Capítulo 55

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Leah

Eu não sei libertar-me das coisas...
Nunca soube. E sempre doeu demais perder algo ou alguém de quem eu realmente me importasse, mesmo que fossem coisas sem importância: como o bilhete do jardim zoológico que a tua mãe te ofereceu num dos teus aniversários e que na altura até nem deste tanta atenção, mas que te desperta memórias incríveis.
A verdade é que o bilhete em si não tinha importância nenhuma, mas já imaginaste os laços que criaste com as pessoas com quem partilhaste as tuas experiências, mesmo que sejam pequenos? Já viste como um minúsculo objeto pode despertar memórias de toda uma infância? E se de repente, tudo isso desaparecesse? O que é que te restaria para te ajudar a lembrar?

Eu não sei libertar-me das coisas...
Nunca soube. Pareço uma pequena lapa que se agarra a tudo com extrema força como se, por acaso, algo pudesse desaparecer sem que eu desse conta. Como se todas essas memórias pudessem não passar apenas de histórias perdidas das quais não me lembro no meio da minha confusa cabeça.
Lembraste daquela fotografia antiga que tens numa moldura do teu quarto, com uma amiga? Sabes, aquela em que as duas parecem ter vindo de outro mundo? Não é ela uma parte de ti? E é só uma fotografia... 

Eu não sei libertar-me das coisas...

Nunca soube. Por isso nunca me dei ao trabalho de tentar libertar aquilo que faz parte de mim.

- O jantar estava muito bom não acharam? – Liam pergunta assim que todos entramos no carro.

Aconchego-me junto do meu namorado e deito a minha cabeça no seu ombro, escutando uma ou outra vez a minha melhor amiga discutir com  Niall sobre quem comeu mais sushi e tenho de admitir que é bom. É tão bom sentir que temos alguém na nossa vida. É bom, é realmente uma sensação de pura felicidade que não dá sequer para descrever... O que mais poderia eu pedir, se já tenho tudo o que me faz feliz?  

20 anos.

Como o tempo passou tão rápido...  

Dizem que tudo na vida tem um sentido, e a verdade é que acredito inabalavelmente nisso. Gosto de acreditar que tudo acontece por alguma razão em concreto. Ninguém entra na vida de outra pessoa só porque sim. Ninguém magoa outra pessoa só porque lhe apeteceu magoá-la (ou não devia ser). Ninguém ama outra pessoa só porque escolheu fazê-lo. Tudo tem um sentido, mesmo que por variadas razões não o consigas ver.  Mas ele está lá. Sempre esteve. 

Neste momento, gostava de descobrir qual foi o sentido da minha vida. Gostava de saber o porquê das coisas que me aconteceram. Gostava de entender porque é que a minha vida virou do avesso, e ainda não saiu do mesmo sítio. Gostava de saber se o caminho que estou a tomar é o mais correto... ou estarei eu a errar mais uma vez, para aprender? Não serei eu nova demais para assumir a responsabilidade de ser mãe; de estar a viver com alguém? Ou estarei eu no caminho certo para a felicidade? 

Eu estou tão feliz...

Quanto ao Harry, não há qualquer dúvida sobre aquilo que sinto por ele. Eu realmente amo aquele ser de olhos verdes e cabelo encaracolado. Amo-o. Não o posso negar. Nem quero. É daquelas sensações que quero guardar comigo para o resto da vida. Porque é bom. Porque é único. Porque ele merece.

Sei que não existem histórias de encantar. E a nossa certamente que não seria a primeira. Existem, sim, amores para a vida. Ele é um desses. Um amor que quero guardar comigo. Fechado a sete chaves para que ninguém mo possa arrancar.

Amo-o demasiado para o deixar ir. Para o deixar fugir de mim. Prefiro engolir o orgulho e tê-lo na minha vida do que não tê-lo de todo. Porque no fim de tudo é isso que eu quero ter comigo. A amizade. A cumplicidade. Tudo aquilo que mais nenhuma outra pessoa me ofereceu como ele.

Scream! - H.S [Em Pausa] Onde histórias criam vida. Descubra agora