Capítulo Dezasseis

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Harry's Pov:

A campainha da escola soou e eu apressei-me a arrumar todas as coisas dentro da minha mochila. Caminhei o mais rápido possível para o meu carro de modo a que ninguém me visse e coloquei-o a trabalhar, indo em direcção ao hospital psiquiátrico mais próximo daqui.

Há alguns meses que o médico me avisou para não a ir visitar, devido ao seu estado,mas não consigo deixar lá a minha mãe entendem? Era como deixar uma parte de mim solta, à deriva, no meio do nada... Não quero, de forma alguma, que ela se sinta sozinha, ou que pense que não tem ninguém ao seu lado para a apoiar. Talvez me faça bem ir aturar as loucuras dos outros, para poder esquecer a minha, certo?

A viagem demorou apenas 20 minutos, e estacionei o carro mesmo de frente ao hospital. Viam-se varias pessoas a entrar e sair do mesmo, umas felizes, outras tristes, umas a ler, outras a jogar no telemóvel... Não será a vida apenas isto? Momentâneas acções e comportamentos que nos levam a agir de tal forma? Eu explico... É pelas nossas experiências de vida, que agimos ou nos comportamos de maneiras diferentes. Não será a vida apenas uma lição, para podermos aprender e crescer com os nossos erros e vitorias?

Eu acredito que sim, e acho que cada um de nós é como é, por ter passado várias coisas que o moldaram a ser assim. Ninguém é pessimista só porque sim. Ninguém é optimista só porque sim. É vida que nos leva a agir de tal maneira.

Abri a porta do condutor e saí calmamente do carro, trancando-o. Caminhei até à recepção, onde me pediram o bilhete de identidade para poder entrar, uma vez que sou menor de idade perante a lei. Passei pela segurança, enfiei-me no elevador, que estava a abarrotar de gente, e fui até ao quinto andar.

Sentei-me na sala de espera, até que algum médico me pudesse dizer que eu podia entrar e esperei lendo um jornal qualquer da semana passada. Não esperei nem 20 minutos, até me levantar por ver uma senhora ruiva de cabelos encaracolados sair com uma bata branca vestida.

- O senhor está aqui para visitar alguém? - falou com uma voz cansada, mas muito delicada ao mesmo tempo.

- Sim - respondi calmamente e caminhei para mais perto de si - Anne Styles, por favor.

Demorou algum tempo a encontrar a minha mãe na lista, mas assim que encontrou, deu-me um cartão de "visitante" e indicou-me que ela se encontrava na sala de estar, junto dos outros pacientes.

Caminhei por um corredor escuro, até ver uma pequena seta que dizia "sala de convívio" em letras pretas, e virei para lá. Várias pessoas estavam na sala, mas a primeira que eu vi foi ela. Sentada na janela. Com os seus cabelos pretos lisos a ondular pela leve brisa. Os seus olhos verdes estão focados em qualquer ponto, não prestando atenção em nada do que a rodeia.

O seu olhar está triste e o meu coração parte-se em mil bocados com esta imagem. Nunca pensei que ela ficasse assim, tão dependente de qualquer coisa, que a fizesse vir parar aqui.

Tudo começou há um ano atrás, quando descobrimos que a minha mãe era violada, chicoteada e amordaçada por um colega seu de trabalho. Foi ameaçada durante seis meses, o que a tornou dependente de drogas e álcool, ficando num estado de dependência total, não conseguindo parar. Ela drogava-se e bebia para esquecer tudo e tentar passar aquela mágoa sozinha e só, quando mais tarde nos apercebemos disso, já ela tinha entrado em coma alcoólico. Eu e a minha família decidimos que o melhor para ela era ficar aqui, e agora que está numa fase frágil, onde tudo aquilo que ela vê, seja o mínimo de pó, é desculpa para voltar ao que era.

Andei calmamente até ela e toquei-lhe no ombro com tranquilidade, fazendo-a acordar do transe e chocar os seus olhos verdes com os meus. A minha pele começou a queimar e os meus olhos a ficar vermelhos. Aproximei-me mais e caí no seu colo soluçando como um rapazinho sozinho que está à procura de alguém com quem ficar. Os seus braços entrelaçaram a minha cintura e a sua cabeça ficou por cima da minha, sussurrando de vez enquanto que estava tudo bem e que em breve iria para casa.

Scream! - H.S [Em Pausa] Onde histórias criam vida. Descubra agora