DARK PARADISE ───── seu preço é inominável.
Um plano, uma vingança.
Uma guerra dada como vencida, mas que mal havia começado.
Dois bebês recém-nascidos são trocados como o símbolo de que ele era quem estava no controle, de que tudo que eles viram...
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RHOE
I don't know what I'm supposed to do Haunted by the ghost of you Oh, take me back to the night we met
𝐄u provavelmente deveria estar dormindo, contudo não conseguia deixar de observar as estrelas enquanto ficava debruçado na sacada da varanda.
O vento frio da noite de outono passou pela minha face, fazendo com que os meus cabelos pretos caíssem sobre o meu rosto. Mas isso não importava.
Tudo o que importava naquele momento era o cântico dos céus pelo meu nome, parecia que aquela escuridão sem fim do universo me chamava, as estrelas se conectando a minha alma.
A lua havia tomado uma cor avermelhada, de maneira que a sua luz refletia como se fosse um rubi gigante, deixando todo o céu mais precioso. Mas essa era só uma parte da paisagem. Agora parecia que todas as estrelas estavam se movimentando, em harmonia, e no lugar das constelações diárias de Terrasen, era possível ver algumas novas, como uma em um formato de uma cordilheira com três cumes e três estrelas isoladas no topo. Bem, talvez isso fosse o meu presente de aniversário adiantado, não reclamaria se fosse, pois era uma das visões mais lindas que existia em toda a Erilea. E acontecia somente no dia 21 de setembro, alguns momentos antes do badalar da meia noite, como um aviso que o meu nascimento não era só uma lástima para a minha família, mas sim uma comemoração das estrelas.
Não que os meus pais não me amassem, sei que amam, é só que a data do meu aniversário é uma lembrança perpétua do desaparecimento do meu irmão, o príncipe herdeiro. Durante 17 anos eles fizeram buscas incansáveis e todas sem resultado, várias pessoas falaram para eles desistirem, entretanto Aelin Galathynius e Rowan Whitethorn não desistiram. Nunca. Mesmo sendo uma data triste, os meus pais nunca demonstraram na minha frente que se ressentem de alguma maneira, muito pelo o contrário: eles sempre fazem festas gigantescas que duram o dia inteiro, não só para comemorar o meu aniversário, mas também com alguma esperança de que o príncipe perdido voltasse.
Estava vagando em meus pensamentos quando o barulho da minha porta enferrujada ecoou por todo o ambiente. Me virei por puro reflexo, pois preferiria ficar na companhia do céu estrelado do que socializar com qualquer um agora.
Esperava que fosse os meus pais, vindo me dar feliz aniversário antes de todos; talvez poderia ser até a minha irmã, Nehemia, para passar as badaladas comigo ou podia ser os meus amigos que haviam chegado ontem de manhã para passar as comemorações aqui em Orythin. Ajustei os meus olhos violeta, uma parte de mim que ninguém sabe explicar de onde veio, contra a falta de luz no ambiente e pude jurar que vi olhos verdes não familiares brilharem na escuridão, fazendo com que o meu poder automaticamente criasse uma muralha de vento como defesa.
— Quem está aí? — perguntei, meu coração batendo freneticamente no peito. Poderia ser só uma pegadinha, mas reconheceria o cheiro de alguém da nossa Corte se estivessem aqui.
Dei um passo para frente e alcancei a adaga que ficava sobre a cômoda, porém fui pego de surpresa quando acabei caindo para trás, com o meu invasor sobre mim e lambendo a minha cara.
Pera... lambendo?
— Ah sua cachorra sapeca — disse enquanto envolvia Kate, uma das várias cadelas de mamãe, em um abraço e fazia carinho no seu pelo dourado.
Aqueles olhos verdes deveriam ter sido coisa da minha cabeça, pois o ser ali comigo era um animal que se espreitou pelos corredores do palácio e acabou em meu quarto. Mesmo assim, enquanto meus olhos começavam a pesar pelo sono, não conseguia tirar a sensação de que havia uma pessoa ali, ainda mais com aquele leve cheiro de pinho e neve apodrecido.
*
Eu não estava no palácio de Orythin, isso podia afirmar com certeza, mas o céu acima de mim era o mesmo. Ou pelo menos o mesmo que observei antes de dormir.
Montanhas cobriam toda a paisagem em minha volta e, abaixo do vale onde estava a residência, uma cidade iluminada e agitada dançava para os céus noturnos. Feéricos que eu nunca havia visto estavam lá, de cores, tamanhos e características diferentes, mas todos tinham o mesmo sorriso estampado no rosto, a mesma energia transbordando no ambiente enquanto davam as mãos para dançar e cantar.
Com aquela visão eu senti algo dentro de mim gritar para ser despertado, para ser livre, algo que nunca se encaixou em Terrasen, porém ali parecia dizer "casa".
Queria descer, me juntar a multidão que comemorava pela mesma coisa que eu sempre reprimi dentro de mim para me encaixar. Aqui eu não teria que ter tutores em casa para não ter que ficar ouvindo os boatos no colégio de preparação de feéricos sobre eu não ser um filho legítimo do meu pai, aqui eu não teria que me preocupar com incidentes como o do teatro, ou com pesadelos que inundavam o meu quarto de uma escuridão densa. Aqui eu poderia ser livre sem carregar o peso de um legado que não parecia ser meu e criar a minha própria história.
Era bobagem. Uma pessoa não poderia sentir tal ligação com um local que nem conhecia. Contudo ainda queria comemorar junto a eles.
Ao olhar para trás, na procura de uma porta ou alguma escada que me ajudasse a descer, percebi que não havia saída, tudo em minha volta eram paredes de mármore.
— Eu posso te ajudar — a voz mais bonita que ele havia ouvido sussurrou em meu ouvido. Prontamente, virei, na tentativa de ver quem era a dona daquela voz e quem me ajudaria a descer, contudo ela me segurava firme, suas mão finas e quentes, com unhas pintadas de verde, permitindo que só tivesse um vislumbre de seus cabelos dourados.
— Como? — perguntei ingenuamente.
— Só relaxe, você está em casa — ela respondeu e me empurrou da sacada.
Foi assim que eu acordei do sonho, sentindo que estava caindo, em direção a cidade que não saia da minha cabeça. Mas quando levantei, com o Sol da manhã avisando que já era o meu aniversário, tive certeza que vi asas gigantes nas minhas costas.