Catarina
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A redação deste jornal sempre foi meu lar, minha casa, meu oxigênio... No entanto, desde que Lara se foi, algo parece fora do lugar por aqui. Fazer os relatórios sem ouvir as queixas dela dizendo o quanto é chato usar tantos termos técnicos, parece tão vago. Organizar as matérias e não ouvi-la reclamar do quanto o mundo da moda é superficial, soa mais vago ainda. Com quem vou brigar quando o estresse bater e quem vai colocar os fones no último volume pra me ignorar? Será possível que eu esteja sentindo saudades daquela idiota? Será isso? Não, claro que não! Talvez eu esteja me sentindo culpada por tudo que houve, apenas isso. Ela não foi a única que errou, eu fiquei naquele café porque queria tanto quanto ela estar ali. Eu me senti bem ouvindo-a, conhecendo-a, enxergando que ela era muito mais que só uma "garota mimada". Não é saudade isso que estou sentindo. Claro que não é. Nós nem nos dávamos bem. É culpa, só isso: c-u-l-p-a.
Mas o fato é que eu não posso continuar me corroendo com essa sensação de culpa. Eduarda precisa saber de uma vez por todas que foi injusta. Eu me recuso a passar mais uma noite acordada pensando no quanto eu errei em não ter assumido as consequências ao lado de Lara. Eu fui covarde e não posso ignorar isso. Não quis arriscar meu estagio, levando em conta o quanto foi difícil chegar até aqui. Mas me recuso a fazer Lara de escada. Se Eduarda vai penalizar uma, então que faça com as duas, ou do contrario, não faça com nenhuma de nós.
Respirando fundo, segui até a sala principal da redação, ensaiando na minha cabeça todas as possíveis falas do discurso para convence-la.
— Toc, toc, toc — bati na porta e senti um medo em forma de arrepio tomar minha espinha inteira.
— Entre. — a voz soou firme e imponente do outro lado.
— Perdoe-me por incomoda-la, senhora. Vim para lhe trazer esse cappuccino com creme, sei que é o seu favorito. Entre tantos dias de estresses seguidos, achei que um pouco de cafeina te daria mais energia para começar o dia no pique. — eu achei que seria interessante amansar a fera antes do ataque. E por isso passei antes na cafeteria. Uma tacada de mestre, eu sei.
— Obrigada, senhorita Vidonni. — ela disse recebendo o copo... — Mas sabe? Me custa acreditar que veio até aqui para me trazer um café sem que eu solicitasse. Sou uma mulher ocupada demais, então vamos agilizar isso? Me diga realmente o que desejas. — ela era sempre tão imponente.
— Vim para dizer que cometeu um equivoco em relação a Lara. Eu sou a última pessoa que sairia em defesa dela, se ela realmente não merecesse. A senhora sabe que Lara Vasconcelos e eu nunca fomos próximas, muito menos amigas, mas ela estava se esforçando e dando seu melhor por aqui. Estava criando responsabilidades e se interessando por assuntos que no inicio rotulava superficiais. Eu sei disso porque eu mais que ninguém acompanhei seus avanços diariamente. Sei que Elisa achou um desrespeito ela ter violado uma ordem para ir no Lè coffee no meio do expediente, mas tente entender que é uma rotina nova para uma garota que até pouco tempo atrás estava acostumada com uma vida sem responsabilidade, com uma rotina baseada entre ir para a escola, shopping e dormir. Com todo respeito senhora, peço que reconsidere sua decisão. — eu estava nervosa e não sabia ao certo o que Eduarda pensaria. E se ela me achasse petulante demais por contestar sua decisão? Afinal Lara era sua filha e não uma estagiaria qualquer.
— Achei que você mais que ninguém ficaria feliz com o afastamento dela. — ela me olhou como se quisesse dizer muito mais do que só aquelas palavras.
— Sou profissional. Não posso levar em conta minhas intrigas com Lara e esquecer seus avanços. — falei sem nem ao menos repensar. — Bom, senhora... Isso era tudo que eu tinha a dizer, espero que pense melhor e que reconsidere. Desculpe tê-la incomodado, mas eu realmente precisava. Com sua licença... — falei saindo de sua sala, fechando a porta, enquanto deixava para trás uma Eduarda pensativa.
Quando finalmente sai daquela sala, o ar voltou a percorrer meus pulmões e minha respiração voltou a ser leve. Não que Eduarda seja uma chefe megera, mas a simples pressão de estar diante da chefe-administrativa-vulgo-melhor-jornalista indo conta sua decisão e contestando-a, não é algo que seja fácil de fazer. Mas bom, espero que ao menos no fim das contas seja valida a minha ação e ela entenda que a expulsão de Lara foi um erro.
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L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]
RomanceAlguém lembra da bebezinha deste conto? Pois é, ela cresceu. O tempo passa rápido e não há tempo para cruzar os braços e esperar as horas passar, ele é tão veloz quando o piscar das suas pálpebras. Quarta temporada do romance lésbico - CLARA E DUDA.