Lara
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Ao ver Catarina chorando, correndo para longe de mim, me limitei a correr ao seu encontro buscando quaisquer vestígios que pudessem traduzir os sinais ilegíveis que ela estava emitindo. O que estava acontecendo afinal? Céus, será que me enganei quando acreditei que ela queria esse beijo tanto quanto eu? Me equivoquei e agi com pressa? Será que senti sozinha o misto de sensações que me tomou o estômago quando dançamos juntas?
Vê-la naquele estado me sangrava o coração. Sentada no chão do banheiro, cabisbaixa, com braços em volta da sua cabeça me davam a imagem de uma Catarina fraca, frágil e derrotada.
Eu queria respostas, mas não queria ser cruelmente invasiva e colocá-la contra parede. Queria menos ainda fazê-la sentir recuada. Esperarei até que ela queira conversar, e finalmente me diga a razão que rouba seu sorriso. Me limitei apenas a abraça-la e lhe confortar do que quer que fosse.
— Entre todas as reações que meu beijo já provocou, jamais imaginei que um dia resultaria em lágrimas. — falei serena, forçando uma piada -sem graça- para quebrar o silêncio da atmosfera. — Foi tão ruim assim?
— Não, não foi. Na verdade a pior parte é saber que seus lábios escondem o gosto mais inebriante do qual já provei; e que apesar disso, esse será o último. — eu li decisão em seu olhar. Ela realmente parecia certa do afastamento que estava nos propondo.
— E por que será? Olha, se for pelo meu namoro, quero que saibas que Arthur e eu rompemos. – eu não queria abrir mão da autonomia de poder tocar aqueles lábios outra vez.
— Não tem nada relacionado ao seu namoro. A questão sou eu... — ela disse enxugando abruptamente uma lágrima com o punho esquerdo. — eu não quero insistir em algo fadado ao erro. E peço que respeite isso.
— E por que estamos fadadas ao erro? Você por acaso é Mãe Diná para prever o futuro? Para de sofrer por antecipação e deixa as coisas acontecerem de acordo com seu próprio tempo e percurso. Te dei um beijo, não te pedi em casamento. – pontuei com rispidez. Eu não estava entendendo por que não podíamos nos permitir desbravar o que estavamos sentindo. Catarina já não estava falando claramente e aquilo mais estava parecendo um quebra-cabeça insolucionável....
— Não sou mãe Diná e não estou prevendo nada, estou apenas dizendo que não quero nada com você. Entenda isso, e por favor, não me faça mais repetir. — algo em seus olhos me diziam que suas palavras não coincidiam com suas reais vontades, mas meu coração já estava golpeado demais para lidar com essa ambiguidade. Talvez eu só estivesse me iludindo pelo fato de ser isso o que eu mais queria acreditar.
— Então é isso? Voltei hoje para o jornal só para te ouvir dizer que me quer longe de ti? — falei me desprendendo de Catarina e mantendo uma certa distância para encara-la.
— É isso... — ela disse levantando, fugindo de olhar nos meus olhos e lavando seu rosto na pia do banheiro, encarando sua própria imagem no espelho, saindo imponente, deixando para trás meu orgulho e meus sentimentos pisoteados com seu desdém.
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L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]
Roman d'amourAlguém lembra da bebezinha deste conto? Pois é, ela cresceu. O tempo passa rápido e não há tempo para cruzar os braços e esperar as horas passar, ele é tão veloz quando o piscar das suas pálpebras. Quarta temporada do romance lésbico - CLARA E DUDA.