xxxxv. GAME OF SURVIVAL

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LYRIA

Who's in the shadows?
Who's ready to play?
Are we the hunters?
Or are we the prey?
There is no surrender
and there's no escape

— Vocês não acreditaram que o jantar era para vocês, não é? — a risada vazia de Clare repercutiu pelos meus ossos enquanto a escuridão ainda nos envolvia, como um sussurrar de pesadelos — Eu preciso alimentar os meus companheiros Valgs, e que jantar melhor do que vocês?

Os rugidos em protesto de Cass e Dakan eram assustadores. Acredito que meu tio daria um jeito de se soltar da coleira de Clare para proteger a parceira, qualquer feérico desafiaria seus próprios limites por aquele laço de parceria.

Eu deveria ter previsto que aquele momento não era apenas de revelações. Não, não era assim que Clare jogava. Ela queria que nós sofrêssemos como ela, que sentíssemos o que ela sentiu quando as pessoas que ela mais amava a esqueceram.

Eu ainda não conseguia me lembrar dela, não como Cassian, Nestha ou Mor pareciam lembrar. Antes da escuridão nos envolver, meus tios pareciam em conflito com as próprias mentes, como se tivessem finalmente se lembrado de Clare e não aceitassem quem ela havia se tornado.

Mas talvez eu não me lembrava pois era apenas um bebê que engatinhava quando ela foi levada. Talvez eu não quisesse me lembrar, um mecanismo de defesa do meu organismo, para que eu não sofresse como meus tios sofressem.

Ela matou os próprios pais, os meus pais, então não merecia nenhum espaço na minha mente. Não quando ela queria que aqueles seres invasores dela se alimentassem de nós.

Me preparei, envolvi minha mente em um casulo enquanto esperava que os gritos começassem, que membros fossem arrancados e mais pessoas da minha família fossem mortas. Eu não sabia o que significava nos transformar no jantar, mas só de imaginar em ver Jane, mesmo que fosse outra pessoa em seu corpo, se alimentando de alguém da própria família era o suficiente para que eu vomitasse.

Então entrei para dentro daquele poço infinito de fogo quando os sifões vermelhos de Cass brilharam, uma tentativa inútil de alcançar os seus poderes domados por Clare.

Mesmo longe eu conseguia sentir que mais e mais daqueles Valgs se aproximavam da mesa de jantar. Um tremor percorreu pelo meu corpo, mas não senti vergonha por estar com medo. Eu já tinha desistido desses sentimentos.

— Se deliciem com o querido círculo íntimo — escutei a voz de Clare como se estivesse debaixo d'água — Tenho que levar minha irmãzinha a uma chata recepção na sala do trono — ela disse para ninguém em particular, mas isso fez com que eu saísse do meu casulo.

Escutei Morrigan murmuram um "Graças ao Caldeirão" enquanto mãos firmes me arrastavam para fora da mesa.

Rosnei para as mãos usando o resto de força que me restava, rosnei e grunhi e me debati. Se meus parentes, aqueles que sobraram da minha antiga vida, iriam ser usados de alimento para aqueles soldados de outro mundo, então eu deveria estar com eles.

Uma risada de escárnio foi a minha única resposta.

Com o ferro me envolvendo eu era mais fraca do que uma humana na mão daqueles Valg. E nem mesmo a escuridão me ajudou enquanto me arrastavam pelos corredores do castelo entalhado na pedra da Cidade Escavada.

DARK PARADISE; tog + acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora