xix. HOAXS

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RHOE

Stood on the cliffside screaming:
Give me a reason
Your faithless love's the only hoax I believe in
Don't want no other shade of blue but you
No other sadness in the world would do


Faziam-se meses desde a última vez que me esgueirei pelas passagens sigilosas dos empregados do palácio para algo que não fosse beber ou fugir com alguém.

Na verdade, se for analisar a atual situação, eu até que estava lá para beber também. Antes de ir para a cozinha, que era o meu destino, acabei sem querer passando por uma das reservas de vinhos do palácio e agora estava com a boca no gargalo. Mas isso era previsível, depois de tudo que aconteceu nesses últimos dias, eu já tinha até passado tempo demais sem entornar o líquido feérico pela minha garganta, sem sentir a nebulosidade que acalmava os meus nervos.

E, de volta ao meu destino de encontrar Nehemia, a cada passo que eu dava, o som da voz do velho Emrys ficava mais alta pelas passagens. O semi feérico era um antigo amigo de minha mãe, da época que ela viajou para o outro continente e trabalhou na Fortaleza Nebulosa, onde conheceu o meu pai e começou sua jornada ao trono. Quando Aelin foi coroada, o velho e muitos outros semi feericos da fortaleza a seguiram para Terrasen, jurando lealdade a sua coroa e se encontrando nos trabalhos diários da Corte.

Emrys continuava na cozinha, e também continuava mantendo seu honrado título de Contador de Histórias. Todas as noites, aqueles que moram no palácio e desejam ouvir as suas histórias podem encontrá-lo sentado na frente da lareira de sua cozinha, acompanhado do seu parceiro Malakai - o Capitão da Guarda de Aelin - e de Luca, agora um dos vigilantes da Torre Branca de Orynth.

Antes eu vinha quase todas as noites, antes da minha vida começar a virar de ponta cabeça. Nehemia continua vindo sempre quando pode, mas principalmente em situações como essa, onde ela não tem mais para onde ir.

E foi muito fácil encontrar uma raposa prateada com olhos azuis turquesa escondida nas sombras, contudo escutando atentamente a todas as palavras do velho semi feérico.

— E foi em uma noite chuvosa como essa que a besta surgiu pela primeira vez nas terras do sul ... — a voz dele se erguia por toda a sala, gerando sentimentos reais de medo e ansiedade naqueles que o escutavam. Já um pouco tonto, me esgueirei ao lado da raposa - Nehemia em sua forma animal - e acariciei os seus pelos macios, colocando a garrafa no chão enquanto me sentava.

Ela olhou pra mim uma vez antes de voltar sua atenção a Emrys, uma vez em que pude perceber a confusão no seu olhar e o focinho sujo de um vermelho escarlate já seco - sangue. Ela devia ter saído para caçar, por isso Rowan não a tinha encontrado, e vindo para cá em seguida, deixando todos preocupados.

— Eu te entendo mas mesmo assim acho que você devia falar com ele — murmurei para ela e recebi um grunhido de volta — Ok ok, faça o que quiser — revirei os olhos e entornei mais do vinho feérico enquanto o velho Emrys continuava contando a sua história.

No meio daquela multidão aquecida pela lareira crepitante improvisada no grande forno da cozinha, encontrei o rosto familiar de Jolie, seus olhos cor de mel e cabelos claros deixavam seu rosto ainda mais gracioso. A semi feérica era filha de Luca com sua parceira e possuía um dos sorrisos mais lindos de Terrasen. E ela me lançou esse sorriso quando nossos olhos se cruzaram, a malícia percorrendo entre nós.

Mas ela não viria até mim, não quando eu a tinha deixado sozinha em uma casa noturna no centro da cidade, e não quando Nehemia em seu modo assustador estava sentada ao meu lado. Mas mesmo assim eu sabia que, se eu fosse até ela, Jolie rapidamente esqueceria da nossa trágica noite. Ela sempre esquecia.

DARK PARADISE; tog + acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora