𝙅𝙤̃𝙖𝙤 𝙋𝙚𝙙𝙧𝙤 | 𝙌𝙪𝙖𝙧𝙩𝙖-𝙛𝙚𝙞𝙧𝙖 𝟭𝟰𝙝𝟬𝟳.Já tinha feito uns quatro dias desde aquele baile, quatro dias de correria aqui na favela, fazia um tempo que eu não sabia o que era descansar, hoje sai cedo da boca depois que o FP me liberou, aproveitei pra comprar o que minha mãe pediu pro jantar de hoje, estava pronto ir pra casa quando ela me enviou uma lista de compras pelo Whatsapp, puta que pariu hein...
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Coroa: 𝙑𝙤𝙪 𝙛𝙖𝙯𝙚𝙧 𝙢𝙖𝙘𝙖𝙧𝙧𝙤𝙣𝙖𝙙𝙖 𝙝𝙤𝙟𝙚, 𝙫𝙖𝙞 𝙣𝙤 𝙢𝙚𝙧𝙘𝙖𝙙𝙤 𝙚 𝙩𝙧𝙖́𝙨:
𝙈𝙖𝙘𝙖𝙧𝙧𝙖̃𝙤
𝟭𝙆𝙜 𝙘𝙖𝙧𝙣𝙚 𝙢𝙤𝙞́𝙙𝙖
𝙌𝙪𝙚𝙞𝙟𝙤 𝙧𝙖𝙡𝙖𝙙𝙤
𝙈𝙞𝙡𝙝𝙤 𝙚𝙣𝙡𝙖𝙩𝙖𝙙𝙤
𝙣𝙖̃𝙤 𝙚𝙨𝙦𝙪𝙚𝙘𝙚 𝙖𝙨 𝙫𝙚𝙧𝙙𝙪𝙧𝙖, 𝙗𝙟𝙨Nem perco tempo e vou na banca de verdura aqui perto mesmo pra comprar tudo isso, quero cair logo pra casa e passar o resto da tarde livre, ligo a moto e não demora muito pra eu chegar.
— Pô, plena quarta-feira isso aqui tá lotado. — digo quase desistindo e querendo ir embora, poderia ir e comprar algum lanche mais tarde mas quando lembro do tempero da minha coroa, já adianto o passo pra terminar logo.
Depois de enfrentar a fila enorme do mercado, vou nas banquinhas de verduras que ficam espalhadas aqui na rua do centro, aqui tem mais variedades e é bem mais fresco do que as do mercado.
— Pesa ai pra mim 2kg dessas verdura tudo menó — Digo a um garoto que parecia ter entre dez ou onze anos, mlk deveria estar estudando mas a vida nem sempre é justa. Fico aguardando ele colocar tudo nas sacolas quando ouço uma voz que não me soava ser estranha, uma senhora para do meu lado pegando as verduras nas mãos e analisando, logo reconheço que é a mesma que esbarrou em mim esses dias.
— Você não é o rapaz que me ajudou outro dia? — Ouço a senhora dizer, logo olho pra ela sorrindo fraco, estava acompanhada por uma garota que também não me parecia ser estranha.
— E ai dona... — Estreito o olhar tentando lembrar se ela me disse o nome dela.
— Marlene. — Sorriu gentilmente.
— E ai, trouxe alguém pra ajudar nas compras hoje? — Lembro de quando estava sozinha e cheia de sacolas esbarrando em mim.
— Hoje eu trouxe, essa é minha neta Luna. — Diz apontando com cabeça.
Se essa senhora soubesse com quem estava falando acho que pensaria duas vezes antes de ser tão gentil assim, ela me parecia ser uma boa pessoa, apesar de muitos me conhecerem, tinha moradores mais afastados da boca que não sabia quem era quem, até porque ninguém fala demais em favela.
— Oi. — A garota de cabelos cacheados diz.
— A gente se conhece? — Aperto os olhos pra garota que não parecia ser estranha.
— Acho que não. — Ela diz pegando algumas sacolas.
