[𝐒𝐈𝐃𝐄 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐘 : 𝟒] 𝑨𝑵𝑵𝑨𝑩𝑬𝑻𝑯 𝑪𝑯𝑨𝑺𝑬, 𝑨𝑶 𝑳𝑶𝑵𝑮𝑶 𝑫𝑶𝑺 𝑨𝑵𝑶𝑺

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ERA ESTRANHO O QUÃO RÁPIDO ANNABETH havia se acostumado com a paz que passou a desfrutar desde o momento que chegara ao Acampamento Meio-Sangue. Após passar meses fugindo de monstros perigosos e sob perdas irreparáveis (ainda não conseguia olhar para a árvore de Thalia sem sentir que iria chorar), a última coisa que esperava que conseguisse voltar a ter outra noite decente de sono – claro, dentro dos padrões de um semideus.

Era uma pena não ser o mesmo para todos.

Era fim do verão, a maioria dos campistas já havia arrumado suas coisas, passado pela barreira e se retirando para o mundo mortal, reunindo-se com famílias que os amavam e esperavam ansiosos pelo seu retorno.

Também era em dias como esse que o humor de Luke piorava.

Então, enquanto andava pelo Acampamento vazio, não tinha que procurar muito para saber onde ele estava.

Sabia que estaria correndo.

Os campistas que não o conheciam tão bem quanto Annabeth conhecia, sempre comentavam sobre o quão rápido ele era, o quão bem Luke conseguia ultrapassar até mesmo as ninfas – que eram mais do que acostumadas a fugir, graças às investidas indesejadas de deuses e sátiros –, suas instrutoras de corrida. Sempre brincando que ele possuía o necessário para se tornar um atleta de nível olímpico de grande sucesso.

Eles nunca percebiam o que Annabeth percebia, entretanto.

Onde a maioria pensava que não passava de pequenas manias ou tiques nervosos, Annabeth sabia serem os sinais. Os sinais de que Luke estava prestes a experimentar o auge daqueles dias ruins, onde correria, correria e correria. Centenas de voltas na arena, pelos campos de morangos, pelo perímetro inteiro do Acampamento repetidas e repetidas vezes.

Portanto, sempre que Annabeth pegava Luke com um olhar distante e um certo tremor nos dedos, quando se irritava com mais facilidade e a impaciência o tomava – como se houvesse uma coceira sob sua pele que nem mesmo o treinamento mais brutal pudesse resolver –, sabia que aqueles momentos estavam chegando.

E então, da próxima vez em que o visse, seria apenas seu contorno à distância, enquanto ele corria desesperadamente, como se sua vida dependesse disso e apesar de agora, após quase um ano, mesmo quando na maioria das vezes parasse antes que ficasse muito cansado e evitava desmaiar por estar na posição de Conselheiro do Chalé de Hermes – levava muito a sério sua posição e as obrigações que vinham com ela –, ainda assim, Annabeth sabia que Luke tinha seus dias ruins e tudo o que queria fazer seria fugir, correr.

Nunca o perguntou o porquê, pois não era como se precisasse. Luke era filho do deus mensageiro, dos viajantes e das estradas. Estar em movimento, correr e seguir em frente continuamente estava indubitavelmente em seu sangue, provavelmente mais do que os outros companheiros (que são de fato, claro) do seu Chalé.

Seria bom se fossem apenas dias ruins e não piores. Afinal, eram nesses dias que Luke corria até seus pés sangrarem e seu corpo desistisse de exaustão. Quando isso acontecia, Annabeth sempre iria até Quíron e juntos, o carregavam para longe da chuva, da neve, do sol ou de qualquer outro lugar onde desmaiara sem aviso.

Ela já perdera a conta de quantas vezes o encontrou desacordado na base da árvore de Thalia, com as solas dos sapatos tão gastas, que era possível ver buracos. Em momentos como aquele, tinha que se segurar para que não perguntasse "você queria ser aquele em que ficara para trás, não é?" Mas novamente, não era como se precisasse ouvir a resposta para saber. Ele era o mais velho entre eles na época, além de estar sozinho há mais tempo, portanto, sabia melhor como sobreviver.

Porém, por mais que não quisesse admitir, por mais que fosse doloroso fazê-lo, durante uma noite de chuva torrencial e frio congelante, raciocínio rápido e pés ágeis não teriam os salvado da fúria dos cães infernais, da fúria de Hades. Somente a coragem pura e força ainda mais pura os teria salvado disso.

𝐏𝐀𝐑𝐀 𝐎 𝐐𝐔𝐄 𝐄𝐑𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 (𝐞 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐝𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬)Onde histórias criam vida. Descubra agora