xi. SILENCE

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"..."

Primeiro esqueci o meu nome.

Depois os daqueles que em algum momento foram importantes para mim. Somente Ele sabia os seus nomes e o proferiam quando era necessário.

Até as sombras estavam assustadas com o demônio dentro de mim.

Desde o momento que me deram o anel preto eu não era mais eu.

Eu era ele e ele era tudo que estava em minha mente.

As sombras tentavam sussurrar o meu nome para mim, mas ele era tudo e as silenciava, poderia já fazer anos desde quando eu as escutei sussurrar para mim e não para ele.

Será que se passaram anos? Ou apenas dias?

Eu preferia tentar pensar naquilo no que nele. Era mais fácil contar os segundos, os passos, as respirações, do que me permitir sentir o que ele sentia, vivenciar tudo o que ele viveu.

As vezes ele me forçava a ver. As vezes ele me forçava a recriar as cenas de sua vida com pessoas que eu conhecia.

Que eu conheci em outra vida.

Eu sabia que ele queria me forçar a fazer mais, me levar ao limite, mas a tenente não o permitia.

Ele odiava a tenente, odiava o fato dela ser inferior e mesmo assim o dar ordens.

Ele a chamava de putinha, falava que queria experimentar o seu gosto para saber se era bom o suficiente para o comandante.

Eu sentia o seu desprezo por ela cada vez que a via, sentia ele arquitetar um plano para me destruir aos poucos somente para provoca-lá.

Ele estava fazendo isso nesse exato momento.

E eu estava tentando gritar para que ela percebesse, para que ela tivesse um pouco de misericórdia.

Mesmo sabendo que fora ela quem me condenará a isso. Que mesmo ela sendo meu sangue, ela me condenará. Me condenará pois eu descobri o seu segredo.

Mesmo sabendo que não importava o que eu fizesse, eu era ele e ele era tudo.

— Não temos muito tempo — ela disse para mim - para ele — Relate.

Os olhos dela ...

— Encontraram um dos corpos que você deixou espalhados por aí. Até agora só a tia de chamas prateadas tentou te incriminar.

— Nestha?

— Sim, esse nome terrível — o demônio disse.

Nestha. Nestha. Nestha.

Quem era essa?

— Você tem que sumir com os corpos, a Grã-Senhora vem te protegendo a muito tempo mas não sei até quando o idealismo dela vai durar — Ele continuou — Parece até que você colocou um anel nela.

— Já era previsto que ela me defendesse, Orcus disse que ela não precisaria de anel — a tenente disse.

Anel.

Eu usava agora um anel, um anel de escuridão e dor.

— Bem, pois você deveria começar a distribuir esses anéis logo. Somente dois contra uma Corte inteira não vencerá a guerra.

— Não preciso dos anéis para controlá-los.

Puta feérica o demônio resmungou para si, para mim.

E eu continuava assistindo enquanto os dois planejavam, enquanto eu desejava que ela me matasse.

Enquanto os olhos dela eram tão familiar que as sombras me sussurram um nome, mas o demônio não me permitiu ouvir. Ele não me permitia fazer nada além de gritar, chorar e contar os segundos, os passos e as respirações. Ele não me permitia raciocinar quando pessoas que eu conhecia em outra vida passavam por perto, ele me segurava pela coleira até que eu fosse sufocada e só restasse ele.

Mas vezes o Senhor das Sombras desconfiava que algo estava errado, ele e o seu filho, nesses momentos ele apagava as minhas memória dele, de tudo que eu ouvi e vivi, para que eu agisse naturalmente.

E logo depois ele apagava essas memórias também, me deixando de volta a apenas dor e sofrimento.

Ele também tinha medo do feérico de olhos violeta e da sua esposa, mas eles raramente prestavam atenção em mim, então nunca foi um problema.

Nada era um problema pois ele sempre estava no controle.

E eu sempre estava no silêncio.

Mesmo quando eu gritava ao vê-lo planejando destruir tudo com a tenente, destruir tudo que eu não conhecia mas mesmo assim implorava para que eles não destruissem.

Mas a tenente não escutava e o demônio se deliciava do meu desespero.

E eu continuei gritando e gritando enquanto os dois planejavam.

DARK PARADISE; tog + acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora