43 - Um café amargo

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Lara

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Sai daquele banheiro completamente desnorteada, buscando entender sem êxito toda a situação. Mas acho que a explicação já estava óbvia o suficiente, Catarina não queria nada comigo e eu não posso obriga-la a tentar. E além disso, não sou mulher de rastejar aos pés de ninguém.

Saindo daquele cenário que me prendia a cena de outrora, fui me encaminhando para longe da redação. Eu não estava pronta para encarar Catarina novamente; ao menos não hoje. Eu desci o prédio e fui até o café da esquina. Foi o único lugar que me pareceu um bom refúgio para esquecer ou ao menos amenizar o impacto do que houve.

Clarice ainda estava nos limites do le coffee, e notei por sua expressão que ela estava surpresa com meu retorno tão rápido. Ela notou que eu não estava com o meu melhor humor e se importou em me oferecer um café.

O movimento estava tranquilo, poucos nos espaços do Lee coffee e aquele certamente não era o horário de pico. Pedi um duplo bem forte e sem açúcar. Hoje eu queria um café com gosto de vida: amargo.

- Isso é café, não whisky. Não foi feito para afogar as mágoas e te fazer esquecer. É melhor alguém que escute seu desabafo... O melhor é desabafar que deixar isso te consumir. O café fica por conta da casa é o ombro amigo também. - ela disse me confortando e eu apenas consegui sorrir, enquanto nós estávamos em uma mesa pouco central.

Eu desabafei todas as minhas mágoas, dores e sentimentos. Falei do que sentia por Catarina e do modo como tudo parecia superficial para ela. Falei principalmente que o jornal não era algo que eu gostava, mas que para ficar perto dela eu estava ali, e em um conselho sabia Clarice me aconselhou a falar com minha mãe e pedir autorização para ir pra casa, até que eu conseguisse colocar a cabeça em ordem e decidir o que fazer. Como minha mãe, ela me entenderia - ou ao menos eu precisava acreditar nisso-. Acatando ao seu conselho, sem pensar muito a respeito, tomei o último gole do líquido amargo que estava na xícara e me despedi de Clarice com um abraço forte. Colo de mãe, era tudo que eu estava precisando agora.

Catarina

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Eu não devia ter feito o que fiz. Eu não deveria aceitado nada para tê-lade volta. Eu queria mais que ninguém que ela voltasse, e agora sou a razão dela não estar aqui? Onde ela foi? Será que desistiu de seu retorno às funções? Estou me sentindo tão mal por tê-la ferido. Estou ainda mais mal por me deixar dominar pela covardia. Vou agora mesmo tentar reverter a confusão que me meti: falarei com Eduarda e serei firme, direi que foi um erro o que ela fez, pois é graças a ela que não estou conseguindo ficar com minha consciência tranquila. Como ela pode dizer que torce por mim e sua filha e nos dá o único motivo que nos afasta? Quanta contradição!

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora