xxxv. THERE SHE GOES

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LYRIA

There she goes,
there she goes again
Racing thru' my brain
and I just can't contain
this feeling that remains

Minha magia estava tão drenada, meu corpo tão cansado, que a pequena chama acessa sobre a vela que me guiava pela Casa naquela noite mal me influenciava.

Esperei ter certeza de que estariam todos dormindo, não querendo encontrar com nenhum familiar em específico - principalmente Winter ou os meus pais.

A única graça de ter ficado acordada durante toda a madrugada, passando as páginas daquele livro de Marcas de Wyrd e relendo a dedicatória até que eu a tivesse decorado, foi ver minha mãe vir para o meu quarto me dar um beijo na testa enquanto eu fingia que dormia.

Foi com esse pensamento, de que eu tinha pessoas que eu amava que precisaram ser protegidas dos valg, que eu tomei coragem de cruzar toda a Casa do Vento em direção a escada que levava a biblioteca.

Entretanto, como geralmente nenhum dos meus planos funciona, quando estava quase terminando de passar pela sala comunal, onde eu esperava que ninguém estivesse por conta do horário, me deparei com o meu primo Dakan olhando fixamente para a varanda.

Era incrível como aquele seu olhar era idêntico ao do meu tio Azriel. Era como se eu pudesse ver o manipulador de sombras encostado naquela parede, mas com uma postura mais jovial e zombadora, sem aquela total frieza do meu tio.

A sala estava completamente escura, mas a minha visão feérica, em conjunto com a vela e a minha curiosidade, me fizeram distinguir muito bem o que, ou no caso quem, ele observava.

Jane.

Minha prima e irmã gêmea de Dakan estava parada na varanda, como se congelada, observando as estrelas com um olhar rígido que não combinava com ela. Mesmo que Jane fosse uma manipuladora de sombras, ela sempre teve uma delicadeza que não combinava muito bem com o tamanho do seu poder.

Outra coisa que não pude deixar de reparar era que as sombras, que normalmente envolviam as suas asas illyrianas e seu pescoço de perto, pareciam estar ... distantes, mal tendo contato com a sua pele.

— Todos os dias ela faz isso — escutei a voz do meu primo com a audição feérica. Ele parecia, de certo modo, preocupado — Todos os dias eu a encontro em alguma janela, olhando pra fora como se fosse pular, mas ela nunca o faz. Eu poderia gritar pelo seu nome mas ela não escutaria, ela nunca escuta.

Achei que passaria despercebida por ele, mas depois dessa alegação eu tive que me aproximar.

— Ela não pularia — afirmei, conhecendo a minha prima.

Jane era como se fosse a minha irmã mais velha, minha melhor amiga, sempre foi. Eu sempre soube tudo que ela pensava, e eu tinha certeza que nenhuma tendência suicida nunca passou por sua cabeça. Mesmo que estivéssemos afastadas nesses últimos dias, tanto por minha culpa quanto pela missão dela de ficar de olho em Dianna, eu saberia se algo estivesse errado — Talvez ela só esteja fumando em um horário que ninguém vê, não?

Procurei por qualquer sinal dos clássicos cachimbos ou cigarros dela, procurei por qualquer cheiro de fumaça ou até mesmo ópio, algo que ela raramente optava, mas não havia nada.

— Eu também achei que era isso no começo, mas não é — os olhos amendoados de Dakan não saiam da irmã, em nenhum momento, como se pelo olhar ele a segurasse naquela varanda — Eu não a vejo fumar desde o seu aniversário.

— Isso não é bom? Sempre tentamos fazer com que ela parasse — quando Jane, a Archeron certinha da família, o nosso raio de Sol, apareceu fedendo a fumaça e depois encontraram vários cigarrinhos debaixo do seu colchão, foi um choque para todos. Quando a proibiram de fumar, ela entrou em um certo estado de abstinência - mesmo sendo muito nova na época - e me lembro de que fui eu quem levou a ela um cachimbo escondido, pois o cheiro era menos perceptível, e a defendi para que parassem de se intrometerem em sua vida.

DARK PARADISE; tog + acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora