Lara
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Entrar na sala da supervisora Elisa me submeteu a uma sensação similar de estar indo ao purgatório. Catarina já estava lá, sentada, ostentando pontualidade. Seu olhos ao me verem entrar demonstravam desprezo. Eu pedi licença e sentei na cadeira a sua esquerda, desconcertada e sem jeito. Pela cara de Elisa notei que a raiva não tinha amenizado; ela estava tão puta quanto antes.
— Eu realmente estou envergonhada com o modo que vocês banalizaram documentos importantes. Eu precisava com urgência das pautas para selecionar as matérias, e ao invés de vocês estarem empenhadas nisso, estavam fazendo pausa para um café? Com que tipo de profissionais estou lidando aqui? — ouvir aquela ladainha não me feria em nada, mas eu sentia como se estivesse golpeando Catarina.
— Senhora, não use o plural para falar dessa falha. O erro foi meu, não de Catarina. Deixe que ela vá, a culpa realmente não foi dela. Catarina Vidonni foi até o Lé coffee para buscar as pautas e eu acabei prendendo-a lá. Eu sei que eu não deveria ter saído em meu horário de serviço, mas minha mãe ordenou que eu fosse, pois ela precisava de cafeína para aguentar a noite em claro seguida pela longa jornada de trabalho. Eu não ousei dizer que não e fui de pronto, ainda com as pastas nas mãos. Catarina sabendo da urgência que a senhora precisava desses documentos, foi até lá para busca-los. Mas na pressa de querer fazer tudo de uma vez, entre trazer o café e as pastas, acabou desequilibrando ambos de suas mãos e os deixando cair. Em resumo foi isso... — eu sabia que Eduarda me mataria por estar mentindo, mas era necessário. Se eu falasse que fui ao café por vontade própria e que ficamos lá batendo papo, seria ainda pior; Elisa nos puniria sem dó.
— Sua mãe trabalha no jornal? Não sabia deste fato! Mas mesmo assim, você deve saber que eu sou a supervisora a quem vocês devem responder, não sua mãe. Em casa ela te dá as ordens, aqui sou eu. - ela estava realmente brava. — Mas me diga, quem afinal é sua mãe e em que setor trabalha? Vou aciona-la aqui. Os funcionários devem respeitar as hierarquias. Vocês passaram por cima de uma ordem minha e isso não pode ser ignorado.
— Sou filha de Maria Eduarda, redatora-chefe do jornal. — pude sentir Elisa engolindo a seco aquela informação. Ela estava notoriamente surpresa. E eu estava grandemente ferrada. Eduarda pediu que eu não falasse sobre nossa ligação pessoal de forma frequente para que eu não fosse tratada diferente dentro da empresa e, subisse com meus próprios esforços, de maneira meritocrática, mas eu achei que a rádio fofoca já havia espalhado os fatos sobre meus laços genéticos, e que Ian já havia deixando-a a par disto, mas pelo visto me enganei e mais uma vez me ferrei.
— Catarina, você pode ir, está dispensada. Se Lara afirmou que tu não tens culpa sobre o ocorrido, vou te dar mais um voto de confiança. Mas lembre-se que se houver um segundo erro, eu não vou te aliviar. Foi gravíssimo o que aconteceu, foi irresponsável, foi imprudente. Eram documentos cruciais para as matérias, e não estou certa se vamos conseguir recupera-los. Então vá de uma vez e veja se Ian conseguiu salvar alguma coisa deles. — ela disse curta e grossa, fazendo Catarina sair dali o mais depressa que conseguiu. Seguidamente me olhou, encarou-me e pegou seu telefone. Discou o ramal que eu reconhecia bem e meu coração veio a boca: ela estava bipando minha mãe.
Céus, agora eu teria que enfrentar o furação Eduarda.
Eu já estava me arrependendo de ter assumido toda a culpa. Eduarda não me aliviaría, pior quando souber da mentira. Vai me apontar o dedo e me chamar de irresponsável outra vez. Já estou prevendo! Droga, por que caralhos eu não deixei Catarina se ferrar sozinha? Por que não a culpei e me fiz de vítima? Burra, burra, burra... Mil vez burra! A essa hora Catarina deve estar rindo vitoriosa e se deliciando com a fria que vou entrar.
Catarina
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Enquanto eu caminhava em busca do Ian para recolher os documentos, meu coração tentava se acalmar. Enfrentar Elisa não é simples; aquela mulher costuma ter o capeta nos couros. Por sorte seu humor não estava tão azedo hoje. Ou talvez os créditos sejam de Lara por ter me ajudado a sobressair ilesa da situação. Na real nem consigo entender o porquê ela fez isso. Nós nunca fomos amigas, nunca tivemos a menor empatia uma com a outra. Eu esperava que ela me culpasse e me deixasse completamente ferrada, mas ela fez o oposto e eu nem consigo entender o porquê. Estou me sentindo mal por não ter ficado lá e assumido minha parcela de culpa. Eu não devia tê-la deixado só. E se Elisa culpabiliza-la o dobro? Não quero nem pensar nessa idéia. Eu realmente não quero. Ela foi legal me ajudando a escapar da bronca, não quero que seja penalizada. Ah,mas vai ver estou me preocupando à toa. Ela é nada menos que filha da dona. É óbvio que ninguém vai aplicar metade da punição que aplicariam em mim. No máximo Lara deve estar se divertindo com seu poder fazer o que deseja "na empresa da mamãe". Aposto que Elisa vai se curvar aos pés dela quando souber seu sobrenome, quando souber que ela é uma das herdeiras deste império. Estou me preocupando à toa... Lara detesta esse jornal, e óbvio que ela está pouco se importando sobre que punição receberá.
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L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]
RomanceAlguém lembra da bebezinha deste conto? Pois é, ela cresceu. O tempo passa rápido e não há tempo para cruzar os braços e esperar as horas passar, ele é tão veloz quando o piscar das suas pálpebras. Quarta temporada do romance lésbico - CLARA E DUDA.