Capítulo 22

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LUNA DUARTE 📍

— Onde você estava? — Levo um susto quando vejo minha vó parada na porta do quarto com os braços cruzados.

Assim que o João Pedro me trouxe hoje, entrei na casa que estava um completo silêncio, pensei até que poderia estar dormindo ainda ou ter saído, mas fui pega de surpresa.

— Já te disse, dormir na Isa. — Digo de costas pra ela enquanto colocava o celular pra carregar, vejo que acende mostrando algumas notificações inclusive de Mateus que eu não respondia há dias, não gostava de mentir pra minha vó, mas nessas circunstâncias eu não tive escolha.

— Que roupa é essa? — Ainda usava a camisa do JP e o casaco que amarrou na minha cintura na tentativa de esconder meu corpo.

— Eu... — Tento pensar em uma desculpa rápida mas falho.

— Onde você tava???? — Grita comigo.

— Estava na casa de um amigo vó, ficou tarde e a gente decidiu... — Ela não me deixa terminar de falar.

— Decidiu o quê? Dormi na casa de um homem? Você nunca teve amizade com ninguém daqui, o que tá acontecendo com você Luna? — As veias do seu pescoço saltavam. — Eu vi esses dias quando subiu na moto daquele homem, acha que não percebi que carregava uma arma com ele? você está se envolvendo com pessoas erradas Luna. — Observo seu rosto ficar vermelho de raiva.

— Aquele homem — Faço aspas com as mãos — Foi o que a senhora conheceu na feira, não se lembra?

— Sim, eu lembro, e isso foi antes de saber o que ele era, e eu nunca mais quero você perto dele de novo. — Sinto um calafrio com suas palavras.

— Você não pode me proibir.

— Sim, eu posso... — Ele analisa minha roupa me olhando de cima á baixo. — Por acaso essa camisa é dele? Você passou a noite com ele? — Ignoro sua pergunta.

— Você me decepcionou muito. — Sinto um aperto no coração ao ouvir isso da pessoa que mais amava no mundo.

— Desculpa não ser a neta perfeita, toda minha vida eu vivi dentro de uma bolha, por sua culpa, você não me fala nada sobre a minha vida ou de onde eu vim, tô começando a ver o mundo de forma diferente agora, e você quer interferir? eu já sou adulta vó. — Vou até o guarda roupa pegando uma toalha, talvez essa fala tenha soado infantil, mas não ligo, era verdade, teve todo tempo do mundo pra falar sobre isso, agora que tô no meio de tudo isso quer vir dar lição de moral.

— Você pensa que é adulta mas não sabe de nada, acha que isso é vida? Se envolver com bandido?

— Eu gosto dele. — Vejo ela passar as mãos no rosto nervosa, nem eu mesma acreditei que acabei de dizer isso.

— Você não sabe do que tá falando, você não sabe de nada! — Apenas gritava.

— Vó...

— Cala a boca, cala essa boca!!!! — Nunca tinha visto ela daquele jeito. — Você tá proibida de chegar perto daquele marginal, ou vai acabar morta como a sua mãe. — As palavras dela são como uma facada, sinto meu corpo todo estremecendo, olho pras minhas mãos que tremiam e suavam sem parar.

— Eu não quis dizer isso... — Ela tenta me tocar mas logo me afasto.

Saio dali sem dizer uma palavra, vou até o banheiro e era como se tudo estivesse em câmera lenta, suas palavras ecoavam na minha cabeça, retiro a camisa que usava entrando no chuveiro, sinto a água caindo pelo meu corpo e fecho os olhos chorando, eu ainda tinha esperanças em um dia conhecer minha mãe.

DOSE DUPLAOnde histórias criam vida. Descubra agora