Kiara
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Acordei apreensiva. Não era fácil gostar da sensação cruel que predominava em mim; comprar uma briga com minha mãe não era algo que me agradava muito. Melissa praticamente exigiu que Lara e eu fossemos juntas com ela para a escola. Segundo a mesma, queria ter certeza que a diretora, vulgo, minha mãe, não levaria a história de expulsão a diante. E bom, eu nem sabia se estava preparada para enfrentar a fera, mas decidi não ir contra aos comandos de Melissa.
Acordei mais cedo para me preparar e caminhando pelo corredor observei que a porta do quarto de Lara ainda estava entreaberta, acho que era uma mania estranha que ela tinha de nunca fechar a porta. Eu já estava devidamente pronta, pois ainda desejando muito, não consegui dormir na noite passada, não sei se pelo que ouvi entre Catarina e Lara ou se por culpa de tudo que estava acontecendo entre minha mãe e eu. Dei três batidas na porta e não obtive nenhuma resposta da ruiva, coloquei minha cabeça para dentro do quarto e então me dei conta de que ela ainda estava dormindo. Como alguém consegue dormir tão serena enquanto o mundo lá fora está ruindo? Invejei tal capacidade.
Me aproximei e fui acordando-a vagarosamente, com calma e paciência, afinal lidar com Lara já não é normalmente simples, imagine pelas manhãs quando acorda? Eu não queria que nos atrasassemos, pois, se fosse para enfrentar minha mãe, que eu não tivesse que morrer na ansiosidade da espera.
— Credo, isso é a continuidade do meu pesadelo? — ela disse abrindo os olhos e se dando conta da minha presença ali.
— Você e seu péssimo humor. Nem sei porquê ainda me importo com você. — proferi sem paciência. — Só vim para te acordar, Melissa pediu que descessemos para tomar café da manhã e antes de irmos juntas com ela na escola. Mel deseja se certificar que não seremos expulsas.
— Só me faltava isso mesmo, ser expulsa por sua casa. — ela revirou os olhos e eu senti seu total desprezo por mim. E era tão doloroso.
— Eu juro que não entendo todo esse ódio que você adquiriu de mim. Eu já repeti mil vezes as causas e razões por ter me afastado de ti, por ter abandonado nossa amizade. Até sua mãe foi capaz de me perdoar e você continua assim, me tratando com tanto desdém e repetindo seus ataques rotineiros. O que mais você quer de mim afinal? Que eu me ajoelhe nos seus pés e te peça perdão? Me desculpe, mas isso não vai acontecer. — vociferei.
— Não é só por ter ido embora, é por ter se tornado em um ser humano mesquinho, frio e egoísta. Você é má Kiara, você não é mais a garota que conheci. Você deixou de ser ela faz muito tempo. Naquela noite em que fomos na social na sua casa e você mandou seu grupo de amiguinhos jogarem Ariane na piscina, sabendo do pânico e fobia que a garota tinha de água, fazendo-a inclusive desistir da escola, e você sabe que aquilo foi cruel demais até para você. Então não me culpe por ter aprendido a sentir nojo da pessoa que você se tornou.
— Não seja cruel, Lara. Não fale do que não sabe. Eu não sabia do medo de Ariane por água. Eu sabia menos ainda da morte de seu pai, a gente não fica fazendo árvore genealógica das pessoas. Nunca planejei que ela saísse da escola por isso. Eu não mandei que ninguém jogasse-a na piscina, eu ganhei a fama e responsabilidade do feito simplesmente porque eu era a dona da festa, não por ter idealizado o plano. E sim, eu ri, porque céus, eu não imaginei a proporção das coisas, para mim era só uma brincadeira entre amigos, eu não fazia idéia que ela não sabia nadar. Eu iria pular naquela piscina para salva-la quando finalmente me dei conta de que ela não estava brincando, nem fingindo um possível afogamento, mas você foi mais rápida. Depois disso você mudou completamente, se distanciou, e eu nem entendia a causa, agora entendo. Como diz ser minha amiga, se via em mim um ser tão cruel e implacável? Eu tentei me reaproximar, mas você foi me deixando de lado cada vez mais.
— Claro que deixei. Você não me merecia por perto. Você foi capaz de dizer para toda escola que eu era filha de um casal de lésbicas, mesmo sabendo que aquilo transformaria meu colegial em um inferno. Você foi cruel comigo. — me jogou na cara outro trecho do passado e eu me arrependi ainda mais.
— Eu estava magoada. Eu estava com rancor por você ter escolhido Arthur e me deixado de lado. Eu não pensei, não medi as consequências, era ciúmes, e no final fui eu quem mais paguei o preço, pois minha mãe ouvindo os boatos, não me deixou mais se aproximar de ti. E eu te amava, e eu te queria perto mais que tudo. Não acha que já paguei meu preço? Não me faça lidar com seu desprezo e indiferença, eu já entendi que não tenho a menor chance com você, já sei que agora outra pessoa está ao seu lado novamente, sei que não se tratava de Arthur, mas do fato de não me querer, e agora encontrou quem de fato escolheu para estar ao seu lado. Mas se puder fazer algo pela amizade que um dia tivemos, não deixe que o rancor acabe com tudo de bom que já vivemos.
— Como sabe sobre Catarina?
— Isso já não importa, mas você teria sido menos cruel com meus sentimentos se tivesse me contado sobre ela desde o início. — falei levantando da cama e indo para a mesa do café, eu não estava mais aguentando ler tanto rancor nos olhos de Lara e precisava de qualquer refúgio que fosse possível ficar longe dali.
NOTA DA AUTORA
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Iai meninas? Vocês acham que a Kiara está sendo sincera com Lara? Acham que nossa ruiva irá perdoa-la? E sobre a mãe de Kiara, o que será que ela fará? Alguem suspeita do que está por vir?
obs: Nosso livro tá nos capítulos finais. Ansiosas?
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L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]
Roman d'amourAlguém lembra da bebezinha deste conto? Pois é, ela cresceu. O tempo passa rápido e não há tempo para cruzar os braços e esperar as horas passar, ele é tão veloz quando o piscar das suas pálpebras. Quarta temporada do romance lésbico - CLARA E DUDA.