POV GIZELLYMinha semana passou muito rápido, acho que a semana que eu passo com meus filhos, sempre passa rápido. Eu buscava focar inteiramente neles dois, trabalhavam a maior parte do meu tempo em casa, pra não precisar me prender no escritório da Ambev e apesar de ter a ajuda de Jenny, eu preferiria fazer tudo pra eles e cozinhar era a minha parte favorita.
Na sexta fomos almoçar com minha mãe e minha vó, nem preciso dizer que eles amavam ir pra lá, dona Madalena mimava tanto os dois que às vezes eu precisava pedir pra ela maneirar, mas em partes eu amava ver que eu realizei o que ela mais queria: bisnetinhos. Falando nisso, depois do almoço, as crianças foram assistir algo com minha mãe, enquanto minha vó e eu arrumavamos a cozinha, ela mal esperou ficarmos sozinhas e começou a falar o mesmo de sempre.
-A Sofia está a cara da Rafa, como pode isso? – Sorri com o comentário e continuei secando os pratos. – Mas a personalidade é toda sua, parece que estou vendo você pequena.
-Eu era arteira assim? – Perguntei sorrindo, pois minha filha é muito levada, bem diferente do Lulu.
-Você? Meu Deus, esse tanto de cabelo branco você acha que veio de onde? – Minha vó cutucou minha cintura, me fazendo rir. – Lembra quando você quebrou o braço tentando andar em uma bicicleta maior que você?
-Lembro, foram os dois piores meses da minha vida. – Lembro que tive que fazer tudo com o braço esquerdo, foi horrível. – Se não fosse a senhora pra cuidar de mim, eu nem sei como eu teria feito.
-Enquanto eu viver, eu vou cuidar de você. – Minha vó acariciou meu rosto. – E agora eu quero viver muito pra cuidar daqueles dois, e quem sabe você não me dá mais uns.
-Ih vó, não começa com isso não. – Neguei com a cabeça enquanto ela gargalhava. – Esses dois ai dão trabalho demais.
-Ah, mas você e a Rafa fazem um bom trabalho. – Não tinha um dia se quer que minha vó não elogiava a Rafa. – Falando nisso, eu aceito mais um netinho vindo de vocês.
-Isso eu vou ficar devendo. – Suspirei fundo.
-Você é tão cabeça dura, eu não te entendo às vezes. – Minha vó parou o que estava fazendo, pra me encarar. – Mas eu não falo mais nada, lavei minhas mãos, só espero que você abra esses olhos e enxergue o óbvio antes que seja tarde demais.
-Não estou entendendo, vó. – Deixei o pano de prato sobre a pia e cruzei meus braços. – Enxergar o que?
-Você acha que a Rafa vai viver o resto da vida esperando por você? E se ela conhecer alguém, se apaixonar, casar... Você vai ficar de braços cruzados assistindo tudo?
Um nó se formou em minha garganta com a hipótese disso acontecer, acho que nesses três anos isso foi o que mais me assombrou, pois eu não consigo ver minha vida sem a Rafa, por isso eu me coloquei nesse posto de amigas, mas pensar que isso dá espaço pra ela conhecer outras pessoas, me deixa fora de órbita.
-A verdade é que eu não sei como fazer isso, vó. – Confessei pela primeira vez. – Eu fiz tanta coisa errada, eu comecei com ela de maneira errada.
-Então recomece da maneira certa. – Dona Madah apertou meu ombro. – O que te impede? O medo de tentar? Poxa minha filha, a vida te deu uma segunda chance, se não fosse por Deus, você poderia nem estar aqui uma hora dessas, eu nem gosto de lembrar daquele dia. Mas você está viva, tá aqui com a gente, e a única coisa que te impede, é o medo.
Minha vó tinha razão, o medo gritava pra mim o tempo todo, porém o medo de perder ela era muito maior, eu não ia aguentar não ter a Rafa na minha vida.