xxxxviii. SOUND OF WAR

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RHOE

Just when you think you are saved
Just when you've locked your door
It comes like a lightning flash
And the sky is torn
At your back like a loaded gun
But the fight has just begun

Eu já devia ter aprendido que tudo que acontece nesses sonhos se perpetuava quando eu acordava.

Mas não pude deixar de perder o fôlego de surpresa quando vi a cicatriz que os meus próprios caninos fizeram na palma da minha mão. Nem mesmo quando o cheiro do sangue de Lyria ainda estava em meu nariz, uma lembrança constante daquela promessa que ela fizera a mim.

Ela não se quebraria. E eu a salvaria, a ajudaria a se vingar.

Meu corpo inteiro formigava ainda, da mesma maneira que tinha começado a formigar naquela floresta de sonhos.

Fiquei imaginando se isso não era um indício de sermos carranam. Faria sentido, já que estávamos unidos pelo destino para salvar o mundo. Isso explicaria o formigamento, a maneira como minha magia reagiu no momento em que o sangue dela entrou em contato com o meu, a maneira como todo o meu corpo reagiu querendo envolve-la em meus braços ...

Deitado em minha cama na hospedagem de Mitra, tive que contar até vinte antes de conseguir levantar, para que a minha magia se acalmasse.

Quando voltei do encontro com o Suriel, após liberta-lo da armadilha e correr para longe daquela floresta como se a minha vida dependesse disso - e dependia, mesmo que o feérico dissesse que não me mataria - eu peguei o cavalo alugado e voltei para esse estabelecimento. Winter tinha me esperado, querendo saber se tive êxito, e foi satisfatório ver o choque no rosto da illyriana quando eu disse que sim.

Havia resumido nossa conversa para Winter, deixando alguns detalhes de fora que a prima de Lyria não precisava saber. Depois jantei um delicioso ensopado de carneiro e me deitei, sem nem mesmo trocar de roupa.

E então sonhei com ela. Talvez eu devesse agradecer ao Suriel por isso.

Me senti como se aquela fosse a primeira vez que eu sonhava com Lyria, que eu me sentia daquele jeito ao vê-la. Era como se eu estivesse novamente no Palácio Branco de Orynth, apagado em meu quarto após uma crise de magia, acordando após sonhar com uma feérica que queimava o mundo todo com a sua língua afiada.

Ainda bem que, mesmo estando sofrendo nas mãos de nova Grã-Senhora da Corte Noturna - que realmente conhecia o meu irmão pois usou a porra de um dos pseudônimos de minha mãe para se esconder - Lyria não tinha perdido toda a sua essência.

Por trás daquelas lágrimas, tremores e lembranças das torturas que essa tal de Clare a estivesse infringindo, toda vez que eu a provoquei eu podia ver o fantasma do seu sorriso querendo surgir em seu rosto. Melhor, eu conseguia ver o fogo queimar em seus olhos turquesa-dourados.

Talvez seus olhos, fogo e o cabelo loiro explicasse o por que de estarem fazendo com que Lyria sofresse tanto. Era uma maneira de descontar o ódio por minha mãe em alguém parecido com ela. Era uma maneira de diminuir o gosto da derrota em Erilea.

E eles seriam derrotados novamente, em um novo mundo com um Sol tão brilhante quanto o de Terrasen.

Mas para isso eu precisava respirar fundo e sair daquele quarto, senão perderia a minha carona para a tal de Velaris - onde quer que essa cidade ficasse.

*

— Nos não combinamos em levar a filha de Nestha Archeron — Arion se debruçou sobre o balcão do bar de Mitra, aqueles olhos azuis brilhando na minha direção.

DARK PARADISE; tog + acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora