38 - O retorno

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Lara

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A última conversa com Arthur estava me deixando sufocada. Eu não me sentia bem por tê-lo magoado, mas eu preciso descobrir o que está acontecendo comigo, para só então tentar estabelecer uma conversa; não quero voltar a magoa-lo. Já faz dias desde que rompemos da pior forma. Bom, nem sei se posso chamar de um rompimento, já que nem um de nós deu um ponto final de forma verbalizada, mas o fato é que por orgulho, ele não liga, não me procura, e eu, bem, por não saber em exato como agir, prefiro deixar as coisas assim até descobrir sobre o que fazer.

Eu queria estar com a cabeça mais focada, afinal é o grande dia de volta ao jornal, mas tudo que consigo pensar é no que Kiara fez e no resultado que gerou na minha relação. O peso de ter machucado Arthur ainda me ronda. No entanto, apesar de todos os problemas, meu coração ainda consegue o grande feito de bater mais forte com a idéia de voltar a ver Catarina Vidonni. É incrível como mesmo apesar das circunstâncias, eu ainda consigo sentir nostalgia pela idéia de reencontra-la na redação.

Catarina

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A notícia sobre o retorno de Lara para o jornal havia me tirado o sono na noite passada. Uma ansiedade me tomou completamente ao ponto de rolar na cama e não conseguir dormir. E quanto mais os minutos passam e se aproxima o momento, mais ansioso meu coração bate. Como pode ser isso? Que droga de sensação é essa? Como sua presença consegue ter tanto poder sobre mim?

O dia estava claro lá fora. Olhei pela janela e vi o sol brilhar radiante para mim. Eu madruguei na redação e consegui chegar bem antes do meu real horário - isso é para que saibam que quando falei de ansiedade, eu não estava brincando-. Olhei meu relógio e comprovei que ainda me restavam alguns minutos antes de começar o dia de trabalho; resolvi descer até o coffee e comprar qualquer coisa que calasse meu estômago naquela manhã. Por sorte a cafeteria não estava tão movimentada naquela manhã.

— Bom dia! Um café duplo, com creme e raspas de chocolate, por favor. — pedi com pressa, encarando a atendente que parecia bem insatisfeita com seu trabalho. Aquele era um rosto estranho. Eu não lembro de já tê-la visto por ali; ao menos não que eu lembre.

— Nome para o pedido? — ela disse sem nem ao menos retribuir meu bom dia. Achei que o requisito básico para ser uma atendente era ser no mínimo cortês.

— Catarina Vidonni. — falei retirando o sorriso do meu rosto e retribuindo a falta de cortesia com a qual ela me tratou.

Uma garota de olhos marcados pelo cansaço, cabelo escuro, sem definição de corte, desprovido de qualquer hidratação. O estilo Patati Patatá me fazia estranhar o gorro amarelo na cabeça, pois só deixava à aparência dela ainda mais desleixada. 

Após alguns segundos de espera e observações, peguei meu pedido acompanhado de algumas rosquinhas e sentei-me em uma das mesas que oferecia a visão mais periférica para a rua. Peguei meu livro "Linha Tênue" e passei a degustar a leitura sentindo o gosto do delicioso café quente.

Lara

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Catarina nunca se atrasa, porque justo hoje afinal? Estou louca para vê-la e os minutos que antecedem isso são de extrema tortura. Nem mesmo Eduarda sabe indícios seus, digo porque foi a primeira coisa que fiz desde que cheguei, fui até minha mãe para me certificar que eu teria meu antigo posto de volta. Por mais incrível que pareça, eu quero continuar sendo uma estagiaria, desde que seja de Catarina. Passei na sala de Catarina e notei que sua bolsa estava lá, então certamente ela estaria por algum lugar daquela redação.

Cansada o bastante de procurar nos corredores do prédio, lembrei que somente um lugar pelas redondezas eu não havia vasculhado: a cafeteria da esquina.

E como previ, ela estava lá...

Como sempre,tomando seu café quente acompanhada de seus pensamentos presos ao livro em suas mãos. Nada parecia tirar seu pensamento daquilo. Seus olhos passeavam pelas palavras escritas e por alguns segundos eu me sentia espectadora de uma beleza que irradiava o ambiente. Como um dia deixe essa beleza passar tão desapercebida?

Seu cabelos curtos e ondulados espalhados por seus ombros ajudavam a realçar a sua face branca. Seus lábios carnudos pareciam minuciosamente bem desenhados, como tudo nela, desde seu corpo e suas roupas, ao ambiente em que estava. A cena parecia uma obra de arte bem retratada. E ela a personagem principal de uma história nunca contada.

A cafeteria decorada de um modo a preservar o estilo pitoresco, rústico, compunha o ambiente que sempre lhe proporcionava certa nostalgia e, ao mesmo tempo, uma sensação de acolhimento, onde podia deixar seu pensamento vaguear livremente. Exatamente por isso, mesmo tentando manter a concentração na leitura do livro repousado em seu colo e no sabor agradável do café quentinho dentro da xícara que segurava com as duas mãos, os cochichos, risos e gestos apaixonados de um casal sentado atrás de si roubaram a atenção dela e, mais do que isso, conduziram-na a um absorto de admiração, notei pelo olhar que depositou, sem que ao menos me visse ali, como telespectadora de um cenário tão dela.

Eu sei, é errado pensar tanto em alguém que não é meu. Eu sei que não deveria desejar que o seu olhar apaixonado na verdade estivessem voltados a mim. Eu sei e eu tentei evitar, eu juro. Eu tentei não pensar, eu tentei não sentir, eu tentei me afastar, mas é como se, de alguma forma, o destino me arrastasse em sua direção novamente. E eu não tenho mais forças para continuar me recusando a enxergar o óbvio.

Catarina

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— Catarina? – ouvi uma voz aveludada proferir meu nome. E aquela voz eu reconheci no exato momento em que as sílabas ecoaram em meus ouvidos. Virei-me sentindo meu coração quase saltar da caixa torácica. — Não era você quem sempre reclamava das minhas pausas para o café no horário do serviço? Lembre-se que a chefe tem sempre que dar bons exemplos, para que seus liderados siga. — ela disse sorrindo divertidamente.

— Chefe? Então é verdade, você e eu vamos voltar a trabalhar juntas? - eu disse com uma felicidade completamente exposta em cada covinha do meu sorriso.

— Isso se você me aceitar de volta... —  como ela poderia ter alguma dúvida? Tê-la de volta era tudo que eu mais queria. E nesses momentos eu agradeço ao céus por Lara não ter o dom ler pensamentos. Finalmente minha espera por vê-la novamente havia findado.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora