63 - A crueldade

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Lara

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Seus olhos estavam fundados em uma escuridão que eu não conseguia ler exatamente.

Garrafas de bebidas alcoólicas estavam espalhadas naquele cenário e eu constatei que realmente não reconhecia aquele diante de mim. Quando ele começou a beber afinal? O hálito de álcool que Arthur proferia chegava a me enojar.

O medo me apavorava, e o mais apavorante era não saber em exato o que eu temia, mas uma sensação estranha pairava no ar e me mostrava cada vez mais um Arthur que eu desconhecia. Seu comportamento inquietante, sua maneira de agir com desdém, seu olhar enigmático e profundo me deixava refém. Eu sentia que sua sanidade não estava no  controle daquela situação. Ele não era o mesmo e eu demorei a perceber isso. Olhei ao redor buscando a porta de saída, a noite estava silenciosa e somente o som dos grilos lá no longe do horizonte pareciam sobressair em meio a voz de Arthur. 

— Quero falar de nós outra vez... – ele proferiu como se "nós" ainda fôssemos um assunto a ser pautado.

— Arthur, acabou. Não existe mais "nós". Quando mais cedo você entender isso, mas cedo seguirá sua vida.

— Seguir? Você acha que não tentei? Ariane foi a prova viva de que tentei, mas é você quem eu amo. E agora sei que você também me ama. Você desistiu do baile por mim. Você está aqui. Essa era a prova que eu precisava.

— Você sabe que eu faria isso por qualquer pessoa que estivesse sumida, com uma mãe sedenta por notícias. Me perdoa, sei que estou sendo repetitiva, mas realmente acabou.

— Quando tu me olhas assim, fria, sem esboçar nenhuma reação, eu perco o chão e sinto meu estômago fervilhando. Me afastei e dei o espaço que me pediu. Entendi que você precisava de um tempo para processar as coisas e tirar esse desvio da heterossexualidade da cabeça. Mas sinto que o tempo foi meu inimigo. Em mim ele causou saudades, abstinência, mas em ti causou o esquecimento. Mas eu vou te fazer lembrar do que já vivemos, de cada sensação incrível no nosso sexo, - ele disse tirando o cinto da calça jeans - e daí duvido que você queira insistir nessa loucura de me deixar.

Ele disse aproximando-se, visivelmente bêbado, andando em passos desequilíbrados. Eu senti o pânico tomando meu corpo e espalhando ondas de adrenalinas sobre mim.

— Arthur, vista-se agora! Pare de loucura ou eu vou embora e te deixarei aqui sozinho! — esbravejei com raiva, mas ele ignorou minha ordem descendo seu zíper e abaixando sua calça.

Entendi que naquele momento não cabia mais conversar ou tentar um acordo amigável, então busquei o mais rápido que pude a porta de saída. Meus passos eram tão apressados que denunciavam meu pânico.

— Aonde acha que vai? – ele disse bloqueando a passagem e eu pude ler em seus olhos que ele pretendia algo do qual me deixaria marcas severas.

— Me deixa em paz, Arthur! – falei empurrando seu corpo com toda força para que saísse do meu caminho e me desse espaço para correr.

E felizmente ele caiu, mas foi aí que meu pesadelo começou. Ainda caído, segurou meu calcanhar e impediu de correr. Eu caí e ele se aproveitou para levantar. Catou uma das garrafas de vidro que estava no chão e quebrou ao meio em uma parte de madeira do casebre, fazendo do gogó uma arma para me ameaçar.

— O que está fazendo, Arthur? Esse não é você. Vai mesmo me machucar? – falei chorando, sentindo o medo e pavor me dominar.

— Juro que se você ficar quietinha, não vou te machucar. Só quero te fazer lembrar dos meus toques, de como era bom a nossa química...

— Se eu não quiser também, isso é um estupro, você mais que ninguém sabe disso. Vai mesmo ser capaz de um ato tão cruel com alguém que você diz amar? – eu implorava com tanto fervor, que minhas lágrimas jorravam como represas sem fim.

— Não é estupro. Eu sei que você quer. – ele disse com um olhar tão escuro que eu podia enxergar um abismo. — Você vai gostar, é só cooperar...

Eu me debatia, não me dava por vencida, mas o peso do seu corpo sobre mim dificultava tudo. Juntei os resquícios de forças existentes em mim e então chutei bem no meio das suas pernas. Ele gritou de dor e eu tentei fugir, mas ele novamente tomou o controle da situação pressionando o gogó da garrafa na minha garganta, chegando a ferir.

A dor que ele estava gravando na minha pele não era maior que o ferimento que estava causando na alma. Uma última lágrima rolar em minha face antes de sentir com toda rispidez ele rasgar minha roupa.

Eu queria acordar, eu queria ter certeza que aquilo era o pesadelo mais cruel que tive, mas quanto mais os minutos passavam, mais eu entendia que era uma realidade da qual eu não podia fugir.

Suas mãos tomavam todo meu corpo e eu sentia arrepios frios, e nojo, e medo, e pavor. Eu queria gritar, eu queria sair correndo, eu queria fazer qualquer movimento brusco que o tirasse de cima de mim, mas eu não conseguia, eu estava travada. Algo em mim parecia ter petrificado e eu não estava sabendo lidar com a sensação de não reconhecer alguém que para mim era o sinônimo de toda benevolência predominante em alguém.

Sentindo o que estava prestes a vir, fecho os olhos para não ver a cena que me destruiria inteira. Eu cedo diante de tanta vulnerabilidade, e choro incessantemente sentindo a dor do membro dele me invadindo sem permissão. Um Arthur impiedoso e incontrolável do qual eu não conseguia reconhecer me violentava, tirando e colocando fortemente seu membro dentro de mim, como se tivesse tal direito sobre meu corpo, como se eu fosse um objeto de posse e poder.

Minha mente emitia comandos para reverter aquela situação, mas minha impotência e perplexidade se negava a cumpri-los. Eu estava petrificada e paralisada em um absorto de medo, pavor é ódio.

Eu não queria acreditar eu me negava acreditar, eu mais que chorava, eu uirrava, e então ele pressionou ainda mais o vidro que ele usava como arma próximo ao meu pescoço, fazendo um corte misturando sangue naquele cenário cruel, e então ordenou que eu abrisse mais, até que o sinto gozando dentro de mim. Eram jatos quentes, que a cada dosagem um nojo de mim mesma se espalhava sobre mim, e eu só conseguia gritar libertando o choro e raiva existente em mim.

Catarina chegou, mas já não havia mais tempo suficiente para impedir o ato. Infelizmente o meu pior pesadelo havia se consumado.

Silenciosamente, ela veio pe-ante-pe e pegou um pedaço de pau que estava no seu caminho e abarcou com toda a força na cabeça de Arthur, levando-o a cai desmaiado no chão.

Eu estava feliz em vê-la, mas não consegui esboçar nenhuma reação. Eu estava naquele momento afundada em uma paralisação cruel, e meus olhos só sabiam chorar e chorar, ela me abraçou chorando, pegou seu telefone ligou para as minhas mães no intuito de pedir socorro, mas eu já estava sem forças, e sentindo outra lágrima rolar no canto do meu olho, ainda em seus braços, desmaiei me sentindo desfalecer.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora