Capítulo três

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Leah

Depois de ter passado o jantar a receber olhares do Harry, decidi levantar-me e ir até ao meu quarto.

Sentei-me na velha secretária e comecei a escrever. De pressa percebi que cada palavra, cada letra, cada frase, cada significado, vinham dela.

Ela, apenas só mais uma pessoa que morreu para o resto do mundo, mas tão importante para mim. Às vezes torna-se difícil entender o quanto ela influencia as minhas palavras e os meus pensamentos, mas a verdade, é que tudo o que sou hoje, devo-lhe.

Tentei arranjar outro tema. Falar de outras coisas, para variar. Mas nada. Nada de ocorria agora.

Parei, respirei fundo e voltei a parar. Mas no meu pensamento apenas brilhavam luzes resplandecentes dirigidas única e exclusivamente a ela.

Ainda tenha bastante nítida a sua imagem na minha cabeça, e ainda sinto o meu corpo arrepiar quando me lembro do seu corpo. Tinha um corpo tão completo, um fulgor enorme naqueles olhos e um sorriso deslumbrante. Não diria que era perfeita, mas afirmo com todos as minhas forças que era, sem dúvida, mais que perfeita.

Será exagero dizer isto de uma pessoa que esteve comigo durante tão poucos anos? Seria exagero dizer isto da minha própria mãe? Seria exagero dizer que só com o olhar, ele me punha feliz? Então é porque desconhecem totalmente a forma como ela me olhava.

Lembro-me como se fosse hoje, quando me ia buscar à escola. Pé ante pé, descia as grandes escadas, de uma forma que parecia flutuar. O chão estendia-se por baixo dela como se fosse uma carpete vermelha e o seu cabelo ondulava-se a cada degrau que descia.

Todos os pais e professores a rodeavam, mas naquelas alturas, naqueles inexplicáveis momentos, a sua atenção era só minha. Capturava-me o olhar fixamente, enquanto se aproximava.

O meu coração batia tão rápido como nunca antes batia e as minhas mãos ficavam sempre suadas e quentes, apesar de todos os dias ser o mesmo ciclo, era como se fosse sempre a primeira vez. Parava então a respiração, talvez para usufruir dos momentos, e aqueles segundos seguintes pareciam décadas.

Quando sentia o toque do seu beijo húmido na minha bochecha, dava-me um tal arrepio que ficava sempre imóvel. Só quando se afastava, me sorria e volta a aproximar-se para me abraçar, é que voltava à realidade e voltava a respirar.

Eram momentos inexplicavelmente especiais, apesar de serem bastantes simples e usuais, diria que eram mesmo únicos! Para mim, aqueles dias tornaram-se imortais!

Um leve bater da porta desperta os meus pensamentos de novo para o presente. Pouso a caneta na mesa e guardo o meu caderno. Respiro fundo e tento afastar as lágrimas que já se estavam a querer formar por me ter recordado de todas estas coisas, que apesar de parecerem insignificantes, um dia têm muito valor, quando te apercebes do que perdeste.

Levanto-me e caminho a passos lentos até à porta. Abro-a, e quando vejo quem é, volto a caminhar para a minha velha secretaria e retiro os livros de geometria. Pego em todos os materiais que preciso e começo a fazer os exercícios que o stor nos tinha pedido antes do teste.

O seu corpo continua imobilizado à beira da porta, o que me irrita profundamente. Após alguns minutos, volto-me para ele, concentrando assim os nossos olhos um no outro. Ele sorri, mas os seus olhos parecem tristes, como se faltasse qualquer coisa neles para lhes dar um certo brilho.

- Se queres falar comigo, mais vale entrares dentro do quarto - Sorrio e ele caminha calmamente com as suas botas castanhas, sentando-se de seguida na minha cama de solteiro. A sua cara permanece voltada para baixo, e uma vontade gigantesca de o abraçar percorre todo o meu corpo. Contra toda a minha vontade, permaneço quieta no meu lugar e olho para o seu cabelo cacheado, que lhe tapa metade da cara.

Scream! - H.S [Em Pausa] Onde histórias criam vida. Descubra agora