Forço a memória pra lembrar daquela garota, seu rosto era familiar mas eu nunca tinha a visto, tudo começa a fazer sentido quando ela se vira de costas pra pegar uma sacola e eu percebo que seu cabelo tinha uma mecha clara bem no meio, era a garota que eu tinha visto no baile dias atrás.
— Eu te vi no baile. — Falo logo ganhando sua atenção novamente.
— Viu? — Ela pergunta confusa.
— Vi. você tava paralisada com uma cara de paisagem depois que os tiros rolaram e... — sou interrompido por Dona Marlene.
— Tiros? como assim? — A senhora fala. — Não ouvi nada esses dias.
— Não foi nada demais não vó, foi só uma briga boba. — Ela diz naturalmente, parecia nem se importar.
— Foi mesmo? como é seu nome mesmo? — A senhora pergunta.
— é JP. mas foi isso ai mermo pô. Nada demais não — Digo entendendo que a garota não queria preocupar a vó.
— Eu vou pagar uma conta na lotérica aqui do lado, você me espera aqui? — Dona Marlene diz olhando pra garota.
— Espero.
Dona Marlene entra numa lotérica que era bem ao lado das bancas de onde nós estávamos, aproveito pra trocar uma prosa com a garota que ficou lá esperando.
— Então, tu é daqui mermo? Nunca te vi antes no baile. — Solto as palavras enquanto pagava pelas verduras.
— Sou, mas não costumo subir. — Diz mas nem me olha, está mais preocupada em mexer no celular.
Mó falta de educação isso.
— Deveria subir mais vezes pô.
— A primeira vez que eu subo e já rola tiro, acho que fiquei com traumas e não quer...
— Sobe comigo que tu tá em segurança. — Interrompo a garota que me olha sem entender.
Até esqueço de pegar as sacolas das compras.
— É, quem sabe. — Diz ainda me olhando.
— Vamos filha. — Dona Marlene chega quebrando o silêncio que tinha se formado entre eu e a garota.
— Foi um prazer revê-lo..JP..? — Pergunta indecisa.
— JP. — Confirmo — O mesmo dona, moram por perto? — Olho pra garota que percebe a intenção da pergunta e estreita os olhos pra mim.
— Na rua de baixo, perto do famoso depósito do seu Édson, não é muito longe. — A senhora diz enquanto guarda papéis de conta na sua bolsa.
— Pertinho mesmo. — Essa garota morava dez minutos de mim e eu me pergunto como só vim saber dela agora.
Provavelmente por ela nunca ter subido no baile antes.
— Prazer em te conhecer Luna. — Ela apenas sorri forçado pra mim.
Vejo as duas indo em direção a rua de baixo quando passo por elas de moto, olho pelo retrovisor aquela garota que parecia andar em câmera lenta, o vento balançava os cabelos que tinha aquela mecha que prendeu minha atenção.
Cheguei em casa por volta das três e pouca, o Victor ainda estava no fut, minha Mãe na cozinha tomando seu café enquanto via algum video no celular, e a Juliana estava saindo pra o shopping, insistiu pra eu ir também, mas eu que não ia desperdiçar meu tempo em shopping, ainda mais com a Juliana que demora pra caralho só pra comprar uma roupa, ia agora descansar a mente, depois que dei meu cartão pra ela nem insistiu mais, pelo contrário, saiu antes que eu mudasse de ideia, interesseira.
Subi pro quarto, tomei aquele banho e coloquei apenas uma cueca box, só sei que apaguei ali mesmo, pensando no próximo baile que já seria sexta-feira, ainda precisava checar com o FP se ainda tinha droga suficiente pra faturar bem, se não tivesse teria que dar um jeito de receber mais uma carga antes de sexta, o que ia ser muito difícil mas isso eu iria resolver só no outro dia, com o cansaço que meu corpo está não levanto nem pra comer mais.
Capitulo pequeno, mas é isso <33

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DOSE DUPLA
FanfictionLuna é uma jovem que cresceu no Complexo da Pedreira, no Rio de Janeiro. Sua vida vira de cabeça para baixo quando ela se vê dividida entre dois homens que representam mundos opostos: um sendo da lei e o outro não. À medida que Luna mergulha em um t...