18 - Clara e Duda

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Eduarda

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O dia não foi fácil. A conversa com Lara me deixou pensativa. Aquela historia sobre "mãe ausente" me fez pensar em como o trabalho as vezes nos priva de estar com quem mais amamos e queremos. Paro e penso quando eu tinha mais ou menos a idade de Lara e no quanto o mundo parecia complicado. Minha história conturbada com Melissa, minha história com Clara, tudo que vivi, Lara foi fruto dos momentos mais marcantes da minha vida. Eu sinto que a dureza com a qual lido com ela soa demasiadamente errôneo, mas a verdade é que sei que minha filha tem muito de mim. Mima-la como Melissa mima não é a saída. Só vai torna-la mais rebelde. Lara precisa de um pouco mais de firmeza, precisa saber que o mundo não é dela e que as pessoas não são obrigadas a lidar com suas incertezas e confusões. O mundo não para até a gente organizar nossa cabeça. E é isso que eu preciso fazer que ela entenda. Me cortou agir da maneira que agi hoje, mas sei que foi necessário. Eu sei o quanto ela se esforçou, eu acompanhei diariamente seus avanços e li cada palavra dos relatórios que a estagiaria Catarina Vidonni me entregou sobre ela. Mas Lara ainda precisa saber que não pode sair por ai mentindo, errando e achando que vai ser perdoada simplesmente por ser filha de uma das redatoras do jornal. Ela precisa aprender que o mérito de cada erro e acerto é dela e genética nenhuma vai ajudar nas subidas de seus degraus. 

Enquanto abro a porta de minha casa e vejo Camila e Ryan correndo para os meus braços, dando aqueles pequenos passos desconcertados, ao som de pequenos monemas pouco sonoros, chamando-me: "-"... É exatamente em momentos como esses que percebo o quanto tenho sorte. É como se todo o estresse do trabalho esvaísse com o poder de um abraço. Meus três filhos são meus tesouros, são minhas bençãos, são a razão pela qual acordo todos os dias. E a mulher que está caminhando em minha direção com um sorriso radiante e receptivo é a razão pela qual sou grata ao céus por ter a vida que tenho. 

— Chegou tarde, amor. — Clara disse beijando minha boca e pegando o Ryan em seus braços, enquanto eu envolvia Camila nos meus. — Como foi o dia hoje, Duh? 

— Foi tão difícil... Hoje tive que lidar com um problema envolvendo a Lara. Ela não consegue criar responsabilidades e anda cada vez mais rebelde. Eu nem sei o que fazer. Acredita que ela jogou um crachá no meus pés? Lara foi longe demais. Eu tenho que achar uma maneira de ajudar minha filha, antes que a rebeldia tome por completo sua personalidade. — falei sentando no sofá, ao lado de Clara e Ryan. 

 — Mas por que ela fez isso? — Clara parecia surpresa com o que tinha ouvido. 

 — Eu disse que se ela não queria criar objetivos de futuro e preferia se trancafiar no quarto, então que assim fosse. Ela estava livre do estágio. 

— E ao invés dela ficar feliz, ela jogou o crachá nos seu pés? Amor, veja a situação pelo meu ângulo. Se ela realmente odiasse o jornal como você pensa, ela teria saído pulando quando você disse pra ela ficar em casa, mas o que ela fez? Se revoltou e jogou o crachá! Você não consegue ver que tudo que Lara precisa é de um pouco mais de tempo para descobrir o que ela realmente quer? Dê tempo para que ela consiga colocar a cabeça no lugar. Ela pode ser uma garota um pouco rebelde sim, mas é uma garota incrível também. E não esqueça que nós também já tivemos essa idade e aprontamos coisas bem piores que Lara sequer ousou pensar em fazer. 

— Vendo por esse lado, talvez você tenha mesmo razão...

— Agora vamos comer porque tô faminta. Fiz uma massa maravilhosa para o jantar: macarrão ao bolonhesa.. — Clara disse sorrindo e me puxando..

— Vou ao banho e já desço, querida. — falei colocando Camila no chão e subindo. Em minha memória, como um flash, lembrei e sorri do dia em que quase incendiamos um apartamento fazendo macarrão. 

Clara

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Coloquei Ryan e Camila nas suas respectivas cadeirinhas próximas da mesa e verifiquei se estavam bem seguros. Meus dois pequenos são tão inquietos que só consigo prever que vão herdar o gênio de Eduarda...

O cheiro do jantar estava delicioso; modéstia a parte, melhorei bastante na cozinha após terem inventado os canais de receitas no youtube. Enquanto eu colocava os pratos e esperava faminta a companhia de Duda, aproveitava para brincar com as crianças, distrai-las, antes que elas quebrassem tudo a cerca de nós. Como seres tão pequenos conseguem ser tão imperativos? 

Agora eu entendo o sentido da frase da música que Pitty canta: "Não se assuste, pessoa, se eu lhe disser que a vida é boa."

A vida pode ser realmente boa quando compartilhada com quem amamos e vivida com simplicidade. É nos pequenos detalhes que estão as gotas que compõem a chuva de energia que nos move. A alegria está em cada sorriso mostrando os dois pequenos dentinhos do Ryan. A cada vez que a Camila quebra meus batons fazendo traquinagem. A cada chegada de Eduarda após um dia inteiro segurando a saudade. E quem disse que a rotina precisa ser um fardo? O fardo não está na rotina, está em fazer diariamente o que não gostamos. E se há algo que amo, é pode estar junto desse trio que tira meu descanso, mas que enriquece meus dias de alegria.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora