando a atenção que o Victor tava acostumado a ter, sempre levei ele pros fut, empinava pipa na rua, hoje em dia eu tinha muita responsabilidade na boca e não podia tá dando bobeira na rua ainda mais com ele, a Juliana sempre teve suas amigas, saia e sempre tinha amigos ao redor, já Victor não, lembro que era apenas eu ele, sei que no fundo ele sentia falta de tudo isso.

— Ai cara, olha aqui pra mim — Ele me olha com um semblante triste, mas sério.

— Sei que tô ausente, mas tô no corre pela gente pô, lembra que aquele filho da puta tirou tudo da gente incluindo nosso pai. — Ele sabia de tudo que tinha acontecido, desde a morte do meu pai, até a nossa casa que aquele pau no cu mandou incendiar, construímos tudo do zero, foi difícil mas hoje nós tamo aqui, de pé.

Entrei nessa vida determinado a encontrar o cara que traiu meu pai, não sabia seu nome, não sabia seu paradeiro, não sabia nem se estava vivo, mas não ia desistir, soube por traficantes mais velhos que meu pai e esse cara tinha negócios juntos mesmo que cada um comandassem favelas diferentes, até o dia que aquele arrombado agiu na trairagem e tirou tudo da gente, no tráfico a gente precisa sempre tá atento a quem tá do nosso lado, traição vem de quem a gente menos espera.

— Eu tô ligado, foi mal...eu... só quer... — antes que ele termine eu digo — Vem cá moleque — puxo ele passando meu braço por seu pescoço e esfregando sua cabeça — Nos dois rimos e depois continuamos jogando ali.

Só não passamos tanta dificuldade porque meu pai tinha uma grana guardada, minha mãe investiu boa parte na casa e também na sua loja de roupas onde trabalhava com Juliana, mesmo assim ainda era pouco pra sustentar quatro bocas dentro de casa, então pelos caras já saberem de quem eu era filho, acabei entrando facilmente e me envolvendo cada vez mais, foda, essa vida é foda.


LUNA DUARTE | SABÁDO.

Hoje era dia de baile aqui na comunidade e só se ouvia isso pelos becos, lembro que há umas semanas não ia, por falta de tempo mesmo, o curso tá extremamente cansativo mas tá bom demais, fazia três dias na semana e cada dia era um aprendizado novo, eu tava muito feliz com isso.

Estava no celular em ligação com a Amanda e Isa, atualizando as duas sobre tudo que andava acontecendo, até uma certa aproximação com Mateus tinha rolado, depois do último date ele foi me buscar duas vezes essa semana lá no curso, almoçamos juntos e foi ótimo.

Eu tô morrendo de saudades de vocês — Amanda diz do outro lado da linha.

Eu também, preciso da minha terapia que é conversar com vocês, não aguento mais tanto estresse — As duas começam a rir do outro lado.

Amiga, bora subir pro baile hoje? Isa fala.

Ai eu não sei Isa, quero descansar a mente, estudei tantos programas de edição esses dias.

Vai ser uma oportunidade pra tu se distrair sua maluca, prometo que dessa vez não sumo, amanhã tô de folga quero aproveitaaaar! — Ouço ela gritar.

Vai amiga, aproveita também, você merece. — Amanda incentiva.

Tudo bem, nós vamos, preciso mesmo tomar uma cerveja. — Falo pensando que realmente precisava disso.

Ali termino de falar com as duas e já desço pra ajudar a minha vó com o almoço, mas quando desço vejo ela sentada no sofá, de costas pra mim eu me aproximo devagar sem que perceba minha presença, vejo minha vó folheando um álbum de fotos, e então fico curiosa pra saber quem era aquela criança que ela tanto olhava, sem muita demora acabo chamando sua atenção.

— Vó...? Tá tudo bem...? — Me aproximo sentando ao seu lado.

— Oi querida, está. — Diz com o rosto vermelho, parecia ter chorado.

— O que você tá olhando?

— Achei esse álbum enquanto tava arrumando o guarda roupa, olha, essa aqui é sua mãe. — Vira o álbum pra mim e logo vejo uma fotografia que parecia ser antiga, a criança com os laços preso no cabelo, vestido com babados e segurando uma boneca, estava sorridente, parecia feliz.

Já tinha visto algumas fotografias mas nunca bati um papo legal com minha vó sobre o que aconteceu com ela, ela não costuma falar muito e esse assunto parece mexer muito com ela, sempre que eu tentava falar sobre seus olhos logo enchiam de lágrimas e ela desviava totalmente o assunto.

— Você se parece com ela Luna.

— Você nunca fala dela... — Digo ainda olhando a fotografia.

— É complicado.

— Porquê vó?

— Eu preciso terminar o almoço, outro dia conversamos melhor.

Já conhecia esse discurso dela, sempre mudava o rumo da conversa, mas tudo bem, hoje a noite iria pro baile esquecer tudo isso e me distrair um pouco, então vejo ela pegar o álbum e sair da sala, apenas subo de volta ao meu quarto e já começo a montar os looks na minha cabeça, mandei fotos no grupo das minhas amigas de algumas roupas que estava separando querendo a opinião delas, logo a gente decide e era só aguardar o horário do baile.

PARTE 1/2

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora