24 - A festa

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Arthur

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Eu sempre soube que a famila da Lara era montada na grana, mas não imaginei o quanto até hoje. Só o valor do bolo de aniversário dela já paga todas as parcelas em atraso do meu carro. Melissa realmente caprichou, mas acho essa história de roupa formal um exagero e tanto. Eu não estou aguentando esse smoking sobre meu corpo e essa gravata me apertando constantemente. Estou com uma sensação de estrangulamento. É uma festa de jovens, deveria ser uma coisa mais liberal com DJ e funck. Mas isso aqui está até parecendo uma festa de gala para velhos. Se bem que ela disse que essa roupa era necessária para que eu ficasse à altura do vestido de Lara na hora que fossemos dançar a tão esperada valsa dos 18 anos. Sério que isso é realmente necessário? Sempre achei que isso estava um pouco ultrapassado. Ninguém mais faz isso!

Os garçons circulam pelo salão com seus smokings brancos e eu consigo achar alguns até mais bem vestidos que eu mesmo. Se meu smolking não fosse preto, eu até poderia distrair os olhares me juntando a eles. Quando Melissa deu a idéia da festa eu fiquei bem animado, mas não imaginei que seria tão pomposa assim. 

Catarina 

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Acho que Ariane e eu chegamos cedo demais. Ou será a anfitriã que está atrasada? Há poucos convidados espelhados, e tem mais garçons e petiscos que qualquer outra coisa. Não sei quem organizou a decoração, mas preciso dar meus sinceros parabéns. A pista de vidro sobre a piscina para a dança principal e trajeto dos convidados, os refletores, a iluminação em neon, as cortinas nudes, as rosas brancas por todos os lados, o bolo, a organização autentica, os porte dos funcionários - garçons que parecem ter saído diretamente das academias para esse evento, de tão sarados-. Acho que essa é uma daquelas festas para ninguém conseguir encontrar defeito. Um evento realmente digno do sobrenome que Lara Vasconcelos carrega. 

— Ariane, você já viu o quanto capricharam nos garçons? — indaguei estando certa de que aqueles sarados encantam mais a ela que a mim... —  Ariane? —  chamei outra vez olhando por todos os lados e buscando-a, sem me dar conta de que ali ela já não mais estava. 

Ela realmente não perdeu tempo. Quando acreditei que minha "acompanhante" estava ao meu lado, na verdade ela já estava conversando com um garoto de smolking preto. Um dos vários na verdade, já que todos os garotos ali, com exceção dos garçons, usavam smolking escuro. Foquei melhor minha visão e me dei conta de que o garoto em questão era ninguém menos que Arthur. Ariane realmente não tem noção do perigo. Sorte dela Lara não estar por perto, pois se conheço bem aquela ruiva, ela não ia gostar muito de ver o namoradinho conversando com uma outra garota com tanto entusiasmo. E falando nisso, onde afinal ela deve estar? Por certo terminando de se vestir, ser o centro das atenções costuma ter seus ônus. Nem sei o porquê topei vim nesta festa de granfinos. É obvio que esse ambiente não é para mim. Só topei embarcar nisso porque quero convence-la a voltar para a droga do seu cargo de estagiária e ganhar minha bonificação no fim do mês. Só isso. Ela não passa de uma galinha dos ovos de ouro para mim e fim. Vou embora no exato momento em que convence-la. Não posso me enganar achando que meu lugar é junto desses riquinhos-mimados. Aposto que esses alunos devem ser tão egocêntricos quanto ela. Em um minuto atrás não tinha quase ninguém, e em um piscar do olhos o salão está empestado de filhinhos-de-papai? 

 — Olha só quem resolveu vir... —  alguém disse sobre meu ombro e reconheci bem a voz. Virei-me e comprovei, era Eduarda ao lado de sua esposa. A moça ao seu lado era tão angelical, tão fina, tão exuberante. Ela sabia mesmo escolher. Eu sempre ouvi falar sobre a existência de sua esposa pelos corredores da redação do jornal, mas nunca imaginei que se tratasse de um par tão lindo. 

— Sim, eu resolvi. — afirmei sem dar muitos detalhes. Ela sorriu e me cumprimentou formalmente, apresentando-me como sua estagiária para a sua esposa e vice-versa.

Não trocamos muitas palavras antes que ela e sua esposa partisse, mas pelo olhar confiante que ela lançou, entendi que ela estava realmente apostando suas fichas em mim.

Kiara

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Após tanto tempo, voltar naquela casa me trazia tantas lembranças. O gosto da adolescência ao lado de Lara ainda aguçava meu paladar. Ás vezes que caímos juntas na piscina e gargalhamos como se fôssemos invencíveis e inseparáveis. Ás vezes que corremos pelos cômodos desta mansão nas travessuras do pique-esconde. Ás vezes que juramos que nossa amizade seria para sempre. Eu não deveria ter vindo. Eu não deveria estar aqui. Isso que estou fazendo é masoquismo. Ela me odeia. Ela acredita que eu a odeio. Por que afinal aceitei o convite de vir? 

— Kiara, que bom que você veio... — Melissa disse me surpreendendo. Ela era sempre tão amável comigo que isso até me fazia sentir mal. — Estou feliz em te ver. Já faz tanto tempo desde a última vez que esteve em minha casa. Mas que bom que estás aqui, querida! — ela disse me envolvendo em um abraço. E eu quase não consegui formular uma frase em minha cabeça...

— E o tempo só lhe faz bem. A senhora está cada dia está mais linda! — um elogio para fugir do assunto sobre "o porquê me afastei" foi tudo que consegui. 

— Quando o assunto é beleza, você é a campeã. Fique a vontade, Kiara. Qualquer coisa, estarei por aqui, é só chamar. — ela disse com sorriso receptivo e um olhar realmente protetor. Acho que Melissa realmente se importava com o fim da minha amizade com sua filha. E isso só pesava ainda mais na minha consciência.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora