[𝐈𝐕]. 𝑼𝑴𝑨 𝑵𝑶𝑽𝑨 𝑻𝑬𝑵𝑻𝑨𝑻𝑰𝑽𝑨 𝑫𝑬 𝑺𝑬𝑸𝑼𝑬𝑺𝑻𝑹𝑶 𝑵𝑶 𝑴𝑼𝑴𝑶́𝑽𝑬𝑳

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BELLE OLHAVA APÁTICA PARA TODA a movimentação dos Campos de Asfódelos. Isso a fazia lembrar de quando trouxera Percy, Annabeth e Grover para a casa dela na missão para recuperarem o Raio-Mestre. Na época, os dissera quem eram aqueles que iriam para aqueles Campos, mas sendo sincera, Belle não os contara tudo o que pensava daquele lugar - na situação em que estavam, era melhor que estivesse calada.

Inicialmente, após olhar com muitos mais calma para todos aqueles espíritos, percebeu que todos eles perderam a voz, perderam a noção de quem um dia foram. Ali, nos Asfódelos, milhões e milhões de espíritos perambulavam sem rumo, tentando desesperadamente se lembrar de quem eram, o que a fez questionar: Por que acabaram assim? Talvez fosse por isso que continuara visitando aquele lugar quando conseguira dominar com sucesso viajar nas sombras. Passados alguns anos, finalmente, chegou o mais perto do que pareceu ser uma conclusão e por mais que não fosse a mais otimista, era a resposta dela.

Para Belle, todos eles acabaram assim porque nunca lutaram pelo que acreditavam quando em vida. Nunca expressaram suas opiniões, portanto, nunca foram ouvidos, nunca foram entendidos. Permitiram-se ser influenciados. A voz, querendo ou não, é a identidade. É com ela que se mostra quem é. Quando não se a usa... bem, de certo um lugar no Asfódelos já está sendo preparado.

Não há algo como piedade no Mundo Inferior, seu pai a dissera. Eu sei o que está pensando, mas não há justiça como você conhece. A Morte não é justa...

Pois a vida é curta e a morte é eterna... ― Belle completou em voz baixa para si mesma.

― O que você disse, Elle? ― Uma voz ao lado dela a surpreendeu. Era Nico.

Belle piscou. Havia se esquecido de que não estava mais sozinha há alguns meses. Talvez fosse porque no momento estava furiosa e não aguentava mais ter que escutar a voz de Minos e só queria um pouco de sossego, mas é claro, Nico a seguia como uma sombra - não que ela se importasse, até porque ela foi a primeira presença sólida que ele sentia desde o momento que chegara ao Acampamento enquanto a irmã estava junto às Caçadoras.

― Eu disse que a vida é curta e a morte é eterna. ― Ela repetiu enquanto o olhava. ― Como você está se sentindo?

― Bem. ― Ele olhou ao redor. ― Quanto mais fico aqui, mais me sinto em casa. Isso é estranho?

― Claro que não. ― Ela deu de ombros. ― O Mundo Inferior é nossa casa. Eu disse que você iria se acostumar...

Levantando-se, bateu um pouco da terra da sua calça. Por mais que quisesse, não podia continuar o tempo todo sob a segurança do Reino do pai. Todo o comportamento de Minos a mandava dezenas de sinais vermelhos, mas como ainda não tinha provas, não podia simplesmente levar suas queixas para o sempre tão ocupado Senhor dos Mortos. De qualquer maneira, fosse o que fosse, conseguiria lidar com isso.

Tinha que.

Bem que ela achou que estava na hora de mudar as coisas no Mundo Inferior. Limpar a bagunça que se tornou a casa dela.

Minos deveria se sentir orgulhoso, por poder fazer parte da mudança que o Mundo Inferior estava prestes a testemunhar.

Nico sorriu. Outro de seus dentes de leite havia caído, ou seja, sua janelinha havia aumentado. Belle achou que ele ficou com o rosto ainda mais bobo (ela o disse inclusive e teve que escutá-lo reclamando por longas horas. Foi divertido) não que fosse um problema, não havia tanto tempo assim que fizera 11 anos, afinal. Belle o trouxe com ela justamente para que continuasse desse jeito, sem ter que se preocupar muito cedo com o peso da rejeição. Pois o Acampamento Meio-Sangue não é um lugar para uma criança de Hades.

𝐏𝐀𝐑𝐀 𝐎 𝐐𝐔𝐄 𝐄𝐑𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 (𝐞 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐝𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬)Onde histórias criam vida. Descubra agora