32 - O anel

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Lara

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Era confuso me sentir assim: Arthur estava ao meu lado, mas meus pensamentos ansiavam por Catarina. De alguma maneira estranha essa noite mudou completamente algo dentro de mim. Estou com uma impressão estranha de estar traindo meu namorado pela forma como desejo a presença dela aqui. E se ela estivesse? O que estaríamos fazendo agora? Eu estou sentido-me sem controle. Eduarda caminha em minha direção com um sorriso triunfante e eu começo a pensar que ela sabia exatamente da probabilidade disto acontecer quando resolveu convidar Catarina para esta noite.

— Esses olhos perdidos na multidão buscam alguém, filha? — ela disse como se buscasse uma confissão.   

— Não, claro que não. — falei pausadamente, como se nem eu mesma tivesse certeza do que estava dizendo. — Mãe, sobre aquele lance de voltar para o jornal... A proposta ainda está de pé? — eu estava louca para encontrar Catarina outra vez. 

— Claro que está. Pensou melhor na minha proposta? 

— Pensei e resolvi aceita-la. — falei apressadamente, sem chance para repensar. 

— Fico feliz que tenha silenciado o orgulho e aceitado meu convite. Quando quiser começar, estarei lá te esperando. — minha mãe disse com um sorriso tão grande que eu podia contar todos os seus dentes. 

Arthur

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Lara estava diferente. Não sei explicar em exato o que havia mudado, mas algo parecia estar fora do lugar. Ela odiava aquele jornal, mas estava cogitando a idéia de voltar para lá por opção própria (?). Não sei o que está causando essas mudanças ao certo. Não sei se isso é paranóia da minha cabeça ou se é apenas a correria da festa resultando em dar atenção excessiva a todos os convidados que estava deixando-a distante, ou na verdade se ela estava distanciando-se de mim por opção própria. Isso soa maluco, pois tudo parecia estar indo bem, até eu ter me atrasado para a droga daquela valsa e tudo então parecer ter desandado. Será que ela estava brava por eu ter dado mais atenção do que deveria para Ariane? Será que era isso? Mas ela nunca foi do tipo insegura. Nunca demonstrou sentir ciúmes. Não, acho que não é isso. Talvez seja algo muito além, algo que nem eu mesmo consegui interpretar. É que eu a amo. O fato é que temo qualquer hipótese que possa afasta-la de mim.   

Lara

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Meus pés estavam um caco, minhas pernas estavam pedindo socorro. Eu já não aguentava aquele salto me doendo. Ainda faltava metade dos convidados para me despedir e eu já não aguentava mais. Foi uma festa incrível, isso não posso negar. Dona Melissa cumpriu seu papel em oferecer a festa mais incrível que já tive, mas meu corpo precisava descansar e ela que me perdoasse, mas eu iria subir para o quarto. Ela que se virasse para despachar os convidados que ainda permaneciam ali. Será que eles não entendiam que quando a música para do tocar é hora de ir? Céus! Enquanto tiver docinhos por ai, haverá pessoas circulando e eu não vou esperar até que eles decidam por boa vontade partir. 

Abracei alguns dos meus familiares que eu não via há muito tempo, como os tios Bernardo, Rafa e Gui e as tias Samantha, Liv, Laura e após dar aquele abração de agradecimento por terem vindo, pedi licença e subi. Coloquei o álbum que Kiara me presenteou sobre o criado mudo e deitei. Minha cabeça estava tão cheia que nem ao menos lembrei de me despedir de Arthur. A lembrança só voltou a minha cabeça quando o mesmo deu três batidinhas na porta e pediu licença para entrar. Eu queria dizer que não. Eu queria dizer que não podia. Eu queria me sentir livre para tomar um banho relaxante, deitar minha cabeça no travesseiro e pensar, mas não, eu não podia. Arthur estava ali, diante de mim. E pela primeira vez eu senti como se a companhia do meu namorado não fosse a que eu necessitava ali. 

— Vim para me despedir. Você subiu tão repentinamente. Eu precisava te dar meu presente de aniversário. — ele disse retirando um suporte  do bolso. — Bom, eu planejei fazer isso após a valsa, no salão, diante de todos, mas as coisas não saíram como planejei e os planos acabaram sofrendo alterações. — eu estava com medo. Eu tinha quase certeza do que estava por vir e eu não queria estar certa. Se fosse um tempo atrás eu daria pulos com algo como isso, mas hoje, céus, hoje, eu nem sei em exato o que está acontecendo dentro de mim. Ajoelhando-se ele me olhou tão apaixonadamente que seus olhos brilhavam mais que a pedra do anel que ele colocava diante de mim.  — Lara, eu sei que romantismo anda meio fora de moda, mas eu jamais deixaria esse dia passar sem simbolizar o quanto amo estar contigo, o quanto sou feliz desde que nos conhecemos, o quanto as coisas parecem mais belas quando estamos juntos. Peço que aceite esse anel como prova de carinho, amor e respeito. Meu desejo é te pedir agora mesmo em casamento, mas bom, acho que você acharia precipitado demais, afinal somos dois apaixonados de colegial, mas saiba que eu não tenho dúvidas sobre o quanto te quero e o quanto posso esperar até que estejas pronta.  

Eu não conseguia dizer nada. Na verdade eu só conseguia chorar enquanto observava a cena dele colocando a aliança no meu dedo. Mas não era um choro de emoção como provavelmente Arthur deve estar imaginando. Era um choro de culpa e desespero. Eu queria correr, eu queria não estar ali naquele momento. Pela primeira vez na vida eu não tinha certeza do que eu estava sentindo pelo garoto que eu julguei ser quem eu dividiria minha vida para todo o sempre. Ele beijou delicadamente meu rosto e sorriu observando o anel ajustado na minha mão. Eu forcei um sorriso também, mas ainda não sabia o que dizer. 

— Obrigada por me fazer um homem tão feliz, ruivinha. — ele disse me enchendo de beijos. 

— "você é um homem incrível, Arthur." — foi tudo que eu consegui proferir.

— Bom, imagino que foi um dia cansativo para você. Vou te deixar descansar, pequena. — ele disse me dando um último beijo delicado na testa antes de partir. E eu, bom, fiquei encarando o brilho daquela pedra que ele colocou no meu dedo. Tudo dentro de mim parecia confuso. Eu estava sentindo-me uma completa desconhecida. 

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